157. Esta prática de devoção à Santíssima Virgem é caminho perfeito para nos unirmos a Jesus Cristo, pois a divina Maria é a mais perfeita, a mais santa e pura das criaturas e porque Jesus, que perfeitamente veio até nós, não tomou outro caminho para esta Sua grande e admirável viagem. O Altíssimo, o Incompreensível, o Inacessível, Aquele que é, quis vir até nós, vermes da Terra, menos do que nada. Como procedeu?
O Altíssimo desceu perfeita e divinamente por intermédio da humildade de Maria até nós, sem nada perder da Sua divindade e santidade; é por Maria que nós, pequenos como somos, devemos subir perfeita e divinamente até ao Altíssimo.
O Incompreensível deixou-Se compreender e conter perfeitamente pela pequenina Maria, sem nada perder da Sua imensidade; é também por Maria que nos devemos deixar conter e conduzir, sem nenhuma reserva.
O Inacessível aproximou-Se, uniu-Se estreitamente, perfeitamente e mesmo pessoalmente à nossa humanidade, por intermédio de Maria, sem nada perder da Sua Majestade; será igualmente por Maria que nos devemos aproximar de Deus e unirmo-nos à Sua majestade perfeitamente sem medo de sermos repelidos.
Finalmente, "Aquele que é" quis descer àquele que "não é", fazer que aquele que "não é" se fizesse Deus, ou "Aquele que é"; e fez isto perfeitamente entregando-Se e submetendo-Se perfeitamente à jovem Virgem Maria, sem deixar de ser no tempo "Aquele que é" desde toda a eternidade; igualmente, é por Maria que, embora por nós nada sejamos, que nos podemos tornar semelhantes a Deus pela graça e pela glória, dando-nos a ela tão perfeita e inteiramente, que nada sejamos em nós próprios, mas tudo nela, sem medo de nos enganarmos.
158. Se me preparassem um caminho novo para ir a Jesus e que tal caminho estivesse pavimentado de todos os méritos dos bem-aventurados, enriquecido de todas as virtudes heroicas, iluminado e embelezado por todas as luzes e beleza dos anjos e que todos os anjos e santos ali estivessem para me conduzir e sustentar e defender, na verdade direi ousadamente, certo de dizer a verdade, que a tal caminho eu preferiria sempre o caminho imaculado de Maria: Possui immaculatam viam meam, via ou caminho sem nenhuma mancha, sem pecado original ou atual, sem sombra nem trevas; e se o meu amável Jesus, na Sua glória, há de vir uma segunda vez à Terra (como é certo) para nela reinar, não escolherá outro caminho senão a divina Maria, por intermédio de quem veio tão segura e perfeitamente da primeira vez. A diferença que haverá entre a primeira e a segunda vindas é que aquela foi escondida, secreta e esta última será gloriosa e brilhante; mas as duas serão igualmente perfeitas porque são por intermédio de Maria. Eis aqui um mistério que não compreendemos: Hic taceat omnis lingua. «Que sobre isto se cale toda a língua!».
|V Esta devoção é caminho seguro
159. Esta devoção à Santíssima Virgem é caminho seguro para ir a Jesus Cristo e adquirir a perfeição, unindo-nos a Ele:
1.º) Porque esta prática que ensino não é nova; é tão antiga que, no dizer de M. Boudon, morto há pouco em odor de santidade, no livro que escreveu sobre esta devoção, se lhe podem marcar com precisão os começos; é pelo menos certo que, há mais de setecentos anos já se encontram vestígios dela na Igreja.
Santo Odilon, abade de Cluny, que viveu cerca de 1040, foi um dos primeiros que a praticou publicamente em França, como se pode ver na sua vida.
O cardeal Pedro Damião refere que no ano de 1076 o bem-aventurado Marinho, seu irmão, se fez escravo de Maria, na presença do seu director, de uma maneira muito edificante; pois colocou a corda ao pescoço, tomou a disciplina e colocou sobre o altar uma importância em dinheiro para significar a sua dedicação e consagração à Santíssima Virgem. Ele continuou tão fielmente até à sua morte, que mereceu ser visitado e consolado pela sua boa Senhora, nesse momento, ouvindo da boca da Virgem a promessa do paraíso como recompensa dos seus serviços.
