13. VISÃO DO DEMÓNIO

13. VISÃO DO DEMÓNIO
Bem diferente é um facto que agora me está a lembrar. Andávamos, um dia, num sítio chamado a Pedreira e, enquanto as ovelhas pastavam, saltávamos de penedo em penedo, fazendo ecoar
a voz no fundo desses grandes barrancos. O Francisco, como era
seu costume, retirou-se lá para a concavidade dum penedo. Passado um bom bocado, ouvimo-lo gritar e chamar por nós e por
Nossa Senhora. Aflitas pelo que Ihe teria acontecido, começamos
a procurá-lo, chamando por ele.
– Onde estás?
– Aqui! Aqui!
Mas ainda nos levou tempo a encontrá-lo. Por fim, lá demos
com ele, a tremer de medo, ainda de joelhos, que, aflito, nem arte
tinha para se pôr de pé.
– Que tens? Que foi?
Com a voz meia sufocada pelo susto, lá disse:
– Era um daqueles bichos grandes, que estavam no inferno,
que estava aqui a deitar lume.
Não vi nada, nem a Jacinta, por isso ri-me e disse-lhe:
– Tu não queres nunca pensar no inferno, para não teres medo,
e agora foste o primeiro a tê-lo!?
Ele, quando a Jacinta se mostrava mais impressionada com a
lembrança do inferno, costumava dizer-lhe:
– Não penses tanto no inferno! Pensa antes em Nosso Senhor
e Nossa Senhora. Eu não penso nele, para não ter medo.
E não mostrava ser nada medroso. Ia de noite, sozinho, a qualquer sítio escuro, sem mostrar dificuldade. Brincava com os lagartos e cobras que encontrava; fazia-as enrolar-se à volta dum pau;
deitava-lhes, nas covas das pedras, leite das ovelhas, para que o
bebessem. Metia-se nas covas, à procura das louras das raposas,
dos coelhos e ginetes, etc.
Bem diferente é um facto que agora me está a lembrar. Andávamos, um dia, num sítio chamado a Pedreira e, enquanto as ovelhas pastavam, saltávamos de penedo em penedo, fazendo ecoar
a voz no fundo desses grandes barrancos. O Francisco, como era
seu costume, retirou-se lá para a concavidade dum penedo. Passado um bom bocado, ouvimo-lo gritar e chamar por nós e por
Nossa Senhora. Aflitas pelo que Ihe teria acontecido, começamos
a procurá-lo, chamando por ele.
– Onde estás?
– Aqui! Aqui!
Mas ainda nos levou tempo a encontrá-lo. Por fim, lá demos
com ele, a tremer de medo, ainda de joelhos, que, aflito, nem arte
tinha para se pôr de pé.
– Que tens? Que foi?
Com a voz meia sufocada pelo susto, lá disse:
– Era um daqueles bichos grandes, que estavam no inferno,
que estava aqui a deitar lume.
Não vi nada, nem a Jacinta, por isso ri-me e disse-lhe:
– Tu não queres nunca pensar no inferno, para não teres medo,
e agora foste o primeiro a tê-lo!?
Ele, quando a Jacinta se mostrava mais impressionada com a
lembrança do inferno, costumava dizer-lhe:
– Não penses tanto no inferno! Pensa antes em Nosso Senhor
e Nossa Senhora. Eu não penso nele, para não ter medo.
E não mostrava ser nada medroso. Ia de noite, sozinho, a qualquer sítio escuro, sem mostrar dificuldade. Brincava com os lagartos e cobras que encontrava; fazia-as enrolar-se à volta dum pau;
deitava-lhes, nas covas das pedras, leite das ovelhas, para que o
bebessem. Metia-se nas covas, à procura das louras das raposas,
dos coelhos e ginetes, etc.