Antes de começar, quis abrir o Novo Testamento, único livro
que quero ter aqui diante de mim, a um retirado canto do sótão, à
luz duma pobre telha de vidro, para onde me retiro, para escapar,
quanto me seja possível, às vistas humanas. De mesa, serve-me o
regaço; de cadeira, uma velha mala.
– Por que – me dirá alguém – não escreve na sua cela?
O bom Deus achou por bem privar-me até de cela, apesar de
aqui em casa (1) haver bastantes e desocupadas. Na verdade, para
a realização de Seus desígnios, é mais a propósito a sala do recreio e trabalho, tanto mais incómoda para escrever alguma coisa
durante o dia, tanto demasiado boa para descansar durante a noite. Mas estou contente e agradeço a Deus a graça de ter nascido
pobre e de, por Seu amor, viver mais pobre ainda.
– Ai, meu Deus! Não era nada disto o que eu queria dizer!
Volto ao que Deus me deparou, ao abrir o Novo Testamento:
uma carta de S. Paulo aos Fil. 2, 5-8. Li assim: «Tende em vós os
mesmos sentimentos que houve em Jesus Cristo, O qual, existin-
(1) Escreve no Noviciado, em Tuy, no sótão.
do na forma de Deus..., Se aniquilou a Si mesmo, tomando a forma
de servo... Humilhou-se a Si mesmo, feito obediente até à morte».
Depois de reflectir um pouco, li ainda no mesmo cap. 5, 12 e 13:
«Trabalhai na vossa salvação com temor e tremor. Porque Deus é
O que opera em vós o querer e o executar, segundo o Seu beneplácito».
Está bem. Não preciso de mais: obediência e abandono em
Deus que é Quem opera em mim. Na verdade, não sou mais que o
pobre e miserável instrumento de que Ele se quer servir e que
dentro em pouco, como o pintor que arremessa ao lume o pincel
inutilizado, para que se reduza a cinzas, assim o Divino Pintor fará
reduzir às cinzas do túmulo o Seu inutilizado instrumento, até ao
grande dia das aleluias eternas. E eu desejo ardentemente este
dia, porque o túmulo não aniquila tudo, e a felicidade do amor eterno e infinito começa já (2).
Antes de começar, quis abrir o Novo Testamento, único livro
que quero ter aqui diante de mim, a um retirado canto do sótão, à
luz duma pobre telha de vidro, para onde me retiro, para escapar,
quanto me seja possível, às vistas humanas. De mesa, serve-me o
regaço; de cadeira, uma velha mala.
– Por que – me dirá alguém – não escreve na sua cela?
O bom Deus achou por bem privar-me até de cela, apesar de
aqui em casa (1) haver bastantes e desocupadas. Na verdade, para
a realização de Seus desígnios, é mais a propósito a sala do recreio e trabalho, tanto mais incómoda para escrever alguma coisa
durante o dia, tanto demasiado boa para descansar durante a noite. Mas estou contente e agradeço a Deus a graça de ter nascido
pobre e de, por Seu amor, viver mais pobre ainda.
– Ai, meu Deus! Não era nada disto o que eu queria dizer!
Volto ao que Deus me deparou, ao abrir o Novo Testamento:
uma carta de S. Paulo aos Fil. 2, 5-8. Li assim: «Tende em vós os
mesmos sentimentos que houve em Jesus Cristo, O qual, existin-
do na forma de Deus..., Se aniquilou a Si mesmo, tomando a forma
de servo... Humilhou-se a Si mesmo, feito obediente até à morte».
Depois de reflectir um pouco, li ainda no mesmo cap. 5, 12 e 13:
«Trabalhai na vossa salvação com temor e tremor. Porque Deus é
O que opera em vós o querer e o executar, segundo o Seu beneplácito».
Está bem. Não preciso de mais: obediência e abandono em
Deus que é Quem opera em mim. Na verdade, não sou mais que o
pobre e miserável instrumento de que Ele se quer servir e que
dentro em pouco, como o pintor que arremessa ao lume o pincel
inutilizado, para que se reduza a cinzas, assim o Divino Pintor fará
reduzir às cinzas do túmulo o Seu inutilizado instrumento, até ao
grande dia das aleluias eternas. E eu desejo ardentemente este
dia, porque o túmulo não aniquila tudo, e a felicidade do amor eterno e infinito começa já (2).
(1) Escreve no Noviciado, em Tuy, no sótão.