REZAR A PAIXÃO

NOTA INTRODUTÓRIA

Rezar a Paixão. Porquê? O cristão nasce do Sangue de Jesus, que brotou da sua Paixão. No Batismo, ele morre para o pecado e ressuscita com Cristo para uma vida nova, purificado pelo Sangue do Cordeiro. Neste sentido, o seu primeiro dever é voltar-se para um tão sublime acontecimento, um tão grande mistério do amor de Deus e meditar nele, a fim de o poder viver; no entanto, esta realidade está esquecida da maior parte dos batizados.

Um simples olhar sobre a humanidade, por muito desatento e superficial que seja, mostra-nos uma realidade premente e terrível: o mal está presente em sucessivos acontecimentos provocados pelos próprios homens, com consquências devastadoras. 

Face a este quadro que se manifesta de múltiplas formas no mundo, o homem afligido e desconcertado, pergunta-se: "porquê?". São João Paulo II apontou a resposta e a solução: "Deus não respondeu a esta pergunta angustiante que surge do escândalo que o mal provoca, com uma explicação de princípios, como querendo justificar-Se, mas com o sacrifício do seu próprio Filho na Cruz. Na morte de Jesus encontra-se o aparente triunfo do mal e a vitória definitiva do bem". Assim, "Cristo na Cruz, prossegue o Santo Padre, é a resposta de Deus a esta perplexidade humana, porque n´Ele o bem triunfa sempre sobre o mal". Cristo é Vencedor, e venceu pela Cruz, mas o preço da vitória foi o derramamento do seu Sangue, foi a Paixão. Por isso, todos quantos quiserem associar-se à sua vitória - Ressurreição - terão de seguir o caminho da cruz, entregando-se ao Pai e unindo-se à morte de Cristo através dum testemunho de entrega e de vida na graça.

O mal é consequência do pecado, e "p rosto desfigurado de Cristo pela Paixão - como ensinou São João Paulo II - é o preço que o amor de Deus teve de pagar pela gravidade dos pecados dos homens". Ele "carregou os nossos pecados sobre a Cruz, para que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça. Pelas suas chagas fomos curados" (1 Pe 2,24)

Cristo, como afirmou São João Paulo II, "empreendeu o caminho espinhoso da Paixão, sem Se opor à injustiça e à violência; sem recreminações nem desabafos, mas entregando-Se a si mesmo e pondo a sua vicissitude nas mãos d ´Aquele que julga com justiça", não com uma "cega e passiva resignação, mas com uma confiança valente, destinada a ser exemplo para todos os discípulos que percorrerão o caminho escuro da prova e da perseguição". Assim, Ele pode estar ao "nosso lado, compartilhar a nossa dor, carregar o nosso mal" e porque Jesus Cristo é o Filho de Deus, é capaz de retirar a nossa pobre humanidade dos "caminhos desviados e perversos do mal" e reconduzi-la ao "maravilhoso projeto de Deus".

Palavras que nos ajudam a compreender a importância e urgência da meditação e oração da Paixão de Cristo como remédio para os males que afligem atualmente a humanidade. 

A 14 de Junho de 1981, Nossa Senhora veio dizer-nos em Prado Novo do Escorial, perto de Madrid, repetindo-o dezenas de vezes: "Meditai na Paixão do meu Filho, que está completamente esquecida".

Meditar a Paixão de Cristo é o caminho para a viver, e vivê-la é o caminho que leva à perfeição, tal como revela o Livro do Apocalipse: "Eles venceram o Dragão pelo Sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram, pois diante da morte desprezaram a própria vida". (12, 11)

Rezar a Paixão é um meio eficaz e infalível para crescer no amor de Deus e, assim, vencer o mal pelo bem. 

Que Nossa Senhora das Dores, que ao pé da Cruz se tornou Mãe e Corredentora da humanidade ao viver a Paixão em plena e íntima união com o seu Filho, nos ensine a rezar a Paixão de Jesus Cristo no dia-a-dia da nossa existência, ajudando-nos a acolher com amor e humildade a cruz que o Senhor nos oferece como meio de salvação e de graça.