6. JACINTA E FRANCISCO ENCORAJAM-NA

6. JACINTA E FRANCISCO ENCORAJAM-NA
Quanto esta reflexão me fez sofrer, só Nosso Senhor pode
saber, porque só Ele pode penetrar o nosso íntimo. Comecei, então, a duvidar se as manifestações seriam do Demónio que procurava, por esse meio, perder-me. E, como tinha ouvido dizer que o
Demónio trazia sempre a guerra e a desordem, comecei a pensar
que, na verdade, desde que via estas coisas, não tinha tido mais
alegria nem bem-estar em nossa casa. Que angústia que eu sentia! Manifestei a meus primos a minha dúvida. A Jacinta respondeu:
– Não é o Demónio, não! O Demónio dizem que é muito feio e
que está debaixo da terra, no inferno; e aquela Senhora é tão bonita! E nós vimo-La subir ao Céu.
Nosso Senhor serviu-se disto para desvanecer algo a minha
dúvida. Mas, no decurso deste mês, perdi o entusiasmo pela prática do sacrifício e da mortificação e titubeava se acabaria por dizer
que tinha mentido e assim acabar com tudo. A Jacinta e o Francisco diziam-me:
– Não faças isso! Não vês que agora é que tu vais mentir e
que mentir é pecado?
Em este estado tive um sonho que veio aumentar as trevas do
meu espírito: Vi o Demónio que, rindo-se de me ter enganado, fazia esforços por me arrastar para o inferno. Ao ver-me nas suas
garras, comecei a gritar em tal forma, chamando por Nossa Senhora, que acordei minha mãe, a qual me chamou, aflita, perguntando-me o que eu tinha. Não me lembro do que Ihe respondi. O
que me lembro é que em aquela noite não pude mais dormir, pois
fiquei tolhida de medo. Este sonho deixou no meu espírito uma
nuvem de verdadeiro medo e aflição. O meu único alívio era ver-
-me só, em algum canto solitário, para aí chorar à minha vontade.
Comecei por sentir aborrecimento até à companhia de meus pri-
mos e por isso comecei a esconder-me também deles. Pobres
crianças! Às vezes andavam à minha procura, chamando pelo meu
nome, e eu junto deles sem Ihes responder, oculta, às vezes, em
algum canto para onde eles não atinavam a olhar.
Aproximava-se o dia 13 de Julho e eu duvidava se lá iria. Pensava: se é o Demónio, para que hei-de ir vê-lo? Se me perguntam por
que não vou, digo que tenho medo que seja o Demónio quem nos
aparece e que por isso não vou. A Jacinta e o Francisco que façam
como quiserem; eu não volto mais à Cova de Iria. A resolução estava tomada e eu bem resolvida a pô-la em prática.
No dia 12, pela tarde, começou a juntar-se o povo que vinha
para assistir aos acontecimentos do dia seguinte. Chamei então a
Jacinta e o Francisco e informei-os da minha resolução. Eles responderam-me:
– Nós vamos. Aquela Senhora mandou-nos lá ir.
A Jacinta prontificou-se a falar ela com a Senhora, mas custava-lhe que eu não fosse e começou a chorar. Perguntei-lhe por
que chorava.
– Por tu não quereres ir.
– Não; eu não vou. Olha: se a Senhora te perguntar por mim,
diz-lhe que não vou, porque tenho medo que seja o demónio.
E deixei-os ficar, para me ir esconder e não ter assim, que
falar às pessoas que me procuravam para me interrogar. Minha
mãe, que me julgava a brincar com as crianças do lugar, durante
todo este tempo que passava escondida atrás dum silvado que
havia na propriedade dum vizinho que pegava com o nosso Arneiro,
um pouco a leste do poço já várias vezes mencionado, quando eu
à noite chegava a casa, (minha mãe) repreendia-me, dizendo:
– Isto é que é um santinha de pau carunchento! Todo o tempo
que Ihe sobra de andar com as ovelhas passa-o na brincadeira; e
de tal forma que ninguém a encontra!
No dia seguinte, ao aproximar-se a hora em que devia partir,
senti-me de repente impelida a ir, por uma força estranha, a que
não me era fácil resistir. Pus-me, então, a caminho e passei por
casa de meus tios a ver se ainda lá estava a Jacinta. Encontrei-a
no quarto, com seu irmãozinho Francisco, de joelhos ao pé da cama,
chorando.
– Então vocês não vão? – Ihes perguntei.
– Sem ti não nos atrevemos a ir. Anda, vem.
– Já cá vou – Ihes respondi.
Então, com um semblante já alegre, partiram comigo. O povo
esperava-nos em massa pelos caminhos e a custo conseguimos lá
chegar. Foi este o dia em que a SS. Virgem se dignou revelar-nos o
segredo. Depois, para reanimar o meu fervor decaído, disse-me:
– Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei a Jesus, muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é
por Vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação
pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.
