4. O FRANCISCO ERA DIFERENTE

4. O FRANCISCO ERA DIFERENTE
O Francisco era, também, neste ponto, um pouco diferente:
sempre a sorrir, sempre amável e condescendente, brincava com
todas as crianças indistintamente. Não repreendia a ninguém. Apenas, às vezes, se retirava, quando via alguma coisa que não estava bem. Se se Ihe perguntava por que se ia embora, respondia:
– Porque vocês não são bons.
ou
– Porque não quero brincar mais.
Na doença, as crianças entravam e saíam do seu quarto com
a maior liberdade, falavam-lhe da janela do quarto, perguntavam-lhe
se estava melhor, etc. Se se Ihe perguntava se queria que algumas
crianças ficassem junto dele a fazer-lhe companhia, respondia que
não, que queria antes estar só.
– Só gosto – dizia às vezes – que estejas aqui tu e mais a
Jacinta.
Diante das pessoas grandes que o visitavam, mantinha-se em
silêncio e respondia, ao que Ihe perguntavam, em poucas palavras. As pessoas que o visitavam, tanto da terra como de fora,
sentavam-se junto da cama dele, às vezes longo tempo, e diziam:
– Não sei que tem o Francisco! A gente sente-se aqui bem.
Algumas vizinhas comentavam, um dia, com minha tia e minha mãe, depois de haverem estado um bom bocado de tempo no
quarto de Francisco:
– É um mistério que a gente não entende. São crianças como
as outras, não nos dizem nada, e junto delas sente-se um não sei
quê diferente das demais.
– Parece que se sente, ao entrar no quarto do Francisco, o
que sentimos ao entrar na Igreja – dizia uma mulher vizinha de
minha tia, de nome Romana, e que não mostrava acreditar nada
nos factos.
Nesse grupo estavam ainda mais três: uma era mulher de
Manuel Faustino, outra de José Marto, outra de José Silva.
Não me admira que as pessoas experimentassem estes sentimentos, habituadas a encontrar, em todos, somente a materialidade da vida caduca e perecedoura. Agora, a só vista destas
eleva-lhes o pensamento para a Mãe do Céu, com Quem se diz
que têm relações; para a eternidade, para onde os vêem tão prestes a partir, tão alegres e felizes; para Deus, a Quem eles dizem
que amam mais que os próprios pais; e também para o inferno,
para onde eles lhes dizem que vão, se continuam a fazer pecados.
Materialmente são, como dizem, crianças como as outras. Mas se
essa boa gente, tão habituada só ao material da vida, soubesse
elevar um pouco o espírito, veria sem dificuldade, que nelas havia
algo que bastante as distinguia.
Veio-me agora à mente um outro facto que teve relação com o
Francisco e vou apontá-lo.
Entrou, um dia, no quarto de Francisco, uma mulher da Casa
Velha, chamada Mariana, que, aflita por o marido ter expulsado um
filho de casa, pedia a graça da reconciliação do filho com o pai. O
Francisco respondeu-lhe:
– Fique descansada. Vou em breve para o Céu e, quando lá
chegar, peço essa graça a Nossa Senhora.
Não me lembro bem os dias que tardou ainda a ir para o Céu;
mas o que recordo é que, na tarde do dia em que Francisco morreu, o filho pediu pela segunda vez perdão ao pai que já Iho tinha
negado uma vez, por ele se não querer sujeitar às condições impostas. Sujeitou-se a tudo o que o pai lhe impunha e restabeleceu-se
a paz naquela casa.
Uma irmã deste rapaz, de nome Leocádia, casou depois com
um irmão da Jacinta e Francisco e é agora a mãe daquela sobrinha da Jacinta e Francisco que V. Ex.cia Rev.ma há tempo viu entrar,
na Cova de Iria, para religiosa Doroteia.
O Francisco era, também, neste ponto, um pouco diferente:
sempre a sorrir, sempre amável e condescendente, brincava com
todas as crianças indistintamente. Não repreendia a ninguém. Apenas, às vezes, se retirava, quando via alguma coisa que não estava bem. Se se Ihe perguntava por que se ia embora, respondia:
– Porque vocês não são bons.
ou
– Porque não quero brincar mais.
Na doença, as crianças entravam e saíam do seu quarto com
a maior liberdade, falavam-lhe da janela do quarto, perguntavam-lhe
se estava melhor, etc. Se se Ihe perguntava se queria que algumas
crianças ficassem junto dele a fazer-lhe companhia, respondia que
não, que queria antes estar só.
– Só gosto – dizia às vezes – que estejas aqui tu e mais a
Jacinta.
Diante das pessoas grandes que o visitavam, mantinha-se em
silêncio e respondia, ao que Ihe perguntavam, em poucas palavras. As pessoas que o visitavam, tanto da terra como de fora,
sentavam-se junto da cama dele, às vezes longo tempo, e diziam:
– Não sei que tem o Francisco! A gente sente-se aqui bem.
Algumas vizinhas comentavam, um dia, com minha tia e minha mãe, depois de haverem estado um bom bocado de tempo no
quarto de Francisco:
– É um mistério que a gente não entende. São crianças como
as outras, não nos dizem nada, e junto delas sente-se um não sei
quê diferente das demais.
– Parece que se sente, ao entrar no quarto do Francisco, o
que sentimos ao entrar na Igreja – dizia uma mulher vizinha de
minha tia, de nome Romana, e que não mostrava acreditar nada
nos factos.
Nesse grupo estavam ainda mais três: uma era mulher de
Manuel Faustino, outra de José Marto, outra de José Silva.
Não me admira que as pessoas experimentassem estes sentimentos, habituadas a encontrar, em todos, somente a materialidade da vida caduca e perecedoura. Agora, a só vista destas
eleva-lhes o pensamento para a Mãe do Céu, com Quem se diz
que têm relações; para a eternidade, para onde os vêem tão prestes a partir, tão alegres e felizes; para Deus, a Quem eles dizem
que amam mais que os próprios pais; e também para o inferno,
para onde eles lhes dizem que vão, se continuam a fazer pecados.
Materialmente são, como dizem, crianças como as outras. Mas se
essa boa gente, tão habituada só ao material da vida, soubesse
elevar um pouco o espírito, veria sem dificuldade, que nelas havia
algo que bastante as distinguia.
Veio-me agora à mente um outro facto que teve relação com o
Francisco e vou apontá-lo.
Entrou, um dia, no quarto de Francisco, uma mulher da Casa
Velha, chamada Mariana, que, aflita por o marido ter expulsado um
filho de casa, pedia a graça da reconciliação do filho com o pai. O
Francisco respondeu-lhe:
– Fique descansada. Vou em breve para o Céu e, quando lá
chegar, peço essa graça a Nossa Senhora.
Não me lembro bem os dias que tardou ainda a ir para o Céu;
mas o que recordo é que, na tarde do dia em que Francisco morreu, o filho pediu pela segunda vez perdão ao pai que já Iho tinha
negado uma vez, por ele se não querer sujeitar às condições impostas. Sujeitou-se a tudo o que o pai lhe impunha e restabeleceu-se
a paz naquela casa.
Uma irmã deste rapaz, de nome Leocádia, casou depois com
um irmão da Jacinta e Francisco e é agora a mãe daquela sobrinha da Jacinta e Francisco que V. Ex.cia Rev.ma há tempo viu entrar,
na Cova de Iria, para religiosa Doroteia.