22- PODEM CHEGAR A DISTINGUIR-SE AS TENTAÇÕES QUE PROCEDEM DE NÓS DAS QUE PROCEDEM DO DEMÓNIO?

22- PODEM CHEGAR A DISTINGUIR-SE AS TENTAÇÕES QUE PROCEDEM DE NÓS DAS QUE PROCEDEM DO DEMÓNIO?
 
A tentação que provém do demónio não se distingue em nada dos nossos próprios pensamentos, já que o demónio tenta infundir em nós espécies inteligíveis. Ou seja, o demónio introduz na nossa inteligência, memória e imaginação objectos apropriados ao nosso entendimento que em nada se distinguem dos nossos pensamentos.
Uma espécie inteligível é precisamente isso, o que há no nosso pensamento quando exercitamos a acção de pensar. Conceber a imagem de uma árvore, resolver uma acção matemática, desenvolver um raciocínio lógico, compor uma frase, tudo isso são espécies inteligíveis. Produzimo-las no interior do nosso espírito racional, mas um anjo também pode produzi-las e comunicar-no-las silenciosamente.
Entre nós comunicamos as nossas espécies inteligíveis sobretudo com a linguagem, embora também possamos fezê-lo, por exemplo, com a pintura ou a música, mas sempre através de um meio externo, enquanto o anjo pode transmitir-nos essa espécie sem necessidade de meio algum. Por isso não há maneira de distinguir o que vem de dentro de nós, de um anjo, de um demónio ou de Deus directamente.
Sendo assim, as pessoas que levam muitos anos a esforçar-se na vida espiritual com uma vida de oração muito intensa podem observar que há tentações que aparecem com uma intensidade bastante surpreendente e com uma estranha persistência sem que, além disso, tenham uma causa razoável. Para dar um exemplo, é lógico que a leitura de um livro contra a fé produza tentações contra a fé, mas se essa tentação aparece logo, muito intensa e insistindo durante semanas, pode ser sinal de que é uma tentação do demónio.
Mas nem assim podemos estar seguros. Como norma geral poder-se-ia dizer que as tentações sem causa razoável, muito intensas e persistentes, poderiam proceder do demónio. Mas com umas características tão vagas nunca podemos estar seguros a cem por cento.
A nós, sacerdotes, chegam-nos pessoas de intensa vida de oração que nunca tiveram nenhum problema psicológico, a quem chegam de repente desejos de blasfemar contra Deus ou de calcar um crucifixo, por exemplo. Se essas perturbações são crónicas, é razoável pensar que têm a sua origem numa doença. Mas se o seu aparecimento é repentino e a pessoa parece sã da mente, então há razão para suspeitar de que seja tentação procedente do demónio.
O psiquiatra que tenha lido esta explicação seguramente pensará que o descrito se deve a um processo de acção-reacção.
A tais psiquiatras queremos dizer que conhecemos perfeitamente esses mecanismos do subconsciente, mas também lhes recordamos que o demónio existe. E isso torna-se mais claro quando a tentação obsessiva desaparece rapidamente sem nunca mais voltar a aparecer. As tentações do demónio nunca são crónicas. E, veementes que sejam, quando desaparecem não deixam a mais leve sequela na psique que as sofreu.