CAPÍTULO 3. A SALVAÇÃO DOS BATIZADOS PELA FÉ CATÓLICA E A TOLERÂNCIA DOS MAUS NA IGREJA. TESTEMUNHOS DAS ESCRITURAS: MOISÉS E SÃO PAULO

CAPÍTULO 3. A SALVAÇÃO DOS BATIZADOS PELA FÉ CATÓLICA E A TOLERÂNCIA DOS  MAUS NA IGREJA. TESTEMUNHOS DAS ESCRITURAS: MOISÉS E SÃO PAULO

 

Eu respondo a essas pessoas e lhes declaro primeiramente que não se deve interpretar as passagens onde as Escrituras assinalam no presente ou predizem para o futuro uma mistura dos bons e dos maus na Igreja, no sentido de relaxar ou até mesmo destruir a disciplina em seu rigor e em sua pureza. Assim não estaríamos mais sendo esclarecidos pelas santas Escrituras, mas enganados pelo seu sentido próprio. Moisés, o servidor de Deus, sem dúvida tolerou com uma paciência infinita essa mistura no povo primitivo, mas nem por isso ele deixou de condenar com a espada um grande número de culpados. O sacerdote Finéias surpreendeu adúlteros e os perfurou imediatamente com o ferro vingador (Nm 25, 5-8).

 

A degradação e a excomunhão são os símbolos desses castigos na disciplina atual da Igreja, que fez retornar à bainha a espada visível.

 

O santo Apóstolo se contentou em se lamentar no meio dos falsos irmãos (1Cor 5, 1-5). Ele permitiu a alguns pregadores que anunciassem Jesus Cristo (Fl 1,16-18), apesar da inveja diabólica, cujo espinho os molestava, mas não admitiu nenhuma tolerância para com o cristão que se casou com a mulher de seu pai e ordenou que a Igreja se reunisse e o entregasse a Satã, para a morte de sua carne e com o objetivo de que sua alma fosse salva no dia do Juízo Final de Nosso Senhor Jesus Cristo, que também entregou vários a Satã, para que eles aprendessem a não blasfemar (1Tm 1, 20).

 

Não fosse assim, as palavras seguintes não teriam nenhum sentido: Na minha carta vos escrevi que não tivésseis familiaridade com os impudicos. Porém, não me referia de um modo absoluto a todos os impudicos deste mundo, os avarentos, os ladrões ou os idólatras, pois neste caso deveríeis sair deste mundo. Mas eu simplesmente quis dizer-vos que não tenhais comunicação com aquele que, chamando-se irmão, é impuro, avarento, idólatra, difamador, beberrão, ladrão. Com tais indivíduos nem sequer deveis comer. Pois que tenho eu de julgar os que estão fora? Não são os de dentro que deveis julgar? Os de fora é Deus que os julgará… Tirai o perverso do vosso meio (1Cor 5,9-13) .

 

Com as palavras do vosso meio, alguns entendem a obrigação que todos temos de arrancar de nós mesmos o pecado ou, em outros termos, de nos tornarmos bons. Mas, seja entendendo que é preciso entregar os maus à severidade da Igreja e lhes infligir a pena da excomunhão, seja vendo nesta passagem o dever para todo fiel de extirpar o pecado de seu coração através da penitência e a mudança de vida, não há dúvida nas palavras em que o Apóstolo prescreve que não se tenha nenhum relacionamento com os irmãos manchados pelos vícios que ele enumera, ou seja, com as pessoas notoriamente caídas e perdidas.

 

Quanto ao espírito de caridade que deve temperar essa severidade misericordiosa, ele não é mostrado somente na passagem em que o Apóstolo diz: A fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus (1Cor 5,5), mas ele aparece manifestamente também nesta passagem: Se alguém não obedecer ao que ordenamos por esta carta, notai-o e, para que ele se envergonhe, deixai de ter familiaridade com ele. Porém, não deveis considerá-lo como inimigo, mas repreendê-lo como irmão (2Ts 3, 14 e 15).

 

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