BEATA ALEXANDRINA MARIA DA COSTA

BEATA ALEXANDRINA MARIA DA COSTA

«”Tu amas-me?”, pergunta Jesus a Simão Pedro. Ele responde: “Senhor, tu sabes que eu te amo”.

 

A vida da Beata Alexandrina pode resumir-se neste diálogo de amor. Investida e abrasada por estas ânsias de amor, não quer negar nada ao seu Salvador: de vontade forte, tudo aceita para mostrar que O ama. Esposa de sangue, revive misticamente a paixão de Cristo e oferece-se como vítima pelos pecadores, recebendo a força da Eucaristia que se torna o único alimento dos seus últimos treze anos de vida. Pela esteira da Beata Alexandrina, expressa na trilogia “sofrer, amar, reparar”, os cristãos podem encontrar estímulo e motivação para nobilitar tudo o que a vida tenha de doloroso e triste com a prova maior de amor: sacrificar a vida por quem se ama.» (São João Paulo II, Homília, 25 de Abril de 2004).

 

Alexandrina nasce em Balazar, no concelho da Póvoa de Varzim, no dia 30 de Março de 1904 e é batizada a 2 de Abril. Permaneceria junto da sua família até aos 7 anos, mas depois foi enviada para a Póvoa de Varzim para uma família de forma a frequentar a escola primária que não havia em Balazar. Aqui receberia a Primeira Comunhão no ano de 1911 e, no ano seguinte, o Crisma.

 

Após dezoito meses volta a Balazar e vai viver com a mãe e a irmã Deolinda no lugar do Calvário, onde permanecerá toda a sua vida.

 

De boa constituição, começa a trabalhar nos campos. Vive uma adolescência vivaz, dotada de uma personalidade aberta e comunicativa, é do agrado dos seus amigos. Aos 12 anos adoece, com uma grave infeção, talvez febre tifoide intestinal, que quase a leva à morte. Apesar de superar, do seu corpo transpareciam sinais desta doença para sempre.

 

Chegados aos 14 anos, ocorreria um episódio que significaria uma viragem na sua vida. No Sábado Santo de 1918, estava ela com a Deolinda e uma amiga a costurar, três homens entraram na sua casa forçando as portas que estavam fechadas. Alexandrina para proteger a sua pureza atirou-se da janela de uma altura de quatro metros. As consequências da queda são terríveis, os médicos registaram uma lesão irreversível.

 

Até aos 19 anos arrastava-se até à Igreja, mas com a progressão da paralisia ficaria completamente imobilizada. A 14 de Abril de 1925, Alexandrina ficaria forçada a ficar de cama onde permaneceria o resto dos trinta anos da sua vida.

 

Pediria a cura a Nosso Senhor, por intercessão da Virgem de Fátima, até 1928, prometendo que se se curasse seria missionária. Por fim, quando compreende que o sofrimento seria a sua vocação, abandona-se à vontade de Deus: «Nossa Senhora deu-me uma graça ainda maior. Primeiro a resignação, depois a completa conformidade com a vontade de Deus e, finalmente, o desejo de sofrer.»

 

Os primeiros fenómenos místicos remontam a este período, quando Alexandrina inicia uma vida de grande união com Jesus nos sacrários através de Maria. Um dia quando estava a sós, veio-lhe um pensamento: «Vós no sacrário preso e abandonado e eu, Jesus, presa também por tua vontade […] a fazer-Vos companhia.» A partir daí começa a sua primeira missão: ser como a lâmpada do sacrário. Passa as noites como como peregrina de sacrário em sacrário. Em cada Missa oferece-se como vítima pelos pecadores ao Pai Eterno, junto com Jesus e segundo as suas intenções.

 

Nas longas horas de silêncio no seu quartinho, Alexandrina torna-se o «Anjo Consolador» de Jesus-Eucaristia presente em todos os sacrários do mundo, vivendo continuamente unida a Ele em espírito de amor, adoração e reparação. O lema de vida espiritual «Amar, reparar, sofrer» como seria instruída por Jesus para realizar a sua missão como vítima pela salvação das almas em união com Jesus, o Cordeiro imolado.

 

Pertencia à Pia União das Filhas de Maria e à associação «Marias dos Sacrários», fundada pelo bispo espanhol São Manuel Gonzales García conhecido como o «Bispo do Tabernáculo».

