CAPÍTULO 9. A NECESSIDADE DE UMA INSTRUÇÃO PRÉVIA AO BATISMO

CAPÍTULO 9. A NECESSIDADE DE UMA INSTRUÇÃO PRÉVIA AO BATISMO

 

Que se batize primeiro — dizem — e que se ensine depois as regras da moral.

 

Sem dúvida que, quando uma pessoa cai subitamente em perigo de morte, faz-se a ela um ato de fé, com certas fórmulas que reúnem todos os dogmas de forma abreviada e se confere a ela o batismo, para que, se ela vier a morrer, não esteja sob o golpe da acusação que arrastariam suas faltas passadas.

 

Mas, se esse sacramento for pedido com plena saúde e com tempo para a instrução, tem-se, para ensinar a se tornar e permanecer cristão, um momento mais favorável do que aquele em que se solicita com a atenção e a expectativa provocada pela própria religião, o sacramento destinado a fortificar a fé?

 

Teríamos perdido a memória a ponto de não nos lembrarmos da atenção e da emoção que excitava em nós o ensino dos catequistas, quando pedimos o batismo e recebemos a designação de postulantes?

 

Não vemos também, todo ano, o ânimo daqueles que vem se regenerar na água santa, se submetendo às instruções, aos exorcismos, aos exames de consciência? Que recolhimento, que zelo fervoroso, que ansiedade mesclada com esperança! Se esse não é o momento de aprender o segredo de colocar sua conduta em harmonia com a grandeza do sacramento que se deseja receber, quando será? Será quando, já recebido o sacramento e obstinado nas faltas as mais graves, mesmo após o batismo, estaremos mais diante de um velho culpado do que de um ser renovado?

 

Certamente que há uma estranha contradição em começar por dizer: “Vista o homem novo”, para acrescentar em seguida: “Dispa o homem velho”, quando o Apóstolo, seguindo a ordem natural das coisas, diz: Vós vos despistes do homem velho com os seus vícios e vos revestistes do novo (Col 3, 9-10) e o próprio Senhor clama: Ninguém põe um remendo de pano novo numa veste velha, porque arrancaria uma parte da veste e o rasgão ficaria pior. Não se coloca tampouco vinho novo em odres velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem. Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos e, assim, tanto um como outro se conservam (Mt 9,16-17).

 

Para que serve o tempo em que se tem o título e a classificação de catecúmeno, se não é para aprender no que consiste a fé e a conduta de um cristão, para que, tendo se provado, apresente-se para comer na mesa do Senhor e para beber de sua taça?

 

Que cada um se examine a si mesmo e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação (1Cor 11,28-29).

 

Se estas máximas são seguidas durante todo o tempo fixado sabiamente na Igreja, para manter entre os catecúmenos aqueles que querem tomar o nome de Cristo, intensifica-se ainda mais a vigilância e o zelo nesses dias em que se recebe o título de postulante, após a inscrição para ser batizado.

 

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