«Aos trinta dias do mês de Março de mil novecentos e sete,
nesta paroquial Igreja de Fátima, concelho de Vila Nova de Ourém, Patriarcado de Lisboa, baptizei solenemente um indivíduo do
sexo feminino, a quem dei o nome de Lúcia, nascida em Aljustrel,
desta freguesia, às sete horas da tarde de vinte e dois de Março
corrente...» Assim reza a acta do baptismo. Seus pais eram António
dos Santos e Maria Rosa, residentes em Aljustrel, lugarejo pertencente à Paróquia de Fátima.
Sendo a última de sete irmãos, cinco raparigas e um rapaz,
teve uma infância de mimos e privilégios, a que não faltaram
desgostos e desgraças familiares, corajosamente suportados e
superados por aquela mulher exemplar que era sua mãe. Aos seis
anos, faz a sua primeira comunhão, cujo relato os nossos leitores
hão-de saborear com admiração e carinho. Nessa idade porque
assim o exigiam as necessidades da casa, começa a sua vida de
pastora. Primeiro, no ano de 1915, os seus companheiros são todas
as pequenas e pequenos de Aljustrel e arredores. A partir de 1917,
acompanham-na, quase exclusivamente, seus primos Francisco e
Jacinta Marto. É o ano das Aparições da Virgem. Nelas, Lúcia ocupa
um lugar especial, pois é a única que fala com Ela e d’Ela recebe
uma mensagem especial para dar a conhecer no futuro. Vive e
sofre com seus primos, por causa das Aparições; mas é também a
única que teria de ficar por mais tempo neste mundo, para cumprir
a sua missão.
A Virgem, na verdade, tinha-a mandado aprender a ler... Sem
dúvida, só depois das Aparições começa a ir à escola, onde rapidamente, com seu engenho e memória extraordinárias, aprende
as primeiras letras.
Passadas as Aparições, a situação de Lúcia era, naturalmente,
a de uma «vidente», com todos os riscos que isso comporta. Era
necessário fazer algo mais com ela. Atender à sua educação e
subtraí-la aos perigos que poderia sofrer naquele meio ambiente
de «milagreira» e de «maravilhosismo», foi uma das primeiras
preocupações do recém nomeado primeiro Bispo de Leiria, após a
restauração da Diocese. Na manhã de 17 de Junho de 1921 entrava,
como educanda, no Colégio das Irmãs Doroteias, em Vilar, hoje
integrado na cidade do Porto.
Recolhamos um retrato fisionómico da época, correspondente
a fotografias perfeitamente conhecidas: «cabeça alta e larga. Olhos
castanhos, grandes e vivos. Sobrancelhas pouco densas. Nariz
achatado, boca larga e lábios grossos. Queixo redondo. Rosto algo
mais que natural. Cabelos ruivos e finos. Baixa estatura, mas alta
para a sua idade (então tinha treze anos e meio). Feições bastas
mas rosto simpático. Ar de gravidade e de inocência. Viva,
inteligente, mas modesta e sem pretensões. Mãos grossas, de
trabalho e de tamanho regular.»
A jovenzita Lúcia entra no Colégio do Porto com catorze anos
e três meses. Ali recebe uma educação moral e religiosa excelente. A educação cultural é mais deficiente, pois não vai além da
instrução primária. Pelo contrário, a preparação de lavores femininos é muito boa. Mas a pequena Lúcia, com o seu grande talento,
grande memória, constância e seriedade de conduta, haveria de
tirar, de tudo isso, uma formação que poderíamos classificar de
suficientemente completa.
Lúcia, já antes de entrar no Colégio tinha tido uns vagos desejos
de consagrar-se a Deus na vida religiosa. Mas a intensa vida de
piedade que se cultivava no Colégio fê-la reflectir; e a sua primeira
ideia foi para as Carmelitas... Porém, o exemplo e o agradecimento
para com as suas formadoras decidiu-a a escolher o Instituto de
Santa Doroteia.
Nessa altura (1921-1925) as Doroteias portuguesas tinham o
Noviciado em Tuy. Para ali se dirigiu Lúcia, então jovem de 18 anos,
no dia 24 de Outubro de 1925. Seguirá imediatamente para a Casa
que as Doroteias tinham em Pontevedra, na Travessa de Isabel ll,
a fim de fazer o Postulantado. Esteve aqui desde o dia 25 de Outubro
de 1925 até 20 de Julho de 1926, data em que chega ao Noviciado
de Tuy para completar o Postulantado.
Com a imposição do hábito, em 2 de Outubro de 1926, começa o seu Noviciado. Ali passa os dois anos de Noviciado, para
professar no dia 3 de Outubro de 1928. Seis anos depois, é destinada à Casa de Pontevedra, para onde segue e permanece, até
que, de novo, em Maio de 1937, volta a Tuy. Aqui fica até Maio de
1946, em que recebe ordens para regressar a Portugal. Depois de
passar uns dias a visitar e a reconhecer os locais das Aparições,
na Cova da Iria e em Aljustrel, é destinada à Casa do Sardão, em
Vila Nova de Gaia, próximo do Porto. Entretanto, renovando antigos desejos de retiro e solidão, obtém do Papa Pio Xll a graça da
transferência para as Carmelitas.