Cesário Bollando fala-nos de um ilustre cavaleiro, Vantier de Birbak, parente chegado dos duques de Loviana, que, pelo ano de 1300, fez esta mesma consagração à Santíssima Virgem.
Esta devoção foi praticada por vários particulares até ao séc. XVII, época em que passou a pública.
160. O padre Simão de Roias, da Ordem da Santíssima Trindade, dita da Redenção dos Cativos, pregador do Rei Filipe III de Espanha, pôs em voga esta devoção em Espanha e na Alemanha. Obteve, por instâncias de Filipe II, de Gregório XV, grandes indulgências para aqueles que a praticassem.
O padre de Los Rios, da Ordem de Santo Agostinho, procurou, com o seu íntimo amigo, o padre Roias, espalhar esta devoção pela palavra e pelos seus escritos em Espanha e na Alemanha; compôs um grosso volume, chamado Hierarquia Mariana, em que trata com tanta piedade como erudição da Antiguidade, excelência e da solidez desta devoção.
Os padres teatinos, no século XVIII, estabeleceram esta devoção na Itália, Sicília e Savoia.
161. O padre Estanislau Phalacius, da Companhia de Jesus, fez progredir maravilhosamente esta devoção na Polónia.
O padre de Los Rios, no seu livro acima citado, refere nomes de príncipes, princesas, bispos, cardeais de diferentes reinos, que tinham abraçado esta devoção.
O padre Cornélio, a Lápide, tão notável pela sua piedade como pela sua ciência profunda, tendo recebido encargo de diversos bispos e teólogos de examinar esta devoção, depois de ter estudado maduramente o caso, teceu-lhe louvores dignos da sua piedade e ciência e muitas outras personagens o imitaram.
Os padres jesuítas, sempre zelosos pela devoção à Santíssima Virgem, apresentaram, em nome dos religiosos de Colónia, ao duque Fernando da Baviera, então arcebispo de Colónia, um pequeno tratado de devoção à Virgem, que obteve a aprovação do arcebispo e licença de impressão, tendo este exortado todos os sacerdotes e religiosos da sua diocese a praticar e abraçar, tanto quanto fosse possível, esta sólida devoção.
162. O cardeal de Bérulle, cuja memória ficou abençoada por toda a França, foi dos mais zelosos na difusão desta devoção na sua pátria, mau grado todas as perseguições que lhe moveram os críticos e libertinos. Acusaram-no de novidade e superstição; escreveram e publicaram contra ele um panfleto difamatório, servindo-se eles, ou antes o demónio por intermédio deles, de todas as manhas para impedir que se espalhasse esta devoção pela França. No entanto, este grande e santo homem apenas respondia às calúnias pela paciência, mas refutou as objecções contidas no libelo de modo perentório e irreponsável, provando que a devoção à Santíssima Virgem se fundava no exeplo de Jesus Cristo, nas obrigações que temos para com Ele e nos votos feitos no santo Batismo; é precisamente com esta razão que o santo homem fecha a boca aos adversários, mostrando-lhes que esta consagração à Santíssima Virgem e a Jesus Cristo, por intermédio de Maria, não passa da renovação perfeita dos votos e promessas do Batismo. Muitas coisas belas escreveu sobre a prática desta devoção que podem ser lidas nas suas obras.
163. No livro de M. Boudon podemos ver todos os Papas que aprovaram esta devoção, os teólogos que a examinaram, as perseguições que teve de enfrentar e vencer, os milhares devotos que a praticaram, sem que nunca qualquer Pap a condenasse; isto não poderia acontecer sem abalar os fundamentos do Cristianismo.
Fica, portanto, estabelecido que esta devoção não é nova, e muito embora não seja comum, porque é demasiadamente preciosa para ser apreciada e praticada por grande número de devotos.
164. 2.º) Esta devoção é um meio seguro para chegar a Jesus Cristo, pois é próprio da Virgem conduzir-nos seguramente a Jesus como é próprio de Jesus conduzir-nos seguramente ao eterno Pai. Não devem, portanto, os espirituais acreditar falsamente que Maria possa ser, de qualquer modo, impedimento para a união divina. Poderia ser útil que aquela que achou graça diante do Senhor, para todos em geral e para cada um em particular, pudesse ser impedimento para alguma alma alcançar a graça da união com Deus? Poderia ser possível que aquela que foi cheia superabundantemente de graça, tão unida e transformada em Deus, que nela encarnou, impedisse que uma alma fosse perfeitamente unida a Deus?
