Ao longo dos séculos, poucas páginas do Evangelho atraíram tanto a atenção dos místicos, dos escritores espirituais e dos teólogos como a perícopa joanina que narra a morte gloriosa de Cristo e a ferida do lado. Nessa página inspira-se a invocação da Ladainha, agora recordada.
No Coração trespassado, contemplamos a obediência filial de Jesus ao Pai, cuja missão Ele cumpriu corajosamente, e também o seu amor fraterno pelos homens, a quem “amou até ao extremo, isto é, até ao extremo sacrifício de Si mesmo. O Coração trespassado de Jesus é o sinal da totalidade deste amor em direcção vertical e horizontal, como os dois braços da Cruz.
O Coração trespassado é também o símbolo da vida nova, dada aos homens mediante o Espírito e os sacramentos. Logo depois de o soldado ter vibrado o golpe da lança, do lado ferido de Cristo “saiu sangue e água”. O golpe da lança testemunha a realidade da morte de Cristo. Verdadeiramente Ele morreu, como verdadeiramente tinha nascido, como verdadeiramente há-de ressuscitar na sua própria carne. Contra toda a tentação antiga ou moderna de docetismo de ceder à “aparência”, o Evangelista recorda toda a genuína certeza da realidade. Mas, ao mesmo tempo, tende a aprofundar o significado do acontecimento salvífico e a exprimi-lo por meio do símbolo. Ele, por isso, no episódio do golpe da lança, vê um significado profundo: assim como do rochedo ferido por Moisés jorrou no deserto uma fonte de água, assim também do lado de Cristo, ferido pela lança, jorrou uma torrente de água para saciar a sede do novo povo de Deus. Essa torrente é o dom do Espírito, que alimenta em nós a vida divina.
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