O exemplo da cananeia também não poderia nos induzir a esse erro. Sem dúvida que o Senhor atendeu sua prece, após lhe ter dito: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos (Mt 15,26). Mas o Deus que sonda os corações tinha visto sua conversão interior, quando louvou sua fé e, assim, não disse: “Cadela, tua fé é grande”, mas Ó mulher, grande é tua fé! (Mt 15,28). Ele muda sua expressão por que vê que os sentimentos da cananeia mudaram e suas censuras surtiram efeito.
Eu não poderia pensar sem espanto que se preconiza nessa mulher a fé sem obras; essa fé que não é seguida pela caridade; essa fé morta que não é privilégio dos cristãos, mas dos demônios, como não hesita em chamá-la o apóstolo São Tiago.
Quem não quiser compreender que a cananeia viu se operar uma reviravolta em suas paixões criminosas, sob as palavras desdenhosas e severas de Jesus Cristo, então, quando encontrarem pessoas que possuem a fé, mas que não escondem sua conduta desregrada e chegam até mesmo a expô-la publicamente e se recusam a mudar, que curem seus filhos, se puderem, como Jesus Cristo curou a filha da cananeia, mas que não façam essas pessoas membros de Jesus Cristo, quando obstinam em permanecer como prostituídas.
Há razão, eu digo, para acreditar que se comete com relação ao Espírito Santo um pecado irremissível, ao perseverar na incredulidade até o fim de seus dias. Mas também é preciso compreender qual é o caráter da crença verdadeira em Jesus Cristo. Não é uma fé morta — como foi justamente chamada — e que é encontrada até nos próprios demônios; é a fé que age através da caridade.