CAPÍTULO 47. NÃO SE DEVE PROMETER UM CASTIGO TRANSITÓRIO AOS BATIZADOS QUE VIVEM PECAMINOSAMENTE

CAPÍTULO 47. NÃO SE DEVE PROMETER UM CASTIGO TRANSITÓRIO AOS BATIZADOS QUE VIVEM PECAMINOSAMENTE

 

Que não se prometa então o purgatório àqueles que, após terem conhecido a vida da justiça, vivem uma vida de desordem e de crimes, pois teria sido melhor para eles que não a tivessem conhecido, segundo o testemunho das Escrituras.

 

A eles se aplicam estas palavras do Senhor: O último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro (Mt 12,45). Ao se recusarem receber o Espírito Santo em seus corações, para que ele ali resida e os purifique, eles chamam o espírito imundo e seus companheiros.

 

Seria um mérito deles não terem recaído no adultério, já que jamais renunciaram a ele, ou não estarem cobertos com suas sujeiras passadas, já que jamais quiseram se purificar?

 

Mas eles nem mesmo se dignam entrar no banho sagrado com uma consciência descarregada de suas faltas e em rejeitar suas torpezas.

 

Eles devem retornar a elas, como o cão aos seus vômitos. No próprio seio da água que regenera, eles mantém em seus corações o peso de sua perversidade. Longe de esconderem sua intemperança, mesmo sob o véu de uma promessa hipócrita, eles a proclamam e parecem vomitá-la, com a impudente confissão de seu endurecimento.

 

Eles não somente imitam a mulher de Ló, que, ao deixar Sodoma, olhou para trás, como não querem nem mesmo deixar Sodoma.

 

Que digo!? Eles até mesmo se esforçam por levar Jesus Cristo para Sodoma.

 

Por que São Paulo disse: Outrora era blasfemo, perseguidor e injuriador. Mas alcancei misericórdia, porque ainda não tinha recebido a fé e o fazia por ignorância (1Tm 1,13), digamos a esses pecadores: “Vocês terão direito à misericórdia divina, na medida em que viveram cientemente no mal, tendo a fé”.

 

Mas, iríamos muito longe, iríamos até o infinito, se quiséssemos reunir todos os testemunhos das Escrituras que mostram claramente que a condição dos pecadores, cuja vida foi culposa e infame, apesar das luzes da fé, longe de ser mais suave, será tão rigorosa quanto mais eles agiram conscientemente. Este é um princípio que demonstramos suficientemente.

 

IR PARA O INDICE A FÉ E AS OBRAS DE SANTO AGOSTINHO