CAPÍTULO 10. A VIRGEM QUE SE CASOU, IGNORANDO, COM UM HOMEM CASADO DEVE SER CONSIDERADA ADÚLTERA

CAPÍTULO 10. A VIRGEM QUE SE CASOU, IGNORANDO, COM UM HOMEM CASADO DEVE SER CONSIDERADA ADÚLTERA

 

Mas — insistem — e se uma mulher se casa, sem saber, com um homem casado?

 

Pois bem! Se ela continuar ignorando essa bigamia, ela jamais será adúltera. Mas, se ela ficar sabendo da bigamia, ela se torna adúltera no exato instante em que toma ciência dessa relação ilegítima.

 

É como acontece com o código rural, em que se é considerado um posseiro de boa fé, quando se detém inconscientemente a posse de uma propriedade alheia. Mas, no momento em que se toma ciência de que a propriedade é alheia, passa-se a ser considerado posseiro de má fé e merece-se a qualificação de injusto.

 

Longe de nós, eu não digo a compaixão toda humana, mas a ilusão que nos faria deplorar a censura das infâmias como um atentado ao matrimônio. Sobretudo quando estamos na cidade de Deus, sobre a montanha santa (Sl 47,2-3); em outros termos, na Igreja onde o casamento não é somente uma união, mas também um sacramento tão augusto que um marido não tem o direito de ceder sua mulher a outro, como fez Catão, na cidade romana, ao dar um exemplo que provocou, não um escândalo, mas os aplausos públicos, no dizer dos historiadores (PLUTARCO. Biografia de Catão de Útica).

 

Seria inútil continuar esta discussão, pois nossos adversários não ousam sustentar que não há pecado nessa matéria e muito menos negar que há adultério aí, para não se colocar em flagrante contradição com o próprio Senhor e os santos Evangelhos.

 

Continuando, se devemos admitir esses pecadores ao batismo e à mesa do Salvador, apesar de sua resolução claramente confessada de rejeitar toda censura; o que eu digo? Que é preciso evitar lhes dirigir qualquer reprovação sobre este assunto e adiar sua instrução, para considerá-los de bom grão, se eles se submetem à observação das regras e à correção de suas faltas e de tolerá-los como ao joio, se eles são rebeldes.

 

Continuando, eu digo, essa opinião nos mostra bem que não se está disposto a defender tais desregramentos ou considerá-los com amenidades ou pecadilhos. E qual é o cristão, movido por uma sincera esperança, que consentiria em não relevar o adultério ou em atenuá-lo?

 

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