3. JACINTA, EXEMPLO DE VIRTUDES

3. JACINTA, EXEMPLO DE VIRTUDES
As pessoas grandes iam também visitá-la; mostravam admiração pelo seu porte, sempre igual, paciente, sem a menor queixa
ou exigência. Na posição em que a mãe a deixava, assim permanecia. Se Ihe perguntavam se estava melhor, respondia:
– Estou na mesma.
Ou,
– Parece que estou pior. Muito obrigada.
Com um ar mais bem triste, mantinha-se em silêncio diante de
quem a visitava. As pessoas sentavam-se aí junto dela, às vezes
longo tempo, parecendo sentirem-se aí felizes. Aí tinham também
lugar minuciosos e fatigantes interrogatórios, e ela sem mostrar
nunca a mínima impaciência ou aborrecimento. Apenas me dizia,
depois:
– Já me doía tanto a cabeça de ouvir aquela gente! Agora, que
não posso fugir para me esconder, ofereço mais sacrifícios destes
a Nosso Senhor.
As vizinhas, às vezes, iam coser a roupa para junto dela e
diziam:
– Vou trabalhar um pouco para o pé da Jacinta. Não sei o que
é que ela tem. A gente gosta de estar ao pé dela.
Levavam os filhinhos que com ela se entretinham a brincar e
as mães ficavam assim mais livres para coser. Às perguntas que
lhe faziam, respondia com palavras amáveis, mas breves. Se diziam
alguma coisa que não Ihe parecesse bem, acudia logo:
– Não digam isso, que ofendem a Deus Nosso Senhor.
Se contavam alguma coisa de suas famílias, que não fosse
boa, respondia-lhes:
– Não deixem os seus filhinhos fazer pecados, que Ihes podem ir para o inferno.
Se eram pessoas maiores:
– Digam-lhes que não façam isso, que é pecado; que ofendem a Deus Nosso Senhor e depois podem condenar-se.
As pessoas de longe, que por curiosidade ou devoção nos
visitavam, parecia sentirem algo de sobrenatural junto dela. Às
vezes, ao chegar a minha casa para falar comigo, diziam:
– Vimos de falar com a Jacinta e Francisco; junto deles, sente-se um não sei quê de sobrenatural.
Por vezes, queriam até que eu Ihes explicasse de que provinha esse sentimento. Como não sabia, encolhia os ombros e
guardava silêncio. Não poucas vezes, ouvi comentar isto.
Um dia, chegaram a minha casa dois sacerdotes e um cavalheiro. Enquanto minha mãe Ihes abriu a porta e os mandou
sentar-se, subi para o sótão a esconder-me. Minha mãe, depois
de os ter recebido, deixou-os sós, para me ir chamar ao pátio,
onde acabava de me deixar. Não me encontrando, demorou-se à
minha procura. Entretanto, os bons Senhores iam comentando o
caso:
– Vamos a ver o que nos diz esta – dizia o cavalheiro. – A mim
impressionou-me a inocência e sinceridade da Jacinta e do
irmãozito. Se esta se não desdiz, eu acredito.
– Não sei que senti junto dos dois pequenos! Parece que se
sente ali algo de sobrenatural – acrescentou um dos Sacerdotes. –
A mim fez-me bem à alma falar com eles.
Minha mãe não me encontrou, e os bons Senhores tiveram
que resignar-se a partir sem me falar.
– Às vezes – dizia-lhes minha mãe –, vai-se por aí a brincar
com as outras crianças e não há quem na encontre.
– Temos muita pena! Gostámos muito de falar com os dois
pequenitos e queríamos também falar com a sua; mas voltaremos
noutra ocasião.
Um Domingo, minhas amigas da Moita, Maria, Rosa e Ana
Caetano, e Maria e Ana Brogueira, depois da Missa, foram pedir a
minha mãe para me deixar ir passar o dia com elas. Obtida a licença, pediram-me para levar comigo a Jacinta e Francisco. Obtida a
licença de minha tia, lá fomos para a Moita. Depois do jantar, a
Jacinta começou a deixar cair a cabecita com sono. O Senhor José
Alves mandou uma das sobrinhas ir deitá-la na sua cama. Daí a
pouco, dormia a sono solto. Começou a juntar-se a gente do lugarejo, para passar a tarde connosco; e, na ansiedade de a ver, foram espreitar, a ver se já estava acordada. Ficaram admiradas de
vê-la dormir um pesadíssimo sono com um sorriso nos lábios, um
ar angelical, as mãozinhas postas e levantadas para o Céu. O quarto
encheu-se depressa de curiosos. Todos queriam vê-la, e a custo
uns saíam para deixarem entrar os outros. A mulher do Senhor
José Alves e as sobrinhas diziam:
– Isto deve ser um Anjo.
E tomadas dum certo respeito, permaneceram de joelhos junto da cama, até que eu, perto das quatro e meia, a fui chamar, para
irmos rezar o terço à Cova de Iria e depois irmos para casa. As
sobrinhas do Senhor José Alves são as atrás apelidadas Caetano.
