CAPÍTULO 43. O JUÍZO, NAS ESCRITURAS, EQUIVALE À CONDENAÇÃO ETERNA

CAPÍTULO 43. O JUÍZO, NAS ESCRITURAS, EQUIVALE À CONDENAÇÃO ETERNA

 

Sustenta-se que esta passagem não diz respeito aos incrédulos, mas aos crentes, cuja fé os salvará através das chamas, apesar de sua vida criminosa e que é preciso entender pelo termo julgamento a pena passageira à qual eles serão condenados.

 

Este discurso soa bem despudorado depois que o Senhor dividiu aqueles que ressuscitarão, sem excluir os incrédulos, em duas classes, caracterizadas pelos termos “vida” e “julgamento”. Ele designou, então, implicitamente a vida e o julgamento eternos; especialmente por que ele não qualificou de eterna a vida à qual ressuscitarão os bons, embora não se possa atribuir outro sentido à sua expressão.

 

Mas, o que dirão sobre esta passagem: Quem não crê já está julgado (Jo 3,18 – Qui autem non credit, jam judicatus est)? Aqui, com efeito, das duas uma, ou se reconhece que o julgamento implica na danação eterna ou se admite ousadamente que os próprios incrédulos escaparão através do fogo. A palavra julgado, nesta passagem, significa destinado ao julgamento: Quem não crê já está julgado.

 

Desta forma, não se prometeu um favor maravilhoso aos crentes que vivem no mal, já que os incrédulos também teriam que sofrer um julgamento, muito mais do que uma condenação.

 

Não é muita ousadia ter um discurso assim? Que não se tenha então a ousadia de alimentar uma doce esperança naqueles dos quais foi dito: Pela lei serão julgados (Rm 2,12), pois é incontestável que a palavra julgamento é comumente sinônimo de condenação eterna.

 

Eu acrescentaria que aqueles que pecam conscientemente são ameaçados por uma sorte bem mais rigorosa. Eles estão longe de esperar um tratamento mais suave. Esses pecadores são principalmente aqueles que admitiram a lei, pois, segundo o que está escrito: A lei produz a ira e onde não existe lei, não há transgressão (Rm 4,15). E, em outro lugar: Eu não conheci o pecado senão pela lei. Porque não teria ideia da concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás. Foi o pecado, portanto, que, aproveitando-se da ocasião que lhe foi dada pelo preceito, excitou em mim todas as concupiscências; porque, sem a lei, o pecado estava morto (Rm 7,7-8). Omito um grande número de passagens em que o Apóstolo trata este ponto da doutrina.

 

Essa acusação é muito grave, mas ela cai, sob a influência da graça do Espírito Santo, no nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. A graça, com efeito, derramada pela caridade no fundo de nossos corações, nos inspira pela justiça um amor capaz de interromper os atrativos da concupiscência.

 

Esta é a prova evidente de que aqueles que pecaram sob o regime da lei, pela lei serão julgados (Rm 2,12) e sofrerão um castigo mais severo e mais rigoroso do que aqueles que, tendo pecado fora da lei, serão condenados fora da lei. A palavra julgamento não designa, neste trecho, um suplício passageiro, mas a própria pena que será decretada contra os incrédulos.

 

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