COMO TUDO COMEÇOU

COMO TUDO COMEÇOU
Zélia Guérin e Luis Martin tiveram nove filhos, quatro dos quais faleceram em tenra idade. A mais nova chamava-se Maria Francisca Teresa Martin. Aos quinze anos entra no Carmelo de Lisieux, onde já se encontravam duas das suas irmãs, tomando o nome de Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. Seis anos mais tarde, depois da morte do pai, entra no mesmo Carmelo uma outra sua irmã, chamada Celina. Aqui permanece durante nove anos, vindo a falecer no dia 30 de Setembro de 1897, aos vinte e quatro anos de idade. Como é que o seu nome se torna tão conhecido, e tão depressa, do mundo inteiro? Vamos ver como tudo começou.
Para suavizar os rigores do Inverno as irmãs Martin reuniam-se, depois de Matinas, numa sala, para se aquecerem, antes de se entregarem ao descanso. Teresa aproveitava para contar algumas histórias da sua infância, passada em Aleçon e nos Boissonnets. Ela começou a despertar tanto interesse que um dia a Irmã Maria do Sagrado Coração propõe à Madre Inês, Prioresa na altura, que Teresa escrevesse as recordações da sua infância. A irmã Maria está convencida que Teresa é um Anjo e que não vai permanecer muito tempo neste mundo e seria uma pena que a família Martin perdesse todos aqueles pormenores, tão interessantes. Então a Madre Inês ordena que Teresa escreva todas as suas recordações de infância. Teresa não gosta da ideia e põe certas reticências. A vida da Carmelita está de tal maneira preenchida que não há tempo para escrever. Depois tem medo que ao falar de si mesma se ponha em foco, quando Deus é que deve estar sempre primeiro lugar. Contudo, Teresa interioriza este desejo de sua irmã e Jesus na oração fá-la-á "sentir" como é do seu agrado, que ela obedeça com simplicidade. "No dia em que me pedistes que o fizesse, pareceu-me que isso distrairia o meu coração, ocupando-o consigo mesmo; mas depois Jesus fez-me sentir que obedecendo simplesmente lhe agradaria" (Ms A, 2rº).
Teresa vai ajoelhar-se diante duma imagem de Nossa Senhora, a Virgem do Sorriso, que a curara quando ela tinha dez anos. "Supliquei-lhe que guiasse a minha mão a fim de eu não traçar uma única linha que não lhe agradasse" (lb.). Depois de se encomendar a Nossa Senhora, Teresa abre o Santo Evangelho e os seus olhos caíram sobre estas palavras:"Jesus subiu, depois, a um monte e chamou os que Ele quis. E foram ter com Ele" (Mc 3,13). E Teresa prossegue: Eis todo o mistério da minha vocação, da minha vida inteira e, sobretudo, o mistério dos privilégios de Jesus para com a minha alma..." (lb.).
Teresa começa de joelhos e com os Evangelhos diante. Bom exemplo para muitos teólogos. Será num clima de oração, de intercessão que Teresa vai escrever o que o Espírito Santo inspirar. Através da oração vai descobrir os movimentos da graça, vai fixar no papel os momentos mais importantes do processo para os lembrar e deste modo dar graças a Deus. Por isso, como ela diz: "não é propriamente a minha vida que vou escrever mas os meus pensamentos acerca das graças que Deus se dignou conceder-me".
Encontro-me numa fase da minha existência em que posso lançar um olhar sobre o passado. A minha alma amadureceu no crisol das provações exteriores e interiores... O Senhor sempre foi compassivo e cheio de bondade para comigo... Tardo em castigar e abundante em misericórdias!... (Sl. 102,8). 
Por isso, minha Madre, é com prazer que venho cantar junto de vós as misericórdias do Senhor. (Ms A, 3rº e vº).
Teresa de Menino Jesus, aliás como a sua Madre fundadora, o que vai escrever não é a sua autobiografia, mas as "misericórdias do Senhor", a sua história de salvação, as grandes maravilhas que Deus nela realizou. 
Com este espírito e disposição interior ela começa a escrever. Pede um caderno e dão-lhe um de aluno da escola.
Nele escreve: caderno de obediência. Começa a tarefa em Janeiro de 1895 e o título é o seguinte: "História primaveril de uma florzinha branca escrita por ela própria e dedicada à Reverenda Madre Inês de Jesus". Porquê florzinha branca? Porque o seu pai tinha-lhe dado uma flor branca no dia em que ela, nos Boissonnets, anunciou que queria entrar no Carmelo, Pentecostes de 1887. Teresa enche seis cadernos. Ao fim de um ano ela própria junta-os todos, fazendo um livro e, no dia 21 de Janeiro de 1896, festa da Prioresa, Madre Inês de Jesus, chegando ao lugar da oração ela ajoelha-se diante da sua irmã, Madre Inês, e entrega-lhe o livro. A Madre recebe-o e nada diz. Coloca-o no seu banco e aí fica esquecido, uma vez que tem outras coisas em que pensar. Teresa cumpriu a sua tarefa e nunca mais falará no livro. Quando ela deixar de ser Prioresa, então, aproveitará para o ler. 
