DEVEMOS ESVAZIAR-NOS DE TUDO O QUE HÁ DE MAU EM NÓS Cap. 78 a 82

DEVEMOS ESVAZIAR-NOS DE TUDO O QUE HÁ DE MAU EM NÓS Cap. 78 a 82
78. Terceira verdade - As nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo mau fundo que há em nós. Quando se pôe água limpa e clara numa vasilha que cheira mal ou vinho numa pipa estragada por outro vinho que teve antes, a água pura e o bom vinho facilmente se estragam e ficam com mau cheiro. De igual modo, quando Deus coloca no vaso da nossa alma, estragado pelo pecado original e atual, as Suas graças e orvalho celestes ou o vinho delicioso do Seu amor, estes dons são normalmente estragados e manchados pelo mau fermento e pelo mau fundo que o pecado deixou em nós; as nossas ações, mesmo as mais sublimes virtudes, ressentem-se. É por consequência, da maior importância, para adquirir a perfeição, que só se adquire pela união a Jesus Cristo, que nos esvaziemos de tudo o que houve de mau em nós: de contrário, Nosso Senhor, que é infinitamente puro e que odeia infinitamente a menor mancha na alma, expulsar-nos-á de Seus olhos e não Se unirá a nós.
79. Para nos esvaziarmos de nós próprios, precisamos antes de mais nada, de conhecer bem o nosso mau fundo, a nossa incapacidade para todo o bem útil para a salvação, a nossa fraqueza em todas as coisas, a nossa inconstância em todas as circunstâncias, a nossa indignidade para todas as graças, a nossa iniquidade constante. O pecado do nosso primeiro pai corrompeu-nos todos quase completamente, estragou-nos, azedou-nos como o fermento em mau estado corrompe a massa em que foi introduzido. Os pecados atuais que tivermos cometido, embora perdoados, aumentaram a nossa concupiscência, a nossa fraqueza, a nossa inconstância e a nossa corrupção, deixando restos maus na nossa alma. 
Os nossos corpos estão de tal modo corrompidos que são chamados pelo Espírito Santo corpos de pecado, concebidos no pecado, alimentados no pecado e capazes de todos os pecados, corpos sujeitos a mil doenças que se vão corrompendo dia-a-dia, que geram a peste, a podridão, a corrupção. 
A nossa alma, unida a este corpo, torna-se tão carnal que é chamada carne: toda a carne tinha corrompido o seu caminho. Só temos por herança o orgulho, a cegueira de espírito, o endurecimento do coração, a fraqueza e a inconstância da alma, a concupiscência, as paixões revoltadas e as doenças do corpo. Somos naturalmente mais do que pavões, mais apegados à terra do que sapos, mais traiçoeiros do que bodes, mais invejosos do que as serpentes, mais gulosos do que porcos, mais coléricos do que tigres, mais perguiçosos  do que tartarugas, mais fracos do que caniços..., mais inconstantes do que cataventos. Não temos no nosso fundo senão nada e pecado e só merecemos a ira de Deus e o fogo eterno. 
80. Depois destas considerações podermos espantar-nos se Nosso Senhor dissesse que aquele que O quisesse seguir teria de renunciar a si próprio e odiar a sua alma; que aquele que amasse a sua alma a perderia e que aquele que a odiasse a salvaria? Esta sabedoria infinita, que não dá mandamentos sem razão, não nos ordena que nos odiemos senão porque somos bem dignos de ódio: nada tão digno de amor como Deus, nada tão digno de ódio como nós próprios. 
81. Em segundo lugar, para nos esvaziarmos de nós próprios, temos de morrer um pouco todos os dias: quer dizer, temos de renunciar às operações das potências da nossa alma e dos sentidos do nosso corpo, pois devemos ver como se não víssemos, ouvir como se não ouvíssemos, servirmo-nos das nossas coisas, como se não nos servíssemos delas e a isto São Paulo chama morrer todos os dias: Quotidie morior! «Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas, se morre, produz muito fruto»: Nisi granum frumenti cadens in terram mortuum fuerit, ipsum solum manet.
Se não morrermos para nós próprios, se as nossas devoções mais santas não nos encaminham a esta morte necessária e fecunda, não daremos frutos que sirvam, as nossas devoções serão inúteis, todas as nossas justiças serão manchadas pelo nosso amor próprio e pela nossa vontade, o que fará com que Deus abomine os maiores sacrifícios e as melhores ações que possamos fazer; deste modo, na morte, encontraremos vazias de virtudes e de méritos e não teremos uma chama de puro amor, pois este só é comunicado às almas mortas para si próprias, cuja vida está oculta com Jesus Cristo, em Deus. 
82. Em terceiro lugar, devemos escolher entre as devoções à Santíssima Virgem a que nos conduz mais e melhor a esta morte própria, como sendo a mais santificante; pois não devemos acreditar que tudo o que luz é ouro, que tudo o que é doce é mel, que tudo o que é fácil e praticado pelo maior número seja o mais santificante. Do mesmo modo que há segredos de natureza para fazer em pouco tempo, com pouco custo e com facilidade certas operações naturais, há também segredos na ordem da graça, para fazer em pouco tempo, com doçura e facilidade, operações sobrenaturais: esvaziar-se de si, encher-se de Deus e fazer-se perfeito. 
A prática que quero revelar é um destes segredos da graça, desconhecido do grande número dos cristãos, conhecido de poucos devotos, praticado e apreciado por um pequeno número. Para começar a revelar esta prática, vejamos uma quarta verdade, que é consequência da terceira. 
78. Terceira verdade - As nossas melhores ações são ordinariamente manchadas e corrompidas pelo mau fundo que há em nós. Quando se pôe água limpa e clara numa vasilha que cheira mal ou vinho numa pipa estragada por outro vinho que teve antes, a água pura e o bom vinho facilmente se estragam e ficam com mau cheiro. De igual modo, quando Deus coloca no vaso da nossa alma, estragado pelo pecado original e atual, as Suas graças e orvalho celestes ou o vinho delicioso do Seu amor, estes dons são normalmente estragados e manchados pelo mau fermento e pelo mau fundo que o pecado deixou em nós; as nossas ações, mesmo as mais sublimes virtudes, ressentem-se. É por consequência, da maior importância, para adquirir a perfeição, que só se adquire pela união a Jesus Cristo, que nos esvaziemos de tudo o que houve de mau em nós: de contrário, Nosso Senhor, que é infinitamente puro e que odeia infinitamente a menor mancha na alma, expulsar-nos-á de Seus olhos e não Se unirá a nós.
 