 

Em 1934, Jesus confia-lhe como missão, a devoção aos sacrários abandonados e a salvação das almas. Através de Alexandrina, Jesus pede que «[...] seja bem pregada e propagada a devoção aos Sacrários, porque passam-se dias e dias que Me não visitam, não Me amam, não Me desagravam. Não crêem que eu habito lá. Eu quero que se acenda nas almas a devoção para com estas Prisões de Amor... porque são tantos aqueles que, embora entrando na Igreja, nem sequer Me saúdam, e não param um momento para adorar-Me! Eu quereria muitos guardas fiéis, prostrados diante dos Sacrários, para impedirem tantos e tantos crimes!» (01,11,1934)

 

Desde 1935, Alexandrina é a apóstola escondida da Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria. O jesuíta, padre Mariano Pinho, o seu primeiro director espiritual, envia repetidos pedidos de Jesus ao Santo Padre para que o Papa consagrasse o mundo ao Imaculado Coração de Maria, um mundo ameaçado pelo ateísmo e pela Segunda Guerra Mundial: «... assim como pedi a Santa Margarida Maria para ser o mundo consagrado ao meu Divino Coração, assim o peço a ti para que seja consagrado a Ela.»

 

O sinal da autenticidade dado por Nosso Senhor para confirmar a origem divina deste pedido da consagração do mundo, é a Paixão de Cristo revivida em Alexandrina. De facto, de 3 de Outubro de 1938 até à Sexta-feira Santa de 1942, Alexandrina todas as Sextas-feiras, do meio-dia até às 15h00, levantava-se da sua cama e no espaço exíguo do seu quarto revivia misticamente a Paixão de Nosso Senhor da agonia do Horto das Oliveiras até à Crucifixão. Esta é, contemporaneamente, a sua extraordinária participação e cooperação com Deus para a salvação das almas.

 

O Papa Pio XII, a 31 de Outubro de 1924, consagraria o mundo ao Coração Imaculado de Maria, Senhora das Vitórias, Rainha da Paz, respondendo ao convite que entretanto lhe chegava de muitos lados, assim como da Alexandrina.

 

Com a Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria terminavam os êxtases visíveis da Paixão, mas continuaria para Alexandrina a íntima participação interior dos sofrimentos de Cristo Redentor e, nesse mesmo ano, começava o jejum total e total anúria (supressão da formação de urina) que se prolongará até ao fim da sua vida.

 

Durante os últimos 13 anos e 7 meses da sua vida, o seu único alimento é a Eucaristia. Esta é a última missão que Jesus lhe confiou: «Faço que vivas só de Mim para provar ao mundo o que vale a Eucaristia e o que é a minha vida nas almas: luz e salvação para a humanidade» (1954).

 

A partir de 1944, teve no salesiano Dom Umberto Maria Pasquale, o segundo director espiritual que se tornaria o seu principal biógrafo. Neste ano, Alexandrina torna-se Cooperadora Salesiana. Com a comunidade das novícias de Mogofores de quem é o director, Umberto Pasquale com o padre salesiano Ettore Calovi, trata da transcrição de milhares de páginas dos escritos da Alexandrina que são dactoligrafados pela primeira vez.

 

Na história da mística, os escritos de Alexandrina são um verdadeiro tesouro que ilumina o mistério de Jesus Cristo Redentor, dom do amor de Deus-Pai para a vida do mundo. No ano de 1954, como sinal da perfeita configuração a Cristo Crucificado, Alexandrina recebe os estigmas que a seu pedido permanecem invisíveis.

 

Meses antes da sua morte, Nossa Senhora destina-lhe uma missão: «Fala às almas, fala-lhes da Eucaristia, fala-lhes do Rosário. Que elas se alimentem da carne, do Corpo de Cristo e do alimento da oração, do meu terço quotidiano» (1955).

 

Dentro do seu quartinho, Alexandrina recebia uma multidão de pessoas que acolhia sempre com um sorriso, apesar dos grandes sofrimentos que vivia no corpo e na alma. O seu sorriso, revelador da luminosidade do Céu, irradiava a vida divina e tocava o coração das multidões que saíam daquele quartinho levando em si o sinal silencioso de uma mudança interior.

 

A 13 de Outubro de 1955, Alexandrina deixava a vida terrena para entrar na vida eterna e é declarada Beata em 25 de Abril de 2004 pelo papa João Paulo II.