CAPÍTULO 28. O PRIVILÉGIO PAULINO

CAPÍTULO 28. O PRIVILÉGIO PAULINO

 

É portanto em vão que, para provar a eficácia da fé, por ela mesma, alega-se esta passagem do Apóstolo: Mas, se o pagão quer separar-se, que se separe; em tal caso, nem o irmão nem a irmã estão ligados. Deus vos chamou a viver em paz (Mt 19,21). Isto significa que somente a fé em Jesus Cristo autoriza deixar um esposo legítimo se ele se recusa a coabitar com a outra parte que é cristã.

 

Aqui nossos adversários não levam em conta que haveria total justiça em repudiar uma mulher que tivesse um discurso assim com seu marido:

 

“Eu não quero mais ser sua esposa, se você não me enriquece mais com seus roubos, se você deixa de praticar — por que é cristão — o tráfico, que transformou sua casa em um lugar de prazeres”.

 

Enfim, uma mulher que mantivesse seu marido em todos os vícios, em todas as infâmias que ela conhecesse nele e das quais ela se aproveitava com prazer, seja para satisfazer sua lubricidade, seja para viver na ociosidade ou até mesmo para ostentar uma pompa maior.

 

Seguramente, o homem que tivesse uma mulher com um comportamento desses não deixaria de experimentar — se tivesse renunciado, pela penitência, às obras de morte, se aproximado do batismo e tomado por fundamento de sua conduta a fé que age através das obras — uma atração mais viva e mais poderosa pela graça divina do que pela beleza totalmente física de sua mulher e teria suficiente energia para cortar o membro que o escandaliza.

 

Ora, esse homem experimenta, ao romper seu casamento, uma dor inspirada em seu coração pela ligação totalmente carnal à sua esposa?

 

Eis a palha que a chama consumirá sem comprometer sua salvação.

 

Se for o contrário. Se ele tinha uma esposa como se não a tivesse.

 

Menos por concupiscência do que por um sentimento de misericórdia que o fizesse desejar salvá-la com ele e cumprir, mais do que exigir, as obrigações do casamento? A carne não se revoltará nele, quando houver o rompimento de uma união assim, pois ela não o impedirá de pensar unicamente nas coisas do Senhor e só lhe inspirará um desejo, o de agradar a Deus (1Cor 7, 29-34). Portanto, como ele só acrescentou ao fundamento o ouro, a prata e as pedras preciosas, se mantendo nos pensamentos totalmente divinos, ele não perderá nada e seu edifício, ao qual a palha não se misturou, não poderá ser consumido pela chama.

 

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