CAPÍTULO 48. O BATISMO NÃO LEVA AO REINO DOS CÉUS SE A VIDA NÃO FOR CORRESPONDENTE

CAPÍTULO 48. O BATISMO NÃO LEVA AO REINO DOS CÉUS SE A VIDA NÃO FOR CORRESPONDENTE

 

Coloquemos então toda nossa atenção, com a ajuda do Senhor nosso Deus, em não inspirar nas pessoas uma falsa segurança, insuflando-lhes a esperança de que poderão, após terem sido batizados em Jesus Cristo, obter a salvação eterna, qualquer que tenha sido o desacordo de sua conduta com essa fé nova.

 

Evitemos fazer cristãos como faziam prosélitos os judeus dos quais o Senhor disse:

 

“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos” (Mt 23,15).

 

Mantenhamo-nos na verdadeira doutrina estabelecida por Deus, nosso mestre, segundo a qual a vida cristã deve corresponder com a santidade do batismo e a esperança da vida eterna deve ser interditada a todo aquele que não cumpre esta dupla lei.

 

Eis, com efeito, as palavras do Senhor: Quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus (Jo 3,5). E também: Se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus (Mt 5,20). Ele os descreve assim: Os escribas e os fariseus sentaram-se na cadeira de Moisés. Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem (Mt 23, 2-3).

 

Sua justiça consiste, portanto, em falar sem praticar. Por consequência, a nossa deve ser mais abundante que sua estéril teoria. Deve consistir em falar e praticar como quer Nosso Senhor. Caso contrário, o reino dos céus nos estará fechado.

 

Eu não quero dizer que se deva ter orgulho a ponto de se vangloriar diante dos outros, ou mesmo em sua consciência, de ser sem pecado aqui em baixo; longe disso. Mas, se não houvesse faltas tão graves a ponto de merecer a excomunhão, o Apóstolo não teria dito: Reunidos vós e o meu espírito, com o poder de nosso Senhor Jesus, seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus (1Cor 5,4-5).

 

Ele também não teria acrescentado a este tema: Receio que à minha chegada entre vós Deus me humilhe ainda a vosso respeito; e tenha de chorar por muitos daqueles que pecaram e não fizeram penitência da impureza, fornicação e dissolução que cometeram (2Cor 12,21).

 

Sem dúvida também, se não houvesse certos crimes que devessem ser espiados pelas humilhações da penitência que a Igreja inflige costumeiramente aos fiéis que se arrependem, mas remédios mais eficazes, o próprio Senhor não teria dito: Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão (Mt 18,16).

 

Por fim, se não houvesse faltas inseparáveis da vida humana, ele não teria estabelecido um remédio cotidiano na oração que ele nos ensinou: Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam (Mt 6,12).

 

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