Vinde, tomai, comei!
Três palavras que são para nós um imperativo soberano, estabelecendo laços indissolúveis entre a nossa vida moral, a nossa vida eterna e o Coração de Jesus imolado na Eucaristia.
Todas as manifestações do culto do Sagrado Coração supõem a Eucaristia como ponto de partida, todas, para ser agradáveis ao Senhor, devem convergir de uma ou de outra maneira para o Santíssimo Sacramento.
Para disso vos convencerdes, percorrei o maravilhoso evangelho escrito por Santa Margarida Maria. Digo Evangelho, porque nele se não fala senão na Pessoa adorável de Jesus, da sua lei de amor e dos seus direitos a ser amado e a reinar pelo seu Coração. Nenhum pormenor que não seja para pôr num relevo, cada vez mais encantador, a Pessoa do Salvador: para O encontrar é sempre o mesmo o caminho traçado: o que conduz ao Tabernáculo.
É ali que primeiro o Senhor espera as homenagens ao seu Coração que tanto amou os homens.
É lá que Ele deseja receber a reparação mais fervorosa e mais solene, porque é no Sacramento do Altar que o seu Amor, que o seu Coração são mais esquecidos.
É lá, é lá sobretudo, que Ele, em todo o rigor do termo, deve continuar a ser o Rei e o Centro de todos os corações, de todos os lares, de todos os povos. Um amor que O não procurasse ali principalmente, ansiosamente ali, onde o seu Coração divino vive palpitante, não seria mais do que veleidade, não mereceria o nome de amor.
Oh, quantas razões temos, todas mais fortes e mais poderosas umas que outras, para desejar que o Senhor faça vir até nós bem depressa o reinado íntimo do seu Coração pela Santíssima Eucaristia!
Carecemos tanto d´Ele nesta época de anemia moral, de hesitação, de timidez, de transigência: tantos pecados que comete a prudência humana!
A tempestade parece não querer amainar; antes pelo contrário recrudesce furiosa e ameaça varrer o campo cristão.
A Igreja é hoje mais combatida do que nunca. Mas uma vez mais essa luta reverterá em pura glória para ela, se nós quisermos.
Quero dizer que, se nós, as fibras da Igreja e os seus membros activos, transbordamos de sangue e de espírito divino por uma intensa vida eucarística, transbordaremos também de vigor para combater e sermos nós a cantar vitória com Ele e para Ele.
Não é dos inimigos que a Igreja tem mais a temer, mas sim dos seus próprios filhos que a atraiçoam. O que ela receia é a multidão imensa dos que respondem com ingratidões aos favores do Senhor: do Senhor bondosíssimo que para nos sustentar através do deserto se dá a Si próprio a nós no Maná eucarístico.
Ah, se comprendêssemos, como os santos, que a comunhão fervorosa é uma grande batalha ganha pela Igreja!
A hora em que vivemos é solene e talvez decisiva.
Não sentis que a terra treme sob os vossos passos?
Ainda é tempo de conjurarmos a catástrofe.
Sabeis o que reclama, nesta hora de crise, tanto a sociedade civil, como a Igreja, em altos gritos? - Apóstolos de amor semeadores de fogo, entre sacerdotes e entre leigos.
Não há que negá-lo. Se cem maus bastam para perverter uma população inteira, um só apóstolo a valer, um só, chega para salvar do naufrágio centenas de populações.
Isto, porém, supõe uma energia de alma que não é – não é, infelizmente! - a virtude dominante da nossa época, pobre de sangue divino. Supõe uma força que roça pela omnipotência e que o homem, por si mesmo, não tem.
O apóstolo, o filho da Santa Igreja que deve lutar, vencer, tem de ser um homem omnipotente, divinizado, outro Jesus.
Como?
Pelo amor eucarístico!
Só pelo amor eucarístico!
Foi com essa arma que combateram nas arenas e nos circos os primeiros heróis do cristianismo. Só Jesus na Eucaristia tem o segredo de tornar em legiões de mártires aqueles próprios que a fraqueza humana venceu.
Ora estas legiões são hoje indispensáveis. É urgente que venham reforçar as nossas linhas de combate.
Dia a dia são mais raros os soldados que combatem na primeira linha, a peito descoberto, o bom combate do Senhor...
Ide, ide banhar-vos no sangue do Cordeiro e aprendereis a ciência tão difícil de vos imolardes, se Deus o exigir, até ao martírio.
Revesti-vos de divindade por meio de Jesus Hóstia, e comparticipareis da omnipotência redentora.
Não tenhais medo de Jesus; não vos arreceeis do peso de tal glória. Achegai-vos ao Altar, bebei do seu cálice e ficai a morar no seu Coração.
Depois metei mãos, corajosamente, altivamente, à obra de regeneração. Começai por vós mesmos, e pelo exemplo, pelo vosso zelo apostólico, arrebanhai almas, muitas almas para a fonte da vida, para o lado aberto do Salvador...
Se a sombra de S. Pedro tinha, por si mesma, uma virtude miraculosa de cura, se ao simples contacto da túnica do Senhor os sofrimentos desapareciam, que maravilha de graça e de misericórdia não operará Jesus vivo, que do seu Santuário espalha torrentes de vida divina! Ele é o sol a levantar-se radioso sobre um mundo em ruínas; é o portador da fecundidade para edificar, em redor do Tabernáculo, uma sociedade nova, amassada com o sangue divino...
Esta sociedade será por excelência a sociedade do Sagrado Coração.
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