Quanto esta reflexão me fez sofrer, só Nosso Senhor pode
saber, porque só Ele pode penetrar o nosso íntimo. Comecei, então, a duvidar se as manifestações seriam do Demónio que procurava, por esse meio, perder-me. E, como tinha ouvido dizer que o
Demónio trazia sempre a guerra e a desordem, comecei a pensar
que, na verdade, desde que via estas coisas, não tinha tido mais
alegria nem bem-estar em nossa casa. Que angústia que eu sentia! Manifestei a meus primos a minha dúvida. A Jacinta respondeu:
– Não é o Demónio, não! O Demónio dizem que é muito feio e
que está debaixo da terra, no inferno; e aquela Senhora é tão bonita! E nós vimo-La subir ao Céu.
Nosso Senhor serviu-se disto para desvanecer algo a minha
dúvida. Mas, no decurso deste mês, perdi o entusiasmo pela prática do sacrifício e da mortificação e titubeava se acabaria por dizer
que tinha mentido e assim acabar com tudo. A Jacinta e o Francisco diziam-me:
– Não faças isso! Não vês que agora é que tu vais mentir e
que mentir é pecado?
Em este estado tive um sonho que veio aumentar as trevas do
meu espírito: Vi o Demónio que, rindo-se de me ter enganado, fazia esforços por me arrastar para o inferno. Ao ver-me nas suas
garras, comecei a gritar em tal forma, chamando por Nossa Senhora, que acordei minha mãe, a qual me chamou, aflita, perguntando-me o que eu tinha. Não me lembro do que Ihe respondi. O
que me lembro é que em aquela noite não pude mais dormir, pois
fiquei tolhida de medo. Este sonho deixou no meu espírito uma
nuvem de verdadeiro medo e aflição. O meu único alívio era ver-
-me só, em algum canto solitário, para aí chorar à minha vontade.
Comecei por sentir aborrecimento até à companhia de meus pri-
mos e por isso comecei a esconder-me também deles. Pobres
crianças! Às vezes andavam à minha procura, chamando pelo meu
nome, e eu junto deles sem Ihes responder, oculta, às vezes, em
algum canto para onde eles não atinavam a olhar.
Aproximava-se o dia 13 de Julho e eu duvidava se lá iria. Pensava: se é o Demónio, para que hei-de ir vê-lo? Se me perguntam por
que não vou, digo que tenho medo que seja o Demónio quem nos
aparece e que por isso não vou. A Jacinta e o Francisco que façam
como quiserem; eu não volto mais à Cova de Iria. A resolução estava tomada e eu bem resolvida a pô-la em prática.
No dia 12, pela tarde, começou a juntar-se o povo que vinha
para assistir aos acontecimentos do dia seguinte. Chamei então a
Jacinta e o Francisco e informei-os da minha resolução. Eles responderam-me:
– Nós vamos. Aquela Senhora mandou-nos lá ir.
A Jacinta prontificou-se a falar ela com a Senhora, mas custava-lhe que eu não fosse e começou a chorar. Perguntei-lhe por
que chorava.
– Por tu não quereres ir.
– Não; eu não vou. Olha: se a Senhora te perguntar por mim,
diz-lhe que não vou, porque tenho medo que seja o demónio.
E deixei-os ficar, para me ir esconder e não ter assim, que
falar às pessoas que me procuravam para me interrogar. Minha
mãe, que me julgava a brincar com as crianças do lugar, durante
todo este tempo que passava escondida atrás dum silvado que
havia na propriedade dum vizinho que pegava com o nosso Arneiro,
um pouco a leste do poço já várias vezes mencionado, quando eu
à noite chegava a casa, (minha mãe) repreendia-me, dizendo:
– Isto é que é um santinha de pau carunchento! Todo o tempo
que Ihe sobra de andar com as ovelhas passa-o na brincadeira; e
de tal forma que ninguém a encontra!
No dia seguinte, ao aproximar-se a hora em que devia partir,
senti-me de repente impelida a ir, por uma força estranha, a que
não me era fácil resistir. Pus-me, então, a caminho e passei por
casa de meus tios a ver se ainda lá estava a Jacinta. Encontrei-a
no quarto, com seu irmãozinho Francisco, de joelhos ao pé da cama,
chorando.
– Então vocês não vão? – Ihes perguntei.
– Sem ti não nos atrevemos a ir. Anda, vem.
– Já cá vou – Ihes respondi.
Então, com um semblante já alegre, partiram comigo. O povo
esperava-nos em massa pelos caminhos e a custo conseguimos lá
chegar. Foi este o dia em que a SS. Virgem se dignou revelar-nos o
segredo. Depois, para reanimar o meu fervor decaído, disse-me:
– Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei a Jesus, muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é
por Vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação
pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.