16. FRANCISCO ADOECE

16. FRANCISCO ADOECE
Na doença, o Francisco mostrou-se sempre alegre e contente.
Às vezes, perguntava-lhe:
– Sofres muito, Francisco?
– Bastante; mas não importa. Sofro para consolar a Nosso
Senhor; e depois, daqui a pouco, vou para o Céu!
– Lá, não te esqueças de pedir a Nossa Senhora que me leve
para lá também depressa.
– Isso não peço! Tu bem sabes que Ela não te quer lá ainda.
Nas vésperas de morrer, disse-me:
– Olha: estou muito mal; já me falta pouco para ir para o Céu.
– Então vê lá: não te esqueças de lá pedir muito por os pecadores, por o Santo Padre, por mim e pela Jacinta.
– Sim, eu peço. Mas olha: essas coisas pede-as à Jacinta,
que eu tenho medo de me esquecer, quando vir a Nosso Senhor! E
depois antes O quero consolar.
Um dia de madrugada, cedo, sua irmã Teresa vai chamar-me:
– Vem cá depressa. O Francisco está muito mal e diz que te
quer dizer uma coisa!
Vesti-me à pressa e lá fui. Pediu à mãe e irmãos que saíssem do
quarto, que era segredo o que me queria. Saíram e ele disse-me:
– É que me vou a confessar para comungar e morrer depois.
Queria que me dissesses se me viste fazer algum pecado e que
fosses perguntar à Jacinta se me viu ela fazer algum.
– Desobedeceste algumas vezes a tua mãe, – lhe respondi –
quando ela te dizia que te deixasses estar em casa e tu te escapavas para o pé de mim e para te ires esconder.
– É verdade! tenho esse. Agora vai perguntar à Jacinta se ela
se lembra de mais algum.
Lá fui, e a Jacinta, depois de pensar um pouco, respondeu-me:
– Olha: diz-lhe que, ainda antes de Nossa Senhora nos aparecer, roubou um tostão ao pai, para comprar o realejo ao José Marto, da Casa Velha; e que, quando os rapazes de Aljustrel atiraram
pedras aos de Boleiros, ele também atirou algumas.
Quando lhe dei este recado da Irmã, respondeu:
– Esses já os confessei, mas torno a confessá-los. Se calhar,
é por causa destes pecados que eu fiz que Nosso Senhor está tão
triste! Mas eu, ainda que não morresse, nunca mais os tornava a
fazer. Agora estou arrependido.
E pondo as mãos, rezou a oração:
– Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai
as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.
Olha: pede tu também a Nosso Senhor que me perdoe os meus
pecados.
– Peço, sim; está descansado. Se Nosso Senhor tos não tivesse já perdoado, não dizia Nossa Senhora, ainda outro dia, à
Jacinta, que te vinha buscar muito em breve para o Céu. Agora, eu
vou à Missa e lá peço a Jesus escondido por ti.
– Olha: pede-Lhe para o Senhor Prior me dar a Sagrada Comunhão.
– Pois sim.
Quando voltei da Igreja, já a Jacinta se tinha levantado e estava sentada na sua cama. Logo que me viu, perguntou-me:
– Pediste a Jesus escondido para o Senhor Prior me dar a
Sagrada Comunhão?
– Pedi.
– Depois, no Céu, peço eu por ti.
– Pedes?! Ainda outro dia disseste que não pedias!
– Isso era para te levar para lá breve; mas, se tu queres, eu
peço, e depois Nossa Senhora faz como quiser.
– Pois quero; tu, pede.
– Pois sim; fica descansada, que eu peço.
Deixei-os ficar e fui para as minhas ocupações diárias de tra-
 