É absolutamente verdade que outras criaturas, embora santas, podem talvez impedir em certas circunstâncias ou retardar a união divina; mas isto não acontece com Maria, como já afirmei e continuarei a repetir sem me cansar. Um dos motivos por que poucas pessoas chegam à plenitude da idade de Cristo é porque Maria, que é, mais do que nunca, a Mãe de Jesus Cristo e a Esposa fecunda do Espírito Santo, não está suficientemente formada no coração deles.
Quem quer ter frutos bem maduros e formados deve possuir a árvore que os produz; quem deseja sentir em si a operação do Espírito Santo deve ter a Sua Esposa fiel e indissolúvel, a divina Maria, que O faz fértil e fecundo, como noutro lugar já dissemos.
165. Ficai convencidos de que quanto mais olhais Maria nas vossas orações, contemplações, ações e sofrimentos, embora não seja com uma visão distinta e particular, mas ao menos geral e impercetível, encontrareis Jesus que está sempre com Maria, grande, poderoso, operante e incompreensível, muito mais presente do que no Céu, ou em qualquer criatura do universo.
Deste modo, muito ao contrário, a divina Maria está longe de se tornar obstáculo que impeça os perfeitos de chegar à união com Deus; nunca houve até hoje, nem haverá criatura alguma que nos possa ajudar mais eficazmente nesta grande tarefa, quer pelas indicações que nos comunicará para este efeito, pois ninguém será cheio do pensamento de Deus senão por ela, segundo diz um santo: Nemo cigitatione Dei repletur nisi per te; quer pela defesa que nos dá contra os enganos e ilusões do maligno.
166. Onde está Maria não está o espírito do mal; um dos mais infalíveis sinais de que somos levados pelo bom espírito é o facto de sermos devotos de Maria, de pensar muitas vezes nela, de falar frequentemente nela. É este o pensamento de um santo que acrescenta que assim como a respiração é sinal certo de vida para o corpo, o pensamento frequente e a invocação amorosa de Maria é sinal certo de que a alma não está morta pelo pecado.
167. É somente Maria, diz a Igreja e o Espírito Santo que a guia, que tem aniquilado todas as heresias: Sola cunctas haereses interemisti in universo mundo; embora os críticos resmunguem, nunca um devoto fiel de Maria cairá na heresia ou na ilusão, pelo menos formal; poderá errar materialmente, tomar a mentira pela verdade, o maligno pelos anjos, sempre mais dificilmente do que qualquer outro; mas conhecerá mais cedo ou mais tarde a sua falta e o seu erro material; e logo que o tiver conhecido não teimará de modo algum em acreditar e sustentar aquilo que, pelo seu erro, tinha até então julgado como verdadeiro.
168. Todo aquele que sem temor de ilusão, coisa natural nas pessoas de oração, que progredir no caminho da perfeição e encontrar segura e perfeitamente Jesus, deve abraçar com grande coração, corde magno et animo volenit, esta devoção à Santíssima Virgem, que talvez ainda não conhecesse até este momento.
Que entre neste excelente caminho que desconhecia e que lhe estou agora a mostrar: Excelentiorem viam vobis demonstro.
Foi o caminho percorrido por Jesus Cristo, a sabedoria encarnada, nosso único chefe, por isso nós, Seus membros, se passarmos por Ele não nos podemos enganar. É caminho fácil, por causa da plenitude de graça e da unção de que enche o Espírito Santo; caminhando por Ele, não nos cansaremos nem recuaremos. É caminho curto que, em pouco tempo, nos conduz a Jesus Cristo. É caminho perfeito, onde não há lama, poeira ou mancha do pecado. É, finalmente, caminho seguro, que nos leva a Jesus e à vida eterna de modo direto e certo, sem desvios para a direita ou para a esquerda.
Entraremos, portanto, neste caminho; caminhemos com Ele, dia e noite, até alcançarmos a plenitude e idade de Cristo.
