Já disse como ele passou o dia a chorar e a rezar, numa aflição talvez maior que a minha, quando meu pai foi intimado a
levar-me a Vila Nova de Ourém (6).
Na prisão, mostrou-se bastante animado e procurava animar
a Jacinta nas horas de mais saudade.
Quando rezámos o terço, na prisão, ele viu que um dos presos estava de joelhos com a boina na cabeça. Foi junto dele e
disse-lhe:
– Vossemecê, se quer rezar, tem de tirar a boina.
E o pobre homem, sem mais, entrega-lha, e ele põe-na em
cima do seu carapuço, sobre um banco.
Enquanto interrogavam a Jacinta, ele dizia-me, com imensa
paz e alegria:
– Se nos matarem, como dizem, daqui a pouco estamos no
Céu! Mas que bom! Não me importa nada.
E passado um momento de silêncio:
– Deus queira que a Jacinta não tenha medo. Vou a rezar uma
Ave-Maria por ela!
Sem mais, tira o carapuço e reza. O guarda, ao vê-lo em atitude de rezar, pergunta-lhe:
– Que estás a dizer?
– Estou a rezar uma Ave-Maria, para (que) a Jacinta não tenha medo.
O guarda fez um gesto de desprezo e deixou correr.
Quando, depois do regresso de Vila Nova de Ourém, começámos a sentir que a presença do sobrenatural nos envolvia,
sentindo que alguma comunicação celeste se aproximava, o
Francisco mostrava-se preocupado por a Jacinta não estar.
– Que pena – dizia –, se a Jacinta não vem a tempo!
E pediu ao irmão que fosse depressa.
– Diz-lhe que venha a correr.
Depois do Irmão partir, dizia-me:
– A Jacinta, se não vem a tempo, vai ficar muito triste.
(6) Em 11 de Agosto, o pai da Lúcia levou-a ao Administrador, mas o tio Marto foi
sozinho.
Depois da aparição, disse para a irmã, que queria ficar ali o
resto da tarde:
– Não. Tu tens de ir embora, porque a Mãe, hoje, não te deixou vir com as ovelhas.
E, para a animar, foi acompanhá-la a casa.
Quando, na prisão, vimos que se passava a hora do meio-dia
e que não nos deixavam ir à Cova da Iria, o Francisco dizia:
– Talvez que Nossa Senhora nos venha a aparecer aqui.
Mas, no dia seguinte, manifestava grande pena e dizia, quase
a chorar:
– Nossa Senhora é capaz de ter ficado triste, por a gente não
ir à Cova de Iria, e não voltar mais a aparecer-nos. E eu gostava
tanto de A ver!
Quando a Jacinta, na cadeia, chorava com saudades da mãe
e da família, ele procurava animá-la e dizia:
– A Mãe, se não a tornarmos a ver, paciência! Oferecemos
pela conversão dos pecadores. O pior é se Nossa Senhora não
volta mais! Isso é que mais me custa! Mas também o ofereço pelos
pecadores.
Depois, perguntava-me:
– Olha: Nossa Senhora não voltará mais a aparecer-nos?
– Não sei. Penso que sim.
– Tenho tantas saudades d’Ela!
A aparição nos Valinhos foi, pois, para ele, de dobrada alegria.
Sentia-se torturado pelo receio de que Ela não voltasse. Depois,
dizia:
– Decerto não nos apareceu no dia 13 para não ir à casa do
Senhor Administrador, talvez por ele ser tão mau.
Já disse como ele passou o dia a chorar e a rezar, numa aflição talvez maior que a minha, quando meu pai foi intimado a
levar-me a Vila Nova de Ourém (6).
Na prisão, mostrou-se bastante animado e procurava animar
a Jacinta nas horas de mais saudade.
Quando rezámos o terço, na prisão, ele viu que um dos presos estava de joelhos com a boina na cabeça. Foi junto dele e
disse-lhe:
– Vossemecê, se quer rezar, tem de tirar a boina.
E o pobre homem, sem mais, entrega-lha, e ele põe-na em
cima do seu carapuço, sobre um banco.
Enquanto interrogavam a Jacinta, ele dizia-me, com imensa
paz e alegria:
– Se nos matarem, como dizem, daqui a pouco estamos no
Céu! Mas que bom! Não me importa nada.
E passado um momento de silêncio:
– Deus queira que a Jacinta não tenha medo. Vou a rezar uma
Ave-Maria por ela!
Sem mais, tira o carapuço e reza. O guarda, ao vê-lo em atitude de rezar, pergunta-lhe:
– Que estás a dizer?
– Estou a rezar uma Ave-Maria, para (que) a Jacinta não tenha medo.
O guarda fez um gesto de desprezo e deixou correr.
Quando, depois do regresso de Vila Nova de Ourém, começámos a sentir que a presença do sobrenatural nos envolvia,
sentindo que alguma comunicação celeste se aproximava, o
Francisco mostrava-se preocupado por a Jacinta não estar.
– Que pena – dizia –, se a Jacinta não vem a tempo!
E pediu ao irmão que fosse depressa.
– Diz-lhe que venha a correr.
Depois do Irmão partir, dizia-me:
– A Jacinta, se não vem a tempo, vai ficar muito triste.
Depois da aparição, disse para a irmã, que queria ficar ali o
resto da tarde:
– Não. Tu tens de ir embora, porque a Mãe, hoje, não te deixou vir com as ovelhas.
E, para a animar, foi acompanhá-la a casa.
Quando, na prisão, vimos que se passava a hora do meio-dia
e que não nos deixavam ir à Cova da Iria, o Francisco dizia:
– Talvez que Nossa Senhora nos venha a aparecer aqui.
Mas, no dia seguinte, manifestava grande pena e dizia, quase
a chorar:
– Nossa Senhora é capaz de ter ficado triste, por a gente não
ir à Cova de Iria, e não voltar mais a aparecer-nos. E eu gostava
tanto de A ver!
Quando a Jacinta, na cadeia, chorava com saudades da mãe
e da família, ele procurava animá-la e dizia:
– A Mãe, se não a tornarmos a ver, paciência! Oferecemos
pela conversão dos pecadores. O pior é se Nossa Senhora não
volta mais! Isso é que mais me custa! Mas também o ofereço pelos
pecadores.
Depois, perguntava-me:
– Olha: Nossa Senhora não voltará mais a aparecer-nos?
– Não sei. Penso que sim.
– Tenho tantas saudades d’Ela!
A aparição nos Valinhos foi, pois, para ele, de dobrada alegria.
Sentia-se torturado pelo receio de que Ela não voltasse. Depois,
dizia:
– Decerto não nos apareceu no dia 13 para não ir à casa do
Senhor Administrador, talvez por ele ser tão mau.
(6) Em 11 de Agosto, o pai da Lúcia levou-a ao Administrador, mas o tio Marto foi
sozinho.