O tempo passa e Teresa encontra-se muito doente. A Madre Inês vê que sua irmã já não terá muito tempo de vida e na tarde de 8 de Junho de 1897 vai ter com a nova Prioresa, Madre Maria de Gonzaga e fala-lhe do "Manuscrito". Além disso sugere-lhe a ideia, uma vez que a morte se avizinha, de o escrito poder servir para a notícia necrológica da sua irmã. Mais ainda: a Madre sugere à Prioresa a possibilidade de Teresa escrever mais alguma coisa sobre a sua vida religiosa. A Madre Gonzaga concorda mas com a condição que esse caderno fosse a ela dirigido. 
A Madre Inês dá a Teresa, doente, um pequeno caderno preto e pede-lhe para escrever. Esta pôe reticências, uma vez que já se encontra muito doente. Mas, perante a insistência da Madre, Teresa, apesar de cansada e diminuída pela doença, põe-se ao trabalho a partir do dia seguinte. Teresa escreve: "Junho de 1897. Minha Madre muito querida, manifestaste-me o desejo de que em vossa companhia acabe de cantar as Misericórdias do Senhor" (Ms C, 1rº).
Teresa escreve até ao dia 16 de Julho de 1897 quando, cansada e esgotada, baixa à enfermaria.
Além destes dois "Manuscritos", um dirigido à Madre Inês de Jesus e outro à Madre Maria de Gonzaga, existe um terceiro que foi escrito no intervalo destes dois, concretamente em Setembro de 1896. Teresa ia começar o seu retiro privado mas antes a sua irmã Maria do Sagrado Coração pede-lhe para escrever alguma coisa acerca do seu "caminho" e da doutrina que ela dava às noviças. Este retiro trouxe-lhe muitas luzes sobre a sua vocação e sua irmã insiste que as ponha por escrito. Teresa, obediente, escreve-lhe uma carta. A irmã Maria do Sagrado Coração responde-lhe e Teresa escreve-lhe uma segunda mas esta dirigida a Jesus, porque dizia que, quando escrevia a Jesus exprimia-se mais facilmente. Estas duas cartas constituem o que hoje chamamos "Manuscrito B", que não foi integrado na "História duma Alma" desde o princípio. Portanto temos três documentos diferentes, dirigidos a pessoas diferentes. 
É a partir destes documentos que a Madre Inês, depois da morte de Teresa, vai fazer um livro com a aprovação da Madre Gonzaga, um livro que será, portanto, uma circular necrológica.
O cometido não é nada fácil. Ela encontra-se com documentos, podemos dizer incoerentes, que não estão ligados entre si, dirigidos a pessoas diferentes e com faltas de ortografia. Perante esta situação a Madre Inês vai dar certa unidade aos textos. Para isso divide o livro em doze capítulos, coisa que Teresa não fez, suprime algumas passagens que lhe parecem pouco úteis para o leitor e introduz outras para dar mais harmonia ao livro. Faz os seus arranjos. Por fim dar-lhe-á um título: História de uma Alma. 
É verdade que nas últimas semanas da vida de Teresa, já na enfermaria, a Madre Inês fala-lhe na possibilidade de publicar alguma coisa do que ela escreveu. Jamais lhe tinha passado esta ideia pelo pensamento e, por isso mesmo, Teresa fica inquieta porque havia coisas muito importantes que ela não tinha dito, como por exemplo: no fim da vida dela preocupa-se imenso com os pecadores. Contudo manifesta toda a sua confiança na Madre Inês que tinha sido a sua "pequena mãe" e a sua professora. Por isso mesmo, dá-lhe total liberdade para corrigir, tirar ou pôr o que ela bem entendesse, coisa que a Madre Inês fez. 
O livro foi confiado ao teólogo Godofredo Madelaine, Prior da Abadia de Mondaye, primeiro censor e prefaciador da História de uma Alma. Um ano após a morte de Teresa, 30 de Setembro de 1898, aparece o livro publicado, dois mil exemplares. É enviado a todos os Carmelos de França e a alguns sacerdotes amigos. Restaram algumas centenas que foram colocadas no locutório do Carmelo. Estava lançado o rastilho. 
Zélia Guérin e Luis Martin tiveram nove filhos, quatro dos quais faleceram em tenra idade. A mais nova chamava-se Maria Francisca Teresa Martin. Aos quinze anos entra no Carmelo de Lisieux, onde já se encontravam duas das suas irmãs, tomando o nome de Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. Seis anos mais tarde, depois da morte do pai, entra no mesmo Carmelo uma outra sua irmã, chamada Celina. Aqui permanece durante nove anos, vindo a falecer no dia 30 de Setembro de 1897, aos vinte e quatro anos de idade. Como é que o seu nome se torna tão conhecido, e tão depressa, do mundo inteiro? Vamos ver como tudo começou.
 
