11. NA CADEIA DE OURÉM

11. NA CADEIA DE OURÉM
Entretanto, amanhecia o dia 13 de Agosto. O povo chegava
de todos os sítios, desde a véspera. Todos queriam ver-nos,
interrogar-nos e fazer-nos os seus pedidos, para que os transmitissemos à Santíssima Virgem. Éramos, nas mãos daquela gente,
como uma bola nas mãos da rapaziada. Cada um nos puxava para
seu lado e nos perguntava a sua coisa, sem dar-nos tempo de
responder a ninguém.
Em meio desta lida, aparece uma ordem do Sr. Administrador, para ir a casa de minha tia, que lá me esperava. Meu pai é o
intimado e lá me foi levar. Quando cheguei, estava ele em um quarto
com meus primos. Aí nos interrogou e fez novas tentativas para
nos obrigar a revelar o segredo e a prometer que não voltaríamos
à Cova de Iria. Como nada conseguiu, deu ordem a meu pai e meu
tio para nos levar a casa do Senhor Prior.
Tudo mais que nesta prisão se passou, não me detenho, agora, a contá-lo, porque V. Ex.cia Rev.ma já sabe tudo. Como já disse a
V. Ex.cia, o que nesta altura me foi mais sensível e que mais me fez
sofrer, assim como a meus primos, foi o abandono completo da
família.
À volta desta viagem ou prisão, que não sei como Ihe hei-de
chamar, que a meu ver foi no dia 15 de Agosto (21), como regozijo
da minha chegada a casa, mandaram-me imediatamente abrir o
meu rebanho e levá-lo a pastar. Meus tios quiseram ficar com os
seus filhinhos em casa e por isso mandaram, na sua vez, seu
irmão João. Como já era tarde, deixámo-nos ficar junto da nossa
pequena aldeia, nos Valinhos.
Como esta cena se passou, V. Ex.cia Rev.ma também já sabe e,
por isso, também me não demoro a descrevê-la. A Santíssima Virgem recomendou-nos, de novo, a prática da mortificação, dizendo,
no fim de tudo:
– Rezai, rezai muito, e fazei sacrifícios pelos pecadores, que
vão muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique
e peça por elas.
 
(21) Lúcia afirma aqui e também noutro lugar que a aparição nos Valinhos tinha
sido em 15 de Agosto, i.e., no dia do regresso de Vila Nova de Ourém. Trata-
-se dum erro: o dia de regresso foi, com certeza, o dia 15 de Agosto; mas a
aparição terá sido no domingo seguinte, em 19 de Agosto.
Entretanto, amanhecia o dia 13 de Agosto. O povo chegava
de todos os sítios, desde a véspera. Todos queriam ver-nos,
interrogar-nos e fazer-nos os seus pedidos, para que os transmitissemos à Santíssima Virgem. Éramos, nas mãos daquela gente,
como uma bola nas mãos da rapaziada. Cada um nos puxava para
seu lado e nos perguntava a sua coisa, sem dar-nos tempo de
responder a ninguém.
 
Em meio desta lida, aparece uma ordem do Sr. Administrador, para ir a casa de minha tia, que lá me esperava. Meu pai é o
intimado e lá me foi levar. Quando cheguei, estava ele em um quarto
com meus primos. Aí nos interrogou e fez novas tentativas para
nos obrigar a revelar o segredo e a prometer que não voltaríamos
à Cova de Iria. Como nada conseguiu, deu ordem a meu pai e meu
tio para nos levar a casa do Senhor Prior.
 
Tudo mais que nesta prisão se passou, não me detenho, agora, a contá-lo, porque V. Ex.cia Rev.ma já sabe tudo. Como já disse a
V. Ex.cia, o que nesta altura me foi mais sensível e que mais me fez
sofrer, assim como a meus primos, foi o abandono completo da
família.
 
À volta desta viagem ou prisão, que não sei como Ihe hei-de
chamar, que a meu ver foi no dia 15 de Agosto (21), como regozijo
da minha chegada a casa, mandaram-me imediatamente abrir o
meu rebanho e levá-lo a pastar. Meus tios quiseram ficar com os
seus filhinhos em casa e por isso mandaram, na sua vez, seu
irmão João. Como já era tarde, deixámo-nos ficar junto da nossa
pequena aldeia, nos Valinhos.
 
Como esta cena se passou, V. Ex.cia Rev.ma também já sabe e,
por isso, também me não demoro a descrevê-la. A Santíssima Virgem recomendou-nos, de novo, a prática da mortificação, dizendo,
no fim de tudo:
– Rezai, rezai muito, e fazei sacrifícios pelos pecadores, que
vão muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique
e peça por elas.
 
(21) Lúcia afirma aqui e também noutro lugar que a aparição nos Valinhos tinha
sido em 15 de Agosto, i.e., no dia do regresso de Vila Nova de Ourém. Trata-
-se dum erro: o dia de regresso foi, com certeza, o dia 15 de Agosto; mas a
aparição terá sido no domingo seguinte, em 19 de Agosto.