157. Esta prática de devoção à Santíssima Virgem é caminho perfeito para nos unirmos a Jesus Cristo, pois a divina Maria é a mais perfeita, a mais santa e pura das criaturas e porque Jesus, que perfeitamente veio até nós, não tomou outro caminho para esta Sua grande e admirável viagem. O Altíssimo, o Incompreensível, o Inacessível, Aquele que é, quis vir até nós, vermes da Terra, menos do que nada. Como procedeu?
O Altíssimo desceu perfeita e divinamente por intermédio da humildade de Maria até nós, sem nada perder da Sua divindade e santidade; é por Maria que nós, pequenos como somos, devemos subir perfeita e divinamente até ao Altíssimo.
O Incompreensível deixou-Se compreender e conter perfeitamente pela pequenina Maria, sem nada perder da Sua imensidade; é também por Maria que nos devemos deixar conter e conduzir, sem nenhuma reserva.
O Inacessível aproximou-Se, uniu-Se estreitamente, perfeitamente e mesmo pessoalmente à nossa humanidade, por intermédio de Maria, sem nada perder da Sua Majestade; será igualmente por Maria que nos devemos aproximar de Deus e unirmo-nos à Sua majestade perfeitamente sem medo de sermos repelidos.
Finalmente, "Aquele que é" quis descer àquele que "não é", fazer que aquele que "não é" se fizesse Deus, ou "Aquele que é"; e fez isto perfeitamente entregando-Se e submetendo-Se perfeitamente à jovem Virgem Maria, sem deixar de ser no tempo "Aquele que é" desde toda a eternidade; igualmente, é por Maria que, embora por nós nada sejamos, que nos podemos tornar semelhantes a Deus pela graça e pela glória, dando-nos a ela tão perfeita e inteiramente, que nada sejamos em nós próprios, mas tudo nela, sem medo de nos enganarmos.
158. Se me preparassem um caminho novo para ir a Jesus e que tal caminho estivesse pavimentado de todos os méritos dos bem-aventurados, enriquecido de todas as virtudes heroicas, iluminado e embelezado por todas as luzes e beleza dos anjos e que todos os anjos e santos ali estivessem para me conduzir e sustentar e defender, na verdade direi ousadamente, certo de dizer a verdade, que a tal caminho eu preferiria sempre o caminho imaculado de Maria: Possui immaculatam viam meam, via ou caminho sem nenhuma mancha, sem pecado original ou atual, sem sombra nem trevas; e se o meu amável Jesus, na Sua glória, há de vir uma segunda vez à Terra (como é certo) para nela reinar, não escolherá outro caminho senão a divina Maria, por intermédio de quem veio tão segura e perfeitamente da primeira vez. A diferença que haverá entre a primeira e a segunda vindas é que aquela foi escondida, secreta e esta última será gloriosa e brilhante; mas as duas serão igualmente perfeitas porque são por intermédio de Maria. Eis aqui um mistério que não compreendemos: Hic taceat omnis lingua. «Que sobre isto se cale toda a língua!».
|V Esta devoção é caminho seguro
159. Esta devoção à Santíssima Virgem é caminho seguro para ir a Jesus Cristo e adquirir a perfeição, unindo-nos a Ele:
1.º) Porque esta prática que ensino não é nova; é tão antiga que, no dizer de M. Boudon, morto há pouco em odor de santidade, no livro que escreveu sobre esta devoção, se lhe podem marcar com precisão os começos; é pelo menos certo que, há mais de setecentos anos já se encontram vestígios dela na Igreja.
Santo Odilon, abade de Cluny, que viveu cerca de 1040, foi um dos primeiros que a praticou publicamente em França, como se pode ver na sua vida.
O cardeal Pedro Damião refere que no ano de 1076 o bem-aventurado Marinho, seu irmão, se fez escravo de Maria, na presença do seu director, de uma maneira muito edificante; pois colocou a corda ao pescoço, tomou a disciplina e colocou sobre o altar uma importância em dinheiro para significar a sua dedicação e consagração à Santíssima Virgem. Ele continuou tão fielmente até à sua morte, que mereceu ser visitado e consolado pela sua boa Senhora, nesse momento, ouvindo da boca da Virgem a promessa do paraíso como recompensa dos seus serviços.