Para suavizar os rigores do Inverno as irmãs Martin reuniam-se, depois de Matinas, numa sala, para se aquecerem, antes de se entregarem ao descanso. Teresa aproveitava para contar algumas histórias da sua infância, passada em Aleçon e nos Boissonnets. Ela começou a despertar tanto interesse que um dia a Irmã Maria do Sagrado Coração propõe à Madre Inês, Prioresa na altura, que Teresa escrevesse as recordações da sua infância. A irmã Maria está convencida que Teresa é um Anjo e que não vai permanecer muito tempo neste mundo e seria uma pena que a família Martin perdesse todos aqueles pormenores, tão interessantes. Então a Madre Inês ordena que Teresa escreva todas as suas recordações de infância. Teresa não gosta da ideia e põe certas reticências. A vida da Carmelita está de tal maneira preenchida que não há tempo para escrever. Depois tem medo que ao falar de si mesma se ponha em foco, quando Deus é que deve estar sempre primeiro lugar. Contudo, Teresa interioriza este desejo de sua irmã e Jesus na oração fá-la-á "sentir" como é do seu agrado, que ela obedeça com simplicidade. "No dia em que me pedistes que o fizesse, pareceu-me que isso distrairia o meu coração, ocupando-o consigo mesmo; mas depois Jesus fez-me sentir que obedecendo simplesmente lhe agradaria" (Ms A, 2rº).
 
Teresa vai ajoelhar-se diante duma imagem de Nossa Senhora, a Virgem do Sorriso, que a curara quando ela tinha dez anos. "Supliquei-lhe que guiasse a minha mão a fim de eu não traçar uma única linha que não lhe agradasse" (lb.). Depois de se encomendar a Nossa Senhora, Teresa abre o Santo Evangelho e os seus olhos caíram sobre estas palavras:"Jesus subiu, depois, a um monte e chamou os que Ele quis. E foram ter com Ele" (Mc 3,13). E Teresa prossegue: Eis todo o mistério da minha vocação, da minha vida inteira e, sobretudo, o mistério dos privilégios de Jesus para com a minha alma..." (lb.).
 
Teresa começa de joelhos e com os Evangelhos diante. Bom exemplo para muitos teólogos. Será num clima de oração, de intercessão que Teresa vai escrever o que o Espírito Santo inspirar. Através da oração vai descobrir os movimentos da graça, vai fixar no papel os momentos mais importantes do processo para os lembrar e deste modo dar graças a Deus. Por isso, como ela diz: "não é propriamente a minha vida que vou escrever mas os meus pensamentos acerca das graças que Deus se dignou conceder-me".
 
Encontro-me numa fase da minha existência em que posso lançar um olhar sobre o passado. A minha alma amadureceu no crisol das provações exteriores e interiores... O Senhor sempre foi compassivo e cheio de bondade para comigo... Tardo em castigar e abundante em misericórdias!... (Sl. 102,8). 
 
Por isso, minha Madre, é com prazer que venho cantar junto de vós as misericórdias do Senhor. (Ms A, 3rº e vº).
Teresa de Menino Jesus, aliás como a sua Madre fundadora, o que vai escrever não é a sua autobiografia, mas as "misericórdias do Senhor", a sua história de salvação, as grandes maravilhas que Deus nela realizou. 
 
Com este espírito e disposição interior ela começa a escrever. Pede um caderno e dão-lhe um de aluno da escola.
Nele escreve: caderno de obediência. Começa a tarefa em Janeiro de 1895 e o título é o seguinte: "História primaveril de uma florzinha branca escrita por ela própria e dedicada à Reverenda Madre Inês de Jesus". Porquê florzinha branca? Porque o seu pai tinha-lhe dado uma flor branca no dia em que ela, nos Boissonnets, anunciou que queria entrar no Carmelo, Pentecostes de 1887. Teresa enche seis cadernos. Ao fim de um ano ela própria junta-os todos, fazendo um livro e, no dia 21 de Janeiro de 1896, festa da Prioresa, Madre Inês de Jesus, chegando ao lugar da oração ela ajoelha-se diante da sua irmã, Madre Inês, e entrega-lhe o livro. A Madre recebe-o e nada diz. Coloca-o no seu banco e aí fica esquecido, uma vez que tem outras coisas em que pensar. Teresa cumpriu a sua tarefa e nunca mais falará no livro. Quando ela deixar de ser Prioresa, então, aproveitará para o ler. 
 
