Se a passagem que acabamos de citar pouco permite contar com uma sorte feliz àqueles que querem acreditar em Deus sem interromper suas desordens, mais ameaçadora ainda deve lhes parecer aquela em que o Apóstolo diz: Todos os que sem a lei pecaram, sem aplicação da lei perecerão; e quantos pecaram sob o regime da lei, pela lei serão julgados (Rm 2,12). Há os que acreditam que as expressões perecer e ser julgado são diferentes, mas elas são rigorosamente sinônimas.
Na linguagem comum das Escrituras, a palavra julgamento significa condenação eterna. Foi neste sentido que Nosso Senhor a empregou, quando disse: Vem a hora em que todos os que se acham nos sepulcros sairão deles ao som de sua voz: os que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem julgados (Jo 5,28-29), ou condenados. E aqui não se fala daqueles que tiveram a fé ou que foram incrédulos; trata-se apenas daqueles que fizeram o bem ou que fizeram o mal. Pois a vida honesta é inseparável da fé que age através da caridade, ou melhor, ela está incluída inteira nela.
Está claro, portanto, que por “ressurreição seguida de julgamento”, o Senhor entende a ressurreição seguida da condenação eterna, pois ele coloca em duas classes aqueles que ressuscitarão, sem excluir os incrédulos que também estão no sepulcro e declara que uns ressuscitarão para a vida eterna e os outros para serem julgados.