24- PODE O DEMÓNIO TER ALGUMA TÁCTICA AO TENTAR-NOS?

24- PODE O DEMÓNIO TER ALGUMA TÁCTICA AO TENTAR-NOS?
 
O demónio é um ser inteligente, não é uma força ou energia. Portanto, há que entender que a tentação tenta ser um diálogo entre a pessoa que resiste e o tentador. Se a pessoa resiste a considerar a tentação, esta não será mais do que a insistência por parte do demónio, mas sem resposta da nossa parte.
O demónio pode estar ao nosso lado durante muito tempo, analisar-nos, conhecer-nos e tentar-nos atacando o nosso ponto mais fraco. O demónio pode ser extraordinariamente pragmático. Isto é, sabe quais são as suas possibilidades de êxito, pelo que tenta só ali onde sabe que tem alguma possibilidade. Se percebe que uma pessoa não vai cometer um pecado grande pode tentar para que cometa algo menos grave. Se sabe que nem isso pode conseguir, tentará só para que se cometa alguma imperfeição, nem sequer um pecado.
E dentro do campo da imperfeição tentará aquilo que saiba que é possível. Por exemplo, sabe que tentar para a gula um asceta pode ser perder tempo. Mas sabe talvez que tem possibilidade de êxito se o tenta a exceder-se no jejum. E se vê que por esse caminho tem êxito tentará tentá-lo para que se exceda no jejum precisamente no modo que mais favoreça a sua soberba ou no modo que pior seja para a sua saúde, etc.
Outro exemplo, se sabe que não tem sentido tentar uma freira para que deixe a oração, vê talvez que o melhor é tentá-la a prolongar o tempo de oração à custa do trabalho que tem obrigação de fazer.
Noutras ocasiões o demónio actua de maneira mais realista e tenta conseguir que a alma creia que já não tem de obedecer ao seu confessor dado que é um homem menos espiritual que ela própria.
O demónio não tenta à toa, antes analisa e ataca onde vê que tem alguma possibilidade. E, em geral, ele tem alguma possibilidade onde precisamente o homem virtuoso julga que tem menos possibilidades.
Apresentei exemplos de tentações dirigidas a homens de oração e ascéticos porque o homem entregue ao vício é um homem sem protecção, sem a protecção das virtudes. Sem essas couraças, todo o seu espírito apresenta múltiplos flancos desguarnecidos, expostos à acção das tentações. Se Deus não protege essas almas, qualquer delas pode ser pasto do fogo das suas próprias paixões açulado pela acção dos demónios. Por isso pedimos no Pai-Nosso: «livrai-nos do Mal». Isto demonstra que, embora disponhamos de liberdade para resistir, convém que peçamos ao Criador que nos proteja.
Por isto o Senhor nos atribuiu um anjo custódio ou anjo da guarda. Para que as inspirações malignas sejam compensadas pelas inspirações para o bem. Além disso, se alguém é tentado e reza, a tentação desaparece. A tentação é incompatível com a oração. A oração cria primeiramente uma barreira contra a tentação, pois a nossa vontade e a nossa inteligência centram-se em Deus. E, se insistirmos um pouco mais, o demónio não poderá resistir e fugirá.