Aliás, para não citar outras passagens, qual foi a resposta do Senhor ao rico que lhe perguntou qual era o bem que ele deveria fazer para adquirir a vida eterna? Que a repassem em suas mentes:
“Se queres entrar na vida, observa os mandamentos. Quais mandamentos, ele perguntou. O Senhor o lembrou então os mandamentos da Lei: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo. O rico, tendo dito que havia observado esses mandamentos desde sua juventude, o Senhor acrescenta o preceito que reúne a perfeição evangélica: o de vender todos os bens e convertê-los em esmolas para os pobres, a fim de ter um tesouro no céu e se unir ao Senhor que lhe falava” (Mt 19,16-21).
Os nossos adversários devem observar bem que esse personagem não foi convidado a acreditar e a se batizar — único meio, segundo eles, de adquirir a vida eterna —, mas foi instruído sobre as regras de conduta que somente a fé ensina a seguir docilmente.
Não quero, de fato, concluir do silêncio que o Senhor guardou sobre a necessidade de inculcar a fé, que se deve se limitar a ensinar regras de moral àqueles que aspiram se salvar. O dogma e a moral estão ligados por um laço indissolúvel, como eu já disse, pois o amor de Deus não pode existir naquele que não ama o próximo e nem o amor ao próximo naquele que não ama Deus.
As Escrituras mencionam tanto um preceito moral quanto um dogma — invés de formular a doutrina em seu conjunto — para mostrar que um não pode existir sem o outro. Com efeito, acreditar em Deus é se obrigar a cumprir os mandamentos de Deus e, para cumprir os mandamentos de Deus, é preciso necessariamente acreditar nele.