balho e escola. Quando voltei, à noitinha, estava já radiante de
alegria.
Tinha-se confessado e o Senhor Prior tinha prometido trazer-lhe, no dia seguinte, a Sagrada Comunhão. Depois de comungar, no dia seguinte, dizia para a irmãzinha:
– Hoje sou mais feliz que tu, porque tenho dentro do meu peito
a Jesus escondido. Eu vou para o Céu; mas lá vou pedir muito a
Nosso Senhor e a Nossa Senhora que vos levem também para lá
depressa.
Este dia passei-o quase todo com a Jacinta, junto de sua cama.
Como já não podia rezar, pediu-nos que rezássemos nós o terço
por ele. Depois, disse-me:
– Decerto, no Céu, vou ter muitas saudades tuas! Quem dera
que Nossa Senhora te levasse também para lá breve!
– Não tens, não. Imagine-se! Ao pé de Nosso Senhor e de
Nossa Senhora que são tão bons!
– Pois é! Se calhar, nem me lembro.
E agora acrescento eu:
– Se calhar, nem mais se lembrou !!! Paciência! !!
Na doença, o Francisco mostrou-se sempre alegre e contente.
Às vezes, perguntava-lhe:
– Sofres muito, Francisco?
– Bastante; mas não importa. Sofro para consolar a Nosso
Senhor; e depois, daqui a pouco, vou para o Céu!
– Lá, não te esqueças de pedir a Nossa Senhora que me leve
para lá também depressa.
– Isso não peço! Tu bem sabes que Ela não te quer lá ainda.
Nas vésperas de morrer, disse-me:
– Olha: estou muito mal; já me falta pouco para ir para o Céu.
– Então vê lá: não te esqueças de lá pedir muito por os pecadores, por o Santo Padre, por mim e pela Jacinta.
– Sim, eu peço. Mas olha: essas coisas pede-as à Jacinta,
que eu tenho medo de me esquecer, quando vir a Nosso Senhor! E
depois antes O quero consolar.
Um dia de madrugada, cedo, sua irmã Teresa vai chamar-me:
– Vem cá depressa. O Francisco está muito mal e diz que te
quer dizer uma coisa!
Vesti-me à pressa e lá fui. Pediu à mãe e irmãos que saíssem do
quarto, que era segredo o que me queria. Saíram e ele disse-me:
– É que me vou a confessar para comungar e morrer depois.
Queria que me dissesses se me viste fazer algum pecado e que
fosses perguntar à Jacinta se me viu ela fazer algum.
– Desobedeceste algumas vezes a tua mãe, – lhe respondi –
quando ela te dizia que te deixasses estar em casa e tu te escapavas para o pé de mim e para te ires esconder.
– É verdade! tenho esse. Agora vai perguntar à Jacinta se ela
se lembra de mais algum.
Lá fui, e a Jacinta, depois de pensar um pouco, respondeu-me:
– Olha: diz-lhe que, ainda antes de Nossa Senhora nos aparecer, roubou um tostão ao pai, para comprar o realejo ao José Marto, da Casa Velha; e que, quando os rapazes de Aljustrel atiraram
pedras aos de Boleiros, ele também atirou algumas.
Quando lhe dei este recado da Irmã, respondeu:
– Esses já os confessei, mas torno a confessá-los. Se calhar,
é por causa destes pecados que eu fiz que Nosso Senhor está tão
triste! Mas eu, ainda que não morresse, nunca mais os tornava a
fazer. Agora estou arrependido.
E pondo as mãos, rezou a oração:
– Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai
as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.
Olha: pede tu também a Nosso Senhor que me perdoe os meus
pecados.
– Peço, sim; está descansado. Se Nosso Senhor tos não tivesse já perdoado, não dizia Nossa Senhora, ainda outro dia, à
Jacinta, que te vinha buscar muito em breve para o Céu. Agora, eu
vou à Missa e lá peço a Jesus escondido por ti.
– Olha: pede-Lhe para o Senhor Prior me dar a Sagrada Comunhão.
– Pois sim.
Quando voltei da Igreja, já a Jacinta se tinha levantado e estava sentada na sua cama. Logo que me viu, perguntou-me:
– Pediste a Jesus escondido para o Senhor Prior me dar a
Sagrada Comunhão?
– Pedi.
– Depois, no Céu, peço eu por ti.
– Pedes?! Ainda outro dia disseste que não pedias!
– Isso era para te levar para lá breve; mas, se tu queres, eu
peço, e depois Nossa Senhora faz como quiser.
– Pois quero; tu, pede.
– Pois sim; fica descansada, que eu peço.
Deixei-os ficar e fui para as minhas ocupações diárias de tra-
 
balho e escola. Quando voltei, à noitinha, estava já radiante de
alegria.
Tinha-se confessado e o Senhor Prior tinha prometido trazer-lhe, no dia seguinte, a Sagrada Comunhão. Depois de comungar, no dia seguinte, dizia para a irmãzinha:
– Hoje sou mais feliz que tu, porque tenho dentro do meu peito
a Jesus escondido. Eu vou para o Céu; mas lá vou pedir muito a
Nosso Senhor e a Nossa Senhora que vos levem também para lá
depressa.
Este dia passei-o quase todo com a Jacinta, junto de sua cama.
Como já não podia rezar, pediu-nos que rezássemos nós o terço
por ele. Depois, disse-me:
– Decerto, no Céu, vou ter muitas saudades tuas! Quem dera
que Nossa Senhora te levasse também para lá breve!
– Não tens, não. Imagine-se! Ao pé de Nosso Senhor e de
Nossa Senhora que são tão bons!
– Pois é! Se calhar, nem me lembro.
E agora acrescento eu:
– Se calhar, nem mais se lembrou !!! Paciência! !!