21- O DEMÓNIO SABE QUE DEUS É IMPECÁVEL?

Sabe-o perfeitamente, tão bem como o melhor dos teólogos, não tem a menor dúvida disso. Não obstante, quando o demónio tentou Deus feito homem, tratou de se autoconvencer de que talvez Deus não fosse assim tão bom como julgava. Talvez Deus fosse débil, talvez houvesse algum calcanhar de Aquiles na Divindade que o demónio desconhecesse.

Se conseguisse fazer cair em algo a Perfeição, a Perfeição desmoronar-se-ia. Conseguir que Deus pecasse parecia uma coisa impossível, mas havia que tentá-lo. Se conseguisse aviltar Deus, o demónio já não seria um pecador, pois o bem e o mal não existiriam. Bastava um só e único pecado venial da Santíssima Trindade para que a linha divisória entre bem e mal perdesse a sua precisão para sempre, para que pudesse afirmar que, na realidade, nunca tinha existido.

Porque a santidade de Deus era a garantia dessa divisão. Se Deus pecava uma só vez durante toda a eternidade, Deus já não seria Deus. Já não haveria garantia alguma dessa distinção, nem garantia, nem fundamento.

A própria inteligência do demónio dizia-lhe que tal empresa era impossível, mas o seu desejo levou-o a deformar os próprios pensamentos. Havia que tentar o impossível.