28 - QUAL É O PROCESSO QUE LEVA À MORTE ETERNA?

28 - QUAL É O PROCESSO QUE LEVA À MORTE ETERNA?
 
«Cada um é tentado pelo seu próprio desejo, que o atrai e seduz; a seguir, o desejo concebe e dá à luz o pecado, e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.» Tg 1,14-15
O Apóstolo Tiago descreve em dois versículos, com uma incrível profundidade de princípio a fim, o processo para a morte da alma.
O pecado não se produz nem porque sim, nem precipitadamente, nem é algo que cai abruptamente diante de nós de modo súbito sem que tenhamos culpa. Antes há, como bem descreve o Apóstolo, todo um processo. A tradução do grego destes dois versículos deve ser muito esmerada para não perder os matizes que há nos verbos.
O processo descrito é o seguinte:
as paixões -> gestação do pecado -> dá-se à luz o pecado
-> o pecado volta a iniciar uma gestação -> dá-se à luz a morte
A imagem de uma mulher concebendo no seu ventre durante meses uma criança é a imagem da pessoa que gera no seu interior a iniquidade.
O pecado aparece num dado momento, num momento concreto; um segundo antes não há pecado, um segundo depois, sim. Mas esse pecado produz-se, sai à luz porque antes houve uma gestação prévia. E assim como no mundo da zoologia quanto mais longa é a gestação, maior é o que se dá à luz, assim também no campo espiritual, quanto maior é o pecado mais longa é a gestação necessária para dar esse passo.
Aqui está a resposta a essa pergunta que tantas pessoas se fazem sobre como é possível que tal pessoa tenha cometido tal ou qual barbaridade. Nenhuma barbaridade moral aparece sem um processo que, embora oculto aos olhos dos outros, se vai desenrolando no interior da pessoa.
O Apóstolo Tiago usa a expressão "dar à luz" porque verdadeiramente o pecado teve previamente a "gestação" uma "concepção". A sedução e a vontade actuam como o espermatozoide e o óvulo. A paixão trata de abrir caminho, de penetrar na vontade. Mas se esta não a acolhe, a sedução fica estéril, não produz nada. Enquanto a vontade se fechar, nem milhares, nem milhões de espermatozóides conseguirão penetrar no seu seio.
Mas se a vontade acolhe a sedução, produzir-se-á irremediavelmente a concepção do pecado. Ainda assim, o pecado pode ser eliminado. Mas se o pecado não é eliminado, reproduzir-se-á. O pecado gera mais pecado, reproduz-se, aumenta em quantidade, muda qualitativamente para faltas piores.
Se o primeiro pecado tem atrás de si um processo prévio, também o pecado que se deixa viver começa um novo processo que leva à morte: a morte da alma. E a morte da alma leva à morte eterna.
A alma invadida pelo pecado é como uma alma morta, pois não
tem vida sobrenatural dentro de si. E se a alma morta decide permanecer até ao final nesse estado de corrupção, estará destinada à morte eterna, à condenação.
Conhecer tudo isto leva-nos a valorizar mais a acção sobrenatural da graça divina, que em qualquer momento deste processo (enquanto não se tenha já produzido a morte eterna) pode vivificar a alma.
O perdão de Deus não é só perdão, mas vivificação. E o que é dito aqui para o pecado e para as paixões, vale, só que ao contrário, para a graça e para a virtude. A vida em Cristo é um processo, uma vida que se desenvolve.