79. Para nos esvaziarmos de nós próprios, precisamos antes de mais nada, de conhecer bem o nosso mau fundo, a nossa incapacidade para todo o bem útil para a salvação, a nossa fraqueza em todas as coisas, a nossa inconstância em todas as circunstâncias, a nossa indignidade para todas as graças, a nossa iniquidade constante. O pecado do nosso primeiro pai corrompeu-nos todos quase completamente, estragou-nos, azedou-nos como o fermento em mau estado corrompe a massa em que foi introduzido. Os pecados atuais que tivermos cometido, embora perdoados, aumentaram a nossa concupiscência, a nossa fraqueza, a nossa inconstância e a nossa corrupção, deixando restos maus na nossa alma. 
Os nossos corpos estão de tal modo corrompidos que são chamados pelo Espírito Santo corpos de pecado, concebidos no pecado, alimentados no pecado e capazes de todos os pecados, corpos sujeitos a mil doenças que se vão corrompendo dia-a-dia, que geram a peste, a podridão, a corrupção. 
A nossa alma, unida a este corpo, torna-se tão carnal que é chamada carne: toda a carne tinha corrompido o seu caminho. Só temos por herança o orgulho, a cegueira de espírito, o endurecimento do coração, a fraqueza e a inconstância da alma, a concupiscência, as paixões revoltadas e as doenças do corpo. Somos naturalmente mais do que pavões, mais apegados à terra do que sapos, mais traiçoeiros do que bodes, mais invejosos do que as serpentes, mais gulosos do que porcos, mais coléricos do que tigres, mais perguiçosos  do que tartarugas, mais fracos do que caniços..., mais inconstantes do que cataventos. Não temos no nosso fundo senão nada e pecado e só merecemos a ira de Deus e o fogo eterno. 
 
80. Depois destas considerações podermos espantar-nos se Nosso Senhor dissesse que aquele que O quisesse seguir teria de renunciar a si próprio e odiar a sua alma; que aquele que amasse a sua alma a perderia e que aquele que a odiasse a salvaria? Esta sabedoria infinita, que não dá mandamentos sem razão, não nos ordena que nos odiemos senão porque somos bem dignos de ódio: nada tão digno de amor como Deus, nada tão digno de ódio como nós próprios. 
 
81. Em segundo lugar, para nos esvaziarmos de nós próprios, temos de morrer um pouco todos os dias: quer dizer, temos de renunciar às operações das potências da nossa alma e dos sentidos do nosso corpo, pois devemos ver como se não víssemos, ouvir como se não ouvíssemos, servirmo-nos das nossas coisas, como se não nos servíssemos delas e a isto São Paulo chama morrer todos os dias: Quotidie morior! «Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas, se morre, produz muito fruto»: Nisi granum frumenti cadens in terram mortuum fuerit, ipsum solum manet.
Se não morrermos para nós próprios, se as nossas devoções mais santas não nos encaminham a esta morte necessária e fecunda, não daremos frutos que sirvam, as nossas devoções serão inúteis, todas as nossas justiças serão manchadas pelo nosso amor próprio e pela nossa vontade, o que fará com que Deus abomine os maiores sacrifícios e as melhores ações que possamos fazer; deste modo, na morte, encontraremos vazias de virtudes e de méritos e não teremos uma chama de puro amor, pois este só é comunicado às almas mortas para si próprias, cuja vida está oculta com Jesus Cristo, em Deus. 
 
82. Em terceiro lugar, devemos escolher entre as devoções à Santíssima Virgem a que nos conduz mais e melhor a esta morte própria, como sendo a mais santificante; pois não devemos acreditar que tudo o que luz é ouro, que tudo o que é doce é mel, que tudo o que é fácil e praticado pelo maior número seja o mais santificante. Do mesmo modo que há segredos de natureza para fazer em pouco tempo, com pouco custo e com facilidade certas operações naturais, há também segredos na ordem da graça, para fazer em pouco tempo, com doçura e facilidade, operações sobrenaturais: esvaziar-se de si, encher-se de Deus e fazer-se perfeito. 
A prática que quero revelar é um destes segredos da graça, desconhecido do grande número dos cristãos, conhecido de poucos devotos, praticado e apreciado por um pequeno número. Para começar a revelar esta prática, vejamos uma quarta verdade, que é consequência da terceira.