Cesário Bollando fala-nos de um ilustre cavaleiro, Vantier de Birbak, parente chegado dos duques de Loviana, que, pelo ano de 1300, fez esta mesma consagração à Santíssima Virgem.
Esta devoção foi praticada por vários particulares até ao séc. XVII, época em que passou a pública.
160. O padre Simão de Roias, da Ordem da Santíssima Trindade, dita da Redenção dos Cativos, pregador do Rei Filipe III de Espanha, pôs em voga esta devoção em Espanha e na Alemanha. Obteve, por instâncias de Filipe II, de Gregório XV, grandes indulgências para aqueles que a praticassem.
O padre de Los Rios, da Ordem de Santo Agostinho, procurou, com o seu íntimo amigo, o padre Roias, espalhar esta devoção pela palavra e pelos seus escritos em Espanha e na Alemanha; compôs um grosso volume, chamado Hierarquia Mariana, em que trata com tanta piedade como erudição da Antiguidade, excelência e da solidez desta devoção.
Os padres teatinos, no século XVIII, estabeleceram esta devoção na Itália, Sicília e Savoia.
161. O padre Estanislau Phalacius, da Companhia de Jesus, fez progredir maravilhosamente esta devoção na Polónia.
O padre de Los Rios, no seu livro acima citado, refere nomes de príncipes, princesas, bispos, cardeais de diferentes reinos, que tinham abraçado esta devoção.
O padre Cornélio, a Lápide, tão notável pela sua piedade como pela sua ciência profunda, tendo recebido encargo de diversos bispos e teólogos de examinar esta devoção, depois de ter estudado maduramente o caso, teceu-lhe louvores dignos da sua piedade e ciência e muitas outras personagens o imitaram.
Os padres jesuítas, sempre zelosos pela devoção à Santíssima Virgem, apresentaram, em nome dos religiosos de Colónia, ao duque Fernando da Baviera, então arcebispo de Colónia, um pequeno tratado de devoção à Virgem, que obteve a aprovação do arcebispo e licença de impressão, tendo este exortado todos os sacerdotes e religiosos da sua diocese a praticar e abraçar, tanto quanto fosse possível, esta sólida devoção.
162. O cardeal de Bérulle, cuja memória ficou abençoada por toda a França, foi dos mais zelosos na difusão desta devoção na sua pátria, mau grado todas as perseguições que lhe moveram os críticos e libertinos. Acusaram-no de novidade e superstição; escreveram e publicaram contra ele um panfleto difamatório, servindo-se eles, ou antes o demónio por intermédio deles, de todas as manhas para impedir que se espalhasse esta devoção pela França. No entanto, este grande e santo homem apenas respondia às calúnias pela paciência, mas refutou as objecções contidas no libelo de modo perentório e irreponsável, provando que a devoção à Santíssima Virgem se fundava no exeplo de Jesus Cristo, nas obrigações que temos para com Ele e nos votos feitos no santo Batismo; é precisamente com esta razão que o santo homem fecha a boca aos adversários, mostrando-lhes que esta consagração à Santíssima Virgem e a Jesus Cristo, por intermédio de Maria, não passa da renovação perfeita dos votos e promessas do Batismo. Muitas coisas belas escreveu sobre a prática desta devoção que podem ser lidas nas suas obras.
163. No livro de M. Boudon podemos ver todos os Papas que aprovaram esta devoção, os teólogos que a examinaram, as perseguições que teve de enfrentar e vencer, os milhares devotos que a praticaram, sem que nunca qualquer Pap a condenasse; isto não poderia acontecer sem abalar os fundamentos do Cristianismo.
Fica, portanto, estabelecido que esta devoção não é nova, e muito embora não seja comum, porque é demasiadamente preciosa para ser apreciada e praticada por grande número de devotos.
164. 2.º) Esta devoção é um meio seguro para chegar a Jesus Cristo, pois é próprio da Virgem conduzir-nos seguramente a Jesus como é próprio de Jesus conduzir-nos seguramente ao eterno Pai. Não devem, portanto, os espirituais acreditar falsamente que Maria possa ser, de qualquer modo, impedimento para a união divina. Poderia ser útil que aquela que achou graça diante do Senhor, para todos em geral e para cada um em particular, pudesse ser impedimento para alguma alma alcançar a graça da união com Deus? Poderia ser possível que aquela que foi cheia superabundantemente de graça, tão unida e transformada em Deus, que nela encarnou, impedisse que uma alma fosse perfeitamente unida a Deus?
