Esta polémica se relaciona manifestamente com uma passagem de São Pedro em sua segunda Epístola, em que ele recomenda uma pureza irrepreensível dos costumes e prevê que o mundo está destinado a perecer e que é preciso esperar novos céus e uma nova terra, que se tornarão o lar dos justos, querendo com isso advertir os fiéis para que se tornem dignos desse lar, através da santidade de suas vidas.
Sabendo então que certas mentes falsas se aproveitavam de algumas passagens difíceis das cartas do apóstolo São Paulo, para viverem na indiferença para com a moral, como se estivessem seguros de sua salvação somente em virtude da fé, São Pedro diz que havia nas cartas de seu irmão algumas passagens difíceis de entender e que pessoas ignorantes se desviavam de seu sentido, bem como de outras Escrituras, para sua própria ruína. Pois São Paulo pensava, como todos os apóstolos, que a salvação eterna só podia ser obtida com a condição de viver bem.
Eis o que diz São Pedro:
“Uma vez que todas estas coisas se hão de desagregar, considerai qual deve ser a santidade de vossa vida e de vossa piedade, enquanto esperais e apressais o dia de Deus, esse dia em que se hão de dissolver os céus inflamados e se hão de fundir os elementos abrasados! Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça. Portanto, caríssimos, esperando estas coisas, esforçai-vos em ser por ele achados sem mácula e irrepreensíveis na paz. Reconhecei que a longa paciência de nosso Senhor vos é salutar, como também vosso caríssimo irmão Paulo vos escreveu, segundo o dom de sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz em todas as suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras. Vós, pois, caríssimos, advertidos de antemão, tomai cuidado para que não caiais da vossa firmeza, levados pelo erro destes homens ímpios. Mas crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele a glória agora e eternamente” (2Pd 3,11-18)