3. AMOR A CRISTO CRUCIFICADO

3. AMOR A CRISTO CRUCIFICADO
Minha mãe costumava, ao serão, contar contos. E entre os
contos de fadas encantadas, princesas douradas, pombinhas reais,
que nos contavam meu pai e minhas irmãs mais velhas, vinha minha
mãe com a história da Paixão, de S. João Baptista, etc., etc.
Eu conhecia, pois, a Paixão de Nosso Senhor como uma história; e como me bastava ouvir as histórias uma vez para as repetir com todos os seus detalhes, comecei a contar aos meus
companheiros, pormenorizadamente, a história de Nosso Senhor,
como eu Ihe chamava. Quando minha irmã (6), ao passar por junto
de nós, se dá conta que tínhamos o crucifixo (7) nas mãos, tira-no-
-lo e repreende-me, dizendo que não quer que toque nos santinhos.
A Jacinta levanta-se, vai junto de minha irmã e diz-lhe:
– Maria, não ralhes! Fui eu, mas não torno mais.
Minha irmã fez-lhe uma carícia e disse-nos que fôssemos a
brincar lá para fora, dizendo que em casa não deixávamos parar
nada no seu lugar.
(6) Maria dos Anjos, a irmã mais velha de Lúcia (†1986).
(7) Ainda hoje os visitantes podem ver este Crucifixo na casa da Lúcia.
 
Lá fomos contar a nossa história para cima do poço de que já
falei e que, por estar escondido detrás duns castanheiros, dum
monte de pedras e dum silvado, havíamos de escolher, alguns anos
depois, para cela dos nossos colóquios, de fervorosas orações e,
também, Ex.mo Rev.mo Senhor, para dizer-vos tudo, também de lágrimas, por vezes bem amargas. Misturávamos as nossas lágrimas
às suas águas, para bebê-las depois, na mesma fonte onde as
derramávamos. Não seria essa cisterna a imagem de Maria, em
cujo Coração enxugávamos o nosso pranto e bebíamos a mais
pura consolação?
Mas voltando à nossa história:
Ao ouvir contar os sofrimentos de Nosso Senhor, a pequenina enterneceu-se e chorou. Muitas vezes, depois, pedia para Iha
repetir. Chorava com pena e dizia:
– Coitadinho de Nosso Senhor! Eu não hei-de fazer nunca
nenhum pecado. Não quero que Nosso Senhor sofra mais
Minha mãe costumava, ao serão, contar contos. E entre os
contos de fadas encantadas, princesas douradas, pombinhas reais,
que nos contavam meu pai e minhas irmãs mais velhas, vinha minha
mãe com a história da Paixão, de S. João Baptista, etc., etc.
Eu conhecia, pois, a Paixão de Nosso Senhor como uma história; e como me bastava ouvir as histórias uma vez para as repetir com todos os seus detalhes, comecei a contar aos meus
companheiros, pormenorizadamente, a história de Nosso Senhor,
como eu Ihe chamava. Quando minha irmã (6), ao passar por junto
de nós, se dá conta que tínhamos o crucifixo (7) nas mãos, tira-no-
-lo e repreende-me, dizendo que não quer que toque nos santinhos.
A Jacinta levanta-se, vai junto de minha irmã e diz-lhe:
– Maria, não ralhes! Fui eu, mas não torno mais.
Minha irmã fez-lhe uma carícia e disse-nos que fôssemos a
brincar lá para fora, dizendo que em casa não deixávamos parar
nada no seu lugar.
 
Lá fomos contar a nossa história para cima do poço de que já
falei e que, por estar escondido detrás duns castanheiros, dum
monte de pedras e dum silvado, havíamos de escolher, alguns anos
depois, para cela dos nossos colóquios, de fervorosas orações e,
também, Ex.mo Rev.mo Senhor, para dizer-vos tudo, também de lágrimas, por vezes bem amargas. Misturávamos as nossas lágrimas
às suas águas, para bebê-las depois, na mesma fonte onde as
derramávamos. Não seria essa cisterna a imagem de Maria, em
cujo Coração enxugávamos o nosso pranto e bebíamos a mais
pura consolação?
Mas voltando à nossa história:
Ao ouvir contar os sofrimentos de Nosso Senhor, a pequenina enterneceu-se e chorou. Muitas vezes, depois, pedia para Iha
repetir. Chorava com pena e dizia:
– Coitadinho de Nosso Senhor! Eu não hei-de fazer nunca
nenhum pecado. Não quero que Nosso Senhor sofra mais
 
(6) Maria dos Anjos, a irmã mais velha de Lúcia (†1986).
(7) Ainda hoje os visitantes podem ver este Crucifixo na casa da Lúcia.