É absolutamente verdade que outras criaturas, embora santas, podem talvez impedir em certas circunstâncias ou retardar a união divina; mas isto não acontece com Maria, como já afirmei e continuarei a repetir sem me cansar. Um dos motivos por que poucas pessoas chegam à plenitude da idade de Cristo é porque Maria, que é, mais do que nunca, a Mãe de Jesus Cristo e a Esposa fecunda do Espírito Santo, não está suficientemente formada no coração deles.
Quem quer ter frutos bem maduros e formados deve possuir a árvore que os produz; quem deseja sentir em si a operação do Espírito Santo deve ter a Sua Esposa fiel e indissolúvel, a divina Maria, que O faz fértil e fecundo, como noutro lugar já dissemos.
165. Ficai convencidos de que quanto mais olhais Maria nas vossas orações, contemplações, ações e sofrimentos, embora não seja com uma visão distinta e particular, mas ao menos geral e impercetível, encontrareis Jesus que está sempre com Maria, grande, poderoso, operante e incompreensível, muito mais presente do que no Céu, ou em qualquer criatura do universo.
Deste modo, muito ao contrário, a divina Maria está longe de se tornar obstáculo que impeça os perfeitos de chegar à união com Deus; nunca houve até hoje, nem haverá criatura alguma que nos possa ajudar mais eficazmente nesta grande tarefa, quer pelas indicações que nos comunicará para este efeito, pois ninguém será cheio do pensamento de Deus senão por ela, segundo diz um santo: Nemo cigitatione Dei repletur nisi per te; quer pela defesa que nos dá contra os enganos e ilusões do maligno.
166. Onde está Maria não está o espírito do mal; um dos mais infalíveis sinais de que somos levados pelo bom espírito é o facto de sermos devotos de Maria, de pensar muitas vezes nela, de falar frequentemente nela. É este o pensamento de um santo que acrescenta que assim como a respiração é sinal certo de vida para o corpo, o pensamento frequente e a invocação amorosa de Maria é sinal certo de que a alma não está morta pelo pecado.
167. É somente Maria, diz a Igreja e o Espírito Santo que a guia, que tem aniquilado todas as heresias: Sola cunctas haereses interemisti in universo mundo; embora os críticos resmunguem, nunca um devoto fiel de Maria cairá na heresia ou na ilusão, pelo menos formal; poderá errar materialmente, tomar a mentira pela verdade, o maligno pelos anjos, sempre mais dificilmente do que qualquer outro; mas conhecerá mais cedo ou mais tarde a sua falta e o seu erro material; e logo que o tiver conhecido não teimará de modo algum em acreditar e sustentar aquilo que, pelo seu erro, tinha até então julgado como verdadeiro.
168. Todo aquele que sem temor de ilusão, coisa natural nas pessoas de oração, que progredir no caminho da perfeição e encontrar segura e perfeitamente Jesus, deve abraçar com grande coração, corde magno et animo volenit, esta devoção à Santíssima Virgem, que talvez ainda não conhecesse até este momento.
Que entre neste excelente caminho que desconhecia e que lhe estou agora a mostrar: Excelentiorem viam vobis demonstro.
Foi o caminho percorrido por Jesus Cristo, a sabedoria encarnada, nosso único chefe, por isso nós, Seus membros, se passarmos por Ele não nos podemos enganar. É caminho fácil, por causa da plenitude de graça e da unção de que enche o Espírito Santo; caminhando por Ele, não nos cansaremos nem recuaremos. É caminho curto que, em pouco tempo, nos conduz a Jesus Cristo. É caminho perfeito, onde não há lama, poeira ou mancha do pecado. É, finalmente, caminho seguro, que nos leva a Jesus e à vida eterna de modo direto e certo, sem desvios para a direita ou para a esquerda.
Entraremos, portanto, neste caminho; caminhemos com Ele, dia e noite, até alcