80 PORQUE DIZ O APÓSTOLO TIAGO QUE OS DEMÓNIOS CRÊEM EM DEUS?

80 PORQUE DIZ O APÓSTOLO TIAGO QUE OS DEMÓNIOS CRÊEM EM DEUS?
No seminário, quando eu era um jovem imberbe e ainda com abundante cabelo na cabeça, o professor, durante uma aula de Sagrada Escritura, leu-nos o texto de Tg 2,19
«Tu acreditas que existe um só Deus? Muito bem! Só que os demónios também acreditam, e tremem!»
E disse-nos que, embora o original grego usasse o verbo "crer", o que na realidade o Apóstolo queria dizer era que até os demónios sabem que Deus existe e estremecem.
A explicação do professor satisfez-me completamente. Não só parecia congruente, como parecia a única explicação possível. Os demónios não podiam ter fé, já sabiam que Deus existia, pensava. Contudo, havia algo que não me deixava de todo satisfeito no que se referia à utilização do verbo grego: porque é que o Apóstolo tinha usado uma palavra se queria usar outra? Porque é que tinha usado o verbo crer podendo usar perfeitamente o verbo saber? O assunto ficou esquecido durante uns quinze anos na minha memória, até que a convesação com um demónio durante um exorcismo me deu a resposta, uma resposta que nunca me teria ocorrido ainda que a tivesse pensado mais outros quinze anos. Procurei o diálogo que mantive com aquele demónio mas, infelizmente, não o transcrevi ao acabar a sessão. Em essência, a resposta a esta questão é o seguinte:
Os demónios não vêem Deus, sabem que existe, mas não o vêem. Com a sua inteligência sabem que existe um ser espiritual que não é um espírito mais, mas a Divindade. Mas só os bem-aventurados vêem a Sua essência. Os demónios ouviram-no (isto é, tiveram conhecimento das espécies inteligíveis que lhes comunicou directamente), viram os seus efeitos (por exemplo, a criação do cosmos), mas não viram a Sua essência. A inteligência deles diz-lhes que o Criador, que o Motor Imóvel, tem de ser um ser infinito. Assim, ainda que conheçam a Sua existência, não viram o que vêem os bem-aventurados. Nesse sentido pode dizer-se que eles, embora não tenham visto, acreditam.
Mas não é uma fé sobrenatural, pois eles crêem que existe o que a sua inteligência lhes diz que tem de existir. É crer no facto de que Ele tem de ser do modo como a sua inteligência lhes diz que tem de ser. 
Darei um exemplo desta fé natural: eu não tenho a menor dúvida de que o continente asiático existe, embora nunca tenha estado nele nem o tenha visto. Creio-o só com a inteligência de um modo natural. Algo similar acontece com os demónios. Assim como acreditar que existe a Ásia não é um acto sobrenatural, assim os demónios crêem em Deus de um modo natural. Mas saber que existe e que tem de existir e que não pode ser de outra maneira não lhes causa alegria mas pesar.
Porque é que o Apóstolo diz que tremem? Tremem por saber que existe essa felicidade e por não poderem gozá-la. O que os aflige não é tanto o terem perdido Deus, mas a felicidade de Deus. Também nunca viram essa felicidade, nem a gozaram, e, no entanto, sabem que existe. 
Também tremem porque temem o castigo de Deus. Odeiam-n ´O e temem que actue como eles, de um modo vingativo perante esse ódio, porque eles vêem-n´O totalmente segundo a deformação da sua inteligência. 
No seminário, quando eu era um jovem imberbe e ainda com abundante cabelo na cabeça, o professor, durante uma aula de Sagrada Escritura, leu-nos o texto de Tg 2,19
«Tu acreditas que existe um só Deus? Muito bem! Só que os demónios também acreditam, e tremem!»
E disse-nos que, embora o original grego usasse o verbo "crer", o que na realidade o Apóstolo queria dizer era que até os demónios sabem que Deus existe e estremecem.
A explicação do professor satisfez-me completamente. Não só parecia congruente, como parecia a única explicação possível. Os demónios não podiam ter fé, já sabiam que Deus existia, pensava. Contudo, havia algo que não me deixava de todo satisfeito no que se referia à utilização do verbo grego: porque é que o Apóstolo tinha usado uma palavra se queria usar outra? Porque é que tinha usado o verbo crer podendo usar perfeitamente o verbo saber? O assunto ficou esquecido durante uns quinze anos na minha memória, até que a convesação com um demónio durante um exorcismo me deu a resposta, uma resposta que nunca me teria ocorrido ainda que a tivesse pensado mais outros quinze anos. Procurei o diálogo que mantive com aquele demónio mas, infelizmente, não o transcrevi ao acabar a sessão. Em essência, a resposta a esta questão é o seguinte:
Os demónios não vêem Deus, sabem que existe, mas não o vêem. Com a sua inteligência sabem que existe um ser espiritual que não é um espírito mais, mas a Divindade. Mas só os bem-aventurados vêem a Sua essência. Os demónios ouviram-no (isto é, tiveram conhecimento das espécies inteligíveis que lhes comunicou directamente), viram os seus efeitos (por exemplo, a criação do cosmos), mas não viram a Sua essência. A inteligência deles diz-lhes que o Criador, que o Motor Imóvel, tem de ser um ser infinito. Assim, ainda que conheçam a Sua existência, não viram o que vêem os bem-aventurados. Nesse sentido pode dizer-se que eles, embora não tenham visto, acreditam.
Mas não é uma fé sobrenatural, pois eles crêem que existe o que a sua inteligência lhes diz que tem de existir. É crer no facto de que Ele tem de ser do modo como a sua inteligência lhes diz que tem de ser. 
Darei um exemplo desta fé natural: eu não tenho a menor dúvida de que o continente asiático existe, embora nunca tenha estado nele nem o tenha visto. Creio-o só com a inteligência de um modo natural. Algo similar acontece com os demónios. Assim como acreditar que existe a Ásia não é um acto sobrenatural, assim os demónios crêem em Deus de um modo natural. Mas saber que existe e que tem de existir e que não pode ser de outra maneira não lhes causa alegria mas pesar.
Porque é que o Apóstolo diz que tremem? Tremem por saber que existe essa felicidade e por não poderem gozá-la. O que os aflige não é tanto o terem perdido Deus, mas a felicidade de Deus. Também nunca viram essa felicidade, nem a gozaram, e, no entanto, sabem que existe. 
Também tremem porque temem o castigo de Deus. Odeiam-n ´O e temem que actue como eles, de um modo vingativo perante esse ódio, porque eles vêem-n´O totalmente segundo a deformação da sua inteligência. 
 

No seminário, quando eu era um jovem imberbe e ainda com abundante cabelo na cabeça, o professor, durante uma aula de Sagrada Escritura, leu-nos o texto de Tg 2,19

«Tu acreditas que existe um só Deus? Muito bem! Só que os demónios também acreditam, e tremem!»

E disse-nos que, embora o original grego usasse o verbo "crer", o que na realidade o Apóstolo queria dizer era que até os demónios sabem que Deus existe e estremecem.

A explicação do professor satisfez-me completamente. Não só parecia congruente, como parecia a única explicação possível. Os demónios não podiam ter fé, já sabiam que Deus existia, pensava. Contudo, havia algo que não me deixava de todo satisfeito no que se referia à utilização do verbo grego: porque é que o Apóstolo tinha usado uma palavra se queria usar outra? Porque é que tinha usado o verbo crer podendo usar perfeitamente o verbo saber? O assunto ficou esquecido durante uns quinze anos na minha memória, até que a convesação com um demónio durante um exorcismo me deu a resposta, uma resposta que nunca me teria ocorrido ainda que a tivesse pensado mais outros quinze anos. Procurei o diálogo que mantive com aquele demónio mas, infelizmente, não o transcrevi ao acabar a sessão. Em essência, a resposta a esta questão é o seguinte:

Os demónios não vêem Deus, sabem que existe, mas não o vêem. Com a sua inteligência sabem que existe um ser espiritual que não é um espírito mais, mas a Divindade. Mas só os bem-aventurados vêem a Sua essência. Os demónios ouviram-no (isto é, tiveram conhecimento das espécies inteligíveis que lhes comunicou directamente), viram os seus efeitos (por exemplo, a criação do cosmos), mas não viram a Sua essência. A inteligência deles diz-lhes que o Criador, que o Motor Imóvel, tem de ser um ser infinito. Assim, ainda que conheçam a Sua existência, não viram o que vêem os bem-aventurados. Nesse sentido pode dizer-se que eles, embora não tenham visto, acreditam.

Mas não é uma fé sobrenatural, pois eles crêem que existe o que a sua inteligência lhes diz que tem de existir. É crer no facto de que Ele tem de ser do modo como a sua inteligência lhes diz que tem de ser. 

Darei um exemplo desta fé natural: eu não tenho a menor dúvida de que o continente asiático existe, embora nunca tenha estado nele nem o tenha visto. Creio-o só com a inteligência de um modo natural. Algo similar acontece com os demónios. Assim como acreditar que existe a Ásia não é um acto sobrenatural, assim os demónios crêem em Deus de um modo natural. Mas saber que existe e que tem de existir e que não pode ser de outra maneira não lhes causa alegria mas pesar.

Porque é que o Apóstolo diz que tremem? Tremem por saber que existe essa felicidade e por não poderem gozá-la. O que os aflige não é tanto o terem perdido Deus, mas a felicidade de Deus. Também nunca viram essa felicidade, nem a gozaram, e, no entanto, sabem que existe. 

Também tremem porque temem o castigo de Deus. Odeiam-n ´O e temem que actue como eles, de um modo vingativo perante esse ódio, porque eles vêem-n´O totalmente segundo a deformação da sua inteligência.