1. UMA CURA MILAGROSA

1. UMA CURA MILAGROSA
Pede-me ainda, o Senhor Dr. Galamba, para escrever alguma
graça mais que tenha sido alcançada por meio da Jacinta. Pensei
um pouco e lembro-me de duas apenas.
A primeira vez que a boa Senhora Emília, de quem falo no
segundo escrito sobre a Jacinta, me foi buscar, para me levar ao
Olival, a casa do Senhor Vigário, a Jacinta foi comigo. Quando
chegámos à aldeia onde vivia essa boa viúva, era noite. Apesar
disso, a notícia da nossa chegada não tardou a divulgar-se e a
casa da Senhora Emília achou-se logo cercada de inúmeras pessoas. Queriam ver-nos, interrogar-nos, pedir graças, etc.
Havia aí uma piedosa mulher que costumava rezar em sua
casa o terço, com as pessoas da pequena aldeia que se queriam
juntar a ela. Veio, pois, pedir para lá irmos a sua casa rezar o terço.
Quisemos escusar-nos, dizendo que o rezávamos com a Senhora
Emília, mas as instâncias foram tantas que não houve outro remé-
(19) Lúcia não afirmou categoricamente que a guerra terminaria no mesmo dia; foi
induzida a isso pelas muitas e insistentes perguntas que lhe faziam.
dio senão ceder. À notícia de que íamos, o povo correu em massa
para a casa da boa mulher, com o fim de apanhar lugar; e ainda
bem que assim nos deixaram o caminho mais livre. Quando íamos
a caminho, saiu-nos ao encontro uma rapariga, talvez dos seus
vinte anos, a chorar. Prostra-se de joelhos e pede para entrarmos
em sua casa a rezar sequer uma Ave-Maria pelas melhoras de seu
pai, que havia mais de três anos não podia descansar, com um
contínuo soluço.
Impossível resistir a umas cenas destas. Ajudei a pobre
rapariga a levantar-se; e, como a noite era já bastante adiantada
(caminhávamos à luz dumas lanternas), disse à Jacinta que ficasse
ela ali, enquanto eu ia rezar o terço com o povo, que na volta a
chamava. Ela aceitou. Quando voltei, entrei também nessa casa.
Encontrei a Jacinta sentada numa cadeira, em frente dum homem
também sentado, de aspecto não muito velho, mas mirrado, e a
chorar de comoção. Rodeavam-no algumas pessoas mais, que julgo
serem da família. Ao ver-me, levantou-se, despediu-se prometendo
não o esquecer nas suas orações, e lá viemos para a casa da
Senhora Emília.
No dia seguinte, saímos de manhãzinha cedo para o Olival, e
voltámos só passados uns três dias. Ao chegar a casa da Senhora
Emília, lá nos apareceu a ditosa rapariga, acompanhada já de seu
pai, de aspecto bastante melhor, sem aquela aparência de tanto
nervosismo e de tão extremada fraqueza. Vinham agradecer a graça
recebida, porque, diziam, não tinha tornado mais a sentir o importuno soluço. Todas as vezes que ainda por aí passei, sempre essa
boa família me vinha mostrar o seu agradecimento, dizendo que
estava completamente curado, que não tinha sentido mais o menor assomo de soluços.
Pede-me ainda, o Senhor Dr. Galamba, para escrever alguma
graça mais que tenha sido alcançada por meio da Jacinta. Pensei
um pouco e lembro-me de duas apenas.
A primeira vez que a boa Senhora Emília, de quem falo no
segundo escrito sobre a Jacinta, me foi buscar, para me levar ao
Olival, a casa do Senhor Vigário, a Jacinta foi comigo. Quando
chegámos à aldeia onde vivia essa boa viúva, era noite. Apesar
disso, a notícia da nossa chegada não tardou a divulgar-se e a
casa da Senhora Emília achou-se logo cercada de inúmeras pessoas. Queriam ver-nos, interrogar-nos, pedir graças, etc.
Havia aí uma piedosa mulher que costumava rezar em sua
casa o terço, com as pessoas da pequena aldeia que se queriam
juntar a ela. Veio, pois, pedir para lá irmos a sua casa rezar o terço.
Quisemos escusar-nos, dizendo que o rezávamos com a Senhora
Emília, mas as instâncias foram tantas que não houve outro remé-
dio senão ceder. À notícia de que íamos, o povo correu em massa
para a casa da boa mulher, com o fim de apanhar lugar; e ainda
bem que assim nos deixaram o caminho mais livre. Quando íamos
a caminho, saiu-nos ao encontro uma rapariga, talvez dos seus
vinte anos, a chorar. Prostra-se de joelhos e pede para entrarmos
em sua casa a rezar sequer uma Ave-Maria pelas melhoras de seu
pai, que havia mais de três anos não podia descansar, com um
contínuo soluço.
Impossível resistir a umas cenas destas. Ajudei a pobre
rapariga a levantar-se; e, como a noite era já bastante adiantada
(caminhávamos à luz dumas lanternas), disse à Jacinta que ficasse
ela ali, enquanto eu ia rezar o terço com o povo, que na volta a
chamava. Ela aceitou. Quando voltei, entrei também nessa casa.
Encontrei a Jacinta sentada numa cadeira, em frente dum homem
também sentado, de aspecto não muito velho, mas mirrado, e a
chorar de comoção. Rodeavam-no algumas pessoas mais, que julgo
serem da família. Ao ver-me, levantou-se, despediu-se prometendo
não o esquecer nas suas orações, e lá viemos para a casa da
Senhora Emília.
No dia seguinte, saímos de manhãzinha cedo para o Olival, e
voltámos só passados uns três dias. Ao chegar a casa da Senhora
Emília, lá nos apareceu a ditosa rapariga, acompanhada já de seu
pai, de aspecto bastante melhor, sem aquela aparência de tanto
nervosismo e de tão extremada fraqueza. Vinham agradecer a graça
recebida, porque, diziam, não tinha tornado mais a sentir o importuno soluço. Todas as vezes que ainda por aí passei, sempre essa
boa família me vinha mostrar o seu agradecimento, dizendo que
estava completamente curado, que não tinha sentido mais o menor assomo de soluços.