Em 25 de Março de 1948, entra para o Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, para levar uma vida de oração e penitência até
à morte, ocorrida em 13 de Fevereiro de 2005
«Aos trinta dias do mês de Março de mil novecentos e sete,
nesta paroquial Igreja de Fátima, concelho de Vila Nova de Ourém, Patriarcado de Lisboa, baptizei solenemente um indivíduo do
sexo feminino, a quem dei o nome de Lúcia, nascida em Aljustrel,
desta freguesia, às sete horas da tarde de vinte e dois de Março
corrente...» Assim reza a acta do baptismo. Seus pais eram António
dos Santos e Maria Rosa, residentes em Aljustrel, lugarejo pertencente à Paróquia de Fátima.
Sendo a última de sete irmãos, cinco raparigas e um rapaz,
teve uma infância de mimos e privilégios, a que não faltaram
desgostos e desgraças familiares, corajosamente suportados e
superados por aquela mulher exemplar que era sua mãe. Aos seis
anos, faz a sua primeira comunhão, cujo relato os nossos leitores
hão-de saborear com admiração e carinho. Nessa idade porque
assim o exigiam as necessidades da casa, começa a sua vida de
pastora. Primeiro, no ano de 1915, os seus companheiros são todas
as pequenas e pequenos de Aljustrel e arredores. A partir de 1917,
acompanham-na, quase exclusivamente, seus primos Francisco e
Jacinta Marto. É o ano das Aparições da Virgem. Nelas, Lúcia ocupa
um lugar especial, pois é a única que fala com Ela e d’Ela recebe
uma mensagem especial para dar a conhecer no futuro. Vive e
sofre com seus primos, por causa das Aparições; mas é também a
única que teria de ficar por mais tempo neste mundo, para cumprir
a sua missão.
A Virgem, na verdade, tinha-a mandado aprender a ler... Sem
dúvida, só depois das Aparições começa a ir à escola, onde rapidamente, com seu engenho e memória extraordinárias, aprende
as primeiras letras.
Passadas as Aparições, a situação de Lúcia era, naturalmente,
a de uma «vidente», com todos os riscos que isso comporta. Era
necessário fazer algo mais com ela. Atender à sua educação e
subtraí-la aos perigos que poderia sofrer naquele meio ambiente
de «milagreira» e de «maravilhosismo», foi uma das primeiras
preocupações do recém nomeado primeiro Bispo de Leiria, após a
restauração da Diocese. Na manhã de 17 de Junho de 1921 entrava,
como educanda, no Colégio das Irmãs Doroteias, em Vilar, hoje
integrado na cidade do Porto.
Recolhamos um retrato fisionómico da época, correspondente
a fotografias perfeitamente conhecidas: «cabeça alta e larga. Olhos
castanhos, grandes e vivos. Sobrancelhas pouco densas. Nariz
achatado, boca larga e lábios grossos. Queixo redondo. Rosto algo
mais que natural. Cabelos ruivos e finos. Baixa estatura, mas alta
para a sua idade (então tinha treze anos e meio). Feições bastas
mas rosto simpático. Ar de gravidade e de inocência. Viva,
inteligente, mas modesta e sem pretensões. Mãos grossas, de
trabalho e de tamanho regular.»
A jovenzita Lúcia entra no Colégio do Porto com catorze anos
e três meses. Ali recebe uma educação moral e religiosa excelente. A educação cultural é mais deficiente, pois não vai além da
instrução primária. Pelo contrário, a preparação de lavores femininos é muito boa. Mas a pequena Lúcia, com o seu grande talento,
grande memória, constância e seriedade de conduta, haveria de
tirar, de tudo isso, uma formação que poderíamos classificar de
suficientemente completa.
Lúcia, já antes de entrar no Colégio tinha tido uns vagos desejos
de consagrar-se a Deus na vida religiosa. Mas a intensa vida de
piedade que se cultivava no Colégio fê-la reflectir; e a sua primeira
ideia foi para as Carmelitas... Porém, o exemplo e o agradecimento
para com as suas formadoras decidiu-a a escolher o Instituto de
Santa Doroteia.
Nessa altura (1921-1925) as Doroteias portuguesas tinham o
Noviciado em Tuy. Para ali se dirigiu Lúcia, então jovem de 18 anos,
no dia 24 de Outubro de 1925. Seguirá imediatamente para a Casa
que as Doroteias tinham em Pontevedra, na Travessa de Isabel ll,
a fim de fazer o Postulantado. Esteve aqui desde o dia 25 de Outubro
de 1925 até 20 de Julho de 1926, data em que chega ao Noviciado
de Tuy para completar o Postulantado.
Com a imposição do hábito, em 2 de Outubro de 1926, começa o seu Noviciado. Ali passa os dois anos de Noviciado, para
professar no dia 3 de Outubro de 1928. Seis anos depois, é destinada à Casa de Pontevedra, para onde segue e permanece, até
que, de novo, em Maio de 1937, volta a Tuy. Aqui fica até Maio de
1946, em que recebe ordens para regressar a Portugal. Depois de
passar uns dias a visitar e a reconhecer os locais das Aparições,
na Cova da Iria e em Aljustrel, é destinada à Casa do Sardão, em
Vila Nova de Gaia, próximo do Porto. Entretanto, renovando antigos desejos de retiro e solidão, obtém do Papa Pio Xll a graça da
transferência para as Carmelitas.
Em 25 de Março de 1948, entra para o Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, para levar uma vida de oração e penitência até
à morte, ocorrida em 13 de Fevereiro de 2005