Os Anjos que denominamos Serafins, Querubins, Dominações, Tronos, Principados, Potestades, Virtudes, Arcanjos e Anjos, não têm em si a razão da sua existência. Foram criados por Deus para fazerem o Seu serviço, segundo as suas funções. É certo que o profeta Isaías só viu Serafins, mas a liturgia cristã refere Anjos, Arcanjos, Dominações, Principados e Querubins. Com os estudos sobre os Anjos e as revelações particulares tidas por seguras pela Igreja, chegou-se a uma definição de toda a hierarquia angélica. Todos os espíritos que foram identificados pelos Apóstolos e grandes místicos, foram também classificados por São Denis, o Aeropagita, que lhes deu estrutura e conteúdo de acordo com a sua fulgurante visão. Recentemente, as visões e revelações de Mechtilde Thaller – von Shonwerth, que deram origem à chamada Obra dos Anjos, só vieram confirmar ainda mais o que escrevera antigamente São Denis.
Mas, de facto, os Anjos bons e maus foram todos criados por Deus e como tal foram criados no princípio da sua geração, bons. São Tomás de Aquino deduz que o Cristo não é só a cabeça dos homens, mas também dos Anjos bons, de quem Deus cuida perfeitamente e que estabeleceu numa beatitude tal que os preservou para sempre de qualquer experiência do mal. Mas isso só depois da Grande Prova dos Anjos de que o Apocalipse de João dá notícia. Os que responderam mal à prova
afastaram-se e rebelaram-se e esses não constam dos Anjos bons a que se refere São Tomás de Aquino.
Ao decidirem viver independente de Deus, por si próprios, abandonaram violentamente o seu ser, vindo de Deus, e assumiram o seu egoísmo. A pequena Epístola de São Judas refere este facto ao dizer que «os anjos não conservaram a sua dignidade principesca, mas abandonaram a sua própria morada». E o poder que Deus lhes deu ao criá-los deixou de ser exercido segundo a vontade do Altíssimo, mas sim segundo os próprios apetites desses seres caídos. No seu orgulho cego, pretendem que o poder que têm lhes pertence e que nada devem a Deus.
Afastados da face de Deus, determinaram-se contra Deus, como explica Heinrich Schlier – e este traço tornou-se inerente e substancial. Esta determinação contra Deus exprime-se de todos os modos e através de todos os instrumentos utilizáveis pela sua inteligência e a sua vontade. Trata-se de uma perversão da criatura angélica original, operada por ela mesma, contra ela e contra o Criador. Esta doutrina é a doutrina tradicional da Igreja Católica, Apostólica, Romana, afirmada em diversos Concílios dogmáticos.
O Concílio de Latrão (1215) ensina que Deus criou todas as coisas materiais e espirituais e que “o Diabo e os outros espíritos malignos foram criados bons por Deus. Mas tornaram-se maus por si mesmos”. Esta doutrina é a primitiva da fé católica. O Concílio de Braga de 561, já declarava: “Se alguém disser que o demónio, não foi criado ao princípio como anjo bom, por Deus, e que ele não é , pela sua natureza, uma criatura de Deus, mas que ao contrário, saiu das próprias trevas e que não tem criador e que é, ele mesmo, o princípio e a substância do mal..., que seja anátema. Se alguém disser que o demónio... produz, pelo seu próprio poder, o trovão, os relâmpagos, as intempéries e a seca, que seja anátema”. O Diabo surge aqui, à luz da definição dogmática, como uma criatura de Deus, munida dos poderes que Ele lhe deu e que a criatura conserva e exerce segundo o próprio desígnio, que acontece ser contra Deus e contra os homens, chamando-os para a sua esfera, lutando portanto contra o desígnio do Altíssimo.
O Padre exorcista Ernetti bem dizia: «Infelizmente Satanás não está morto e nós verificamos quotidianamente a obra maléfica sob todas as formas e sob todos os aspetos: individuais, familiares, sociais, políticos e económicos, burocráticos, diplomáticos. Estas manifestações maléficas nunca foram tantas como hoje em dia. Só que a negação da existência não impede, de modo algum, a sua existência real. O cego pode negar a existência de todas as criaturas sem que estas cessem de existir».