O tempo passa e Teresa encontra-se muito doente. A Madre Inês vê que sua irmã já não terá muito tempo de vida e na tarde de 8 de Junho de 1897 vai ter com a nova Prioresa, Madre Maria de Gonzaga e fala-lhe do "Manuscrito". Além disso sugere-lhe a ideia, uma vez que a morte se avizinha, de o escrito poder servir para a notícia necrológica da sua irmã. Mais ainda: a Madre sugere à Prioresa a possibilidade de Teresa escrever mais alguma coisa sobre a sua vida religiosa. A Madre Gonzaga concorda mas com a condição que esse caderno fosse a ela dirigido. 
A Madre Inês dá a Teresa, doente, um pequeno caderno preto e pede-lhe para escrever. Esta pôe reticências, uma vez que já se encontra muito doente. Mas, perante a insistência da Madre, Teresa, apesar de cansada e diminuída pela doença, põe-se ao trabalho a partir do dia seguinte. Teresa escreve: "Junho de 1897. Minha Madre muito querida, manifestaste-me o desejo de que em vossa companhia acabe de cantar as Misericórdias do Senhor" (Ms C, 1rº).
 
Teresa escreve até ao dia 16 de Julho de 1897 quando, cansada e esgotada, baixa à enfermaria.
Além destes dois "Manuscritos", um dirigido à Madre Inês de Jesus e outro à Madre Maria de Gonzaga, existe um terceiro que foi escrito no intervalo destes dois, concretamente em Setembro de 1896. Teresa ia começar o seu retiro privado mas antes a sua irmã Maria do Sagrado Coração pede-lhe para escrever alguma coisa acerca do seu "caminho" e da doutrina que ela dava às noviças. Este retiro trouxe-lhe muitas luzes sobre a sua vocação e sua irmã insiste que as ponha por escrito. Teresa, obediente, escreve-lhe uma carta. A irmã Maria do Sagrado Coração responde-lhe e Teresa escreve-lhe uma segunda mas esta dirigida a Jesus, porque dizia que, quando escrevia a Jesus exprimia-se mais facilmente. Estas duas cartas constituem o que hoje chamamos "Manuscrito B", que não foi integrado na "História duma Alma" desde o princípio. Portanto temos três documentos diferentes, dirigidos a pessoas diferentes. 
É a partir destes documentos que a Madre Inês, depois da morte de Teresa, vai fazer um livro com a aprovação da Madre Gonzaga, um livro que será, portanto, uma circular necrológica.
 
O cometido não é nada fácil. Ela encontra-se com documentos, podemos dizer incoerentes, que não estão ligados entre si, dirigidos a pessoas diferentes e com faltas de ortografia. Perante esta situação a Madre Inês vai dar certa unidade aos textos. Para isso divide o livro em doze capítulos, coisa que Teresa não fez, suprime algumas passagens que lhe parecem pouco úteis para o leitor e introduz outras para dar mais harmonia ao livro. Faz os seus arranjos. Por fim dar-lhe-á um título: História de uma Alma. 
 
É verdade que nas últimas semanas da vida de Teresa, já na enfermaria, a Madre Inês fala-lhe na possibilidade de publicar alguma coisa do que ela escreveu. Jamais lhe tinha passado esta ideia pelo pensamento e, por isso mesmo, Teresa fica inquieta porque havia coisas muito importantes que ela não tinha dito, como por exemplo: no fim da vida dela preocupa-se imenso com os pecadores. Contudo manifesta toda a sua confiança na Madre Inês que tinha sido a sua "pequena mãe" e a sua professora. Por isso mesmo, dá-lhe total liberdade para corrigir, tirar ou pôr o que ela bem entendesse, coisa que a Madre Inês fez. 
 
O livro foi confiado ao teólogo Godofredo Madelaine, Prior da Abadia de Mondaye, primeiro censor e prefaciador da História de uma Alma. Um ano após a morte de Teresa, 30 de Setembro de 1898, aparece o livro publicado, dois mil exemplares. É enviado a todos os Carmelos de França e a alguns sacerdotes amigos. Restaram algumas centenas que foram colocadas no locutório do Carmelo. Estava lançado o rastilho.