As pessoas grandes iam também visitá-la; mostravam admiração pelo seu porte, sempre igual, paciente, sem a menor queixa
ou exigência. Na posição em que a mãe a deixava, assim permanecia. Se Ihe perguntavam se estava melhor, respondia:
– Estou na mesma.
Ou,
– Parece que estou pior. Muito obrigada.
Com um ar mais bem triste, mantinha-se em silêncio diante de
quem a visitava. As pessoas sentavam-se aí junto dela, às vezes
longo tempo, parecendo sentirem-se aí felizes. Aí tinham também
lugar minuciosos e fatigantes interrogatórios, e ela sem mostrar
nunca a mínima impaciência ou aborrecimento. Apenas me dizia,
depois:
– Já me doía tanto a cabeça de ouvir aquela gente! Agora, que
não posso fugir para me esconder, ofereço mais sacrifícios destes
a Nosso Senhor.
As vizinhas, às vezes, iam coser a roupa para junto dela e
diziam:
– Vou trabalhar um pouco para o pé da Jacinta. Não sei o que
é que ela tem. A gente gosta de estar ao pé dela.
Levavam os filhinhos que com ela se entretinham a brincar e
as mães ficavam assim mais livres para coser. Às perguntas que
lhe faziam, respondia com palavras amáveis, mas breves. Se diziam
alguma coisa que não Ihe parecesse bem, acudia logo:
– Não digam isso, que ofendem a Deus Nosso Senhor.
Se contavam alguma coisa de suas famílias, que não fosse
boa, respondia-lhes:
– Não deixem os seus filhinhos fazer pecados, que Ihes podem ir para o inferno.
Se eram pessoas maiores:
– Digam-lhes que não façam isso, que é pecado; que ofendem a Deus Nosso Senhor e depois podem condenar-se.
As pessoas de longe, que por curiosidade ou devoção nos
visitavam, parecia sentirem algo de sobrenatural junto dela. Às
vezes, ao chegar a minha casa para falar comigo, diziam:
– Vimos de falar com a Jacinta e Francisco; junto deles, sente-se um não sei quê de sobrenatural.
Por vezes, queriam até que eu Ihes explicasse de que provinha esse sentimento. Como não sabia, encolhia os ombros e
guardava silêncio. Não poucas vezes, ouvi comentar isto.
Um dia, chegaram a minha casa dois sacerdotes e um cavalheiro. Enquanto minha mãe Ihes abriu a porta e os mandou
sentar-se, subi para o sótão a esconder-me. Minha mãe, depois
de os ter recebido, deixou-os sós, para me ir chamar ao pátio,
onde acabava de me deixar. Não me encontrando, demorou-se à
minha procura. Entretanto, os bons Senhores iam comentando o
caso:
– Vamos a ver o que nos diz esta – dizia o cavalheiro. – A mim
impressionou-me a inocência e sinceridade da Jacinta e do
irmãozito. Se esta se não desdiz, eu acredito.
– Não sei que senti junto dos dois pequenos! Parece que se
sente ali algo de sobrenatural – acrescentou um dos Sacerdotes. –
A mim fez-me bem à alma falar com eles.
Minha mãe não me encontrou, e os bons Senhores tiveram
que resignar-se a partir sem me falar.
– Às vezes – dizia-lhes minha mãe –, vai-se por aí a brincar
com as outras crianças e não há quem na encontre.
– Temos muita pena! Gostámos muito de falar com os dois
pequenitos e queríamos também falar com a sua; mas voltaremos
noutra ocasião.
Um Domingo, minhas amigas da Moita, Maria, Rosa e Ana
Caetano, e Maria e Ana Brogueira, depois da Missa, foram pedir a
minha mãe para me deixar ir passar o dia com elas. Obtida a licença, pediram-me para levar comigo a Jacinta e Francisco. Obtida a
licença de minha tia, lá fomos para a Moita. Depois do jantar, a
Jacinta começou a deixar cair a cabecita com sono. O Senhor José
Alves mandou uma das sobrinhas ir deitá-la na sua cama. Daí a
pouco, dormia a sono solto. Começou a juntar-se a gente do lugarejo, para passar a tarde connosco; e, na ansiedade de a ver, foram espreitar, a ver se já estava acordada. Ficaram admiradas de
vê-la dormir um pesadíssimo sono com um sorriso nos lábios, um
ar angelical, as mãozinhas postas e levantadas para o Céu. O quarto
encheu-se depressa de curiosos. Todos queriam vê-la, e a custo
uns saíam para deixarem entrar os outros. A mulher do Senhor
José Alves e as sobrinhas diziam:
– Isto deve ser um Anjo.
E tomadas dum certo respeito, permaneceram de joelhos junto da cama, até que eu, perto das quatro e meia, a fui chamar, para
irmos rezar o terço à Cova de Iria e depois irmos para casa. As
sobrinhas do Senhor José Alves são as atrás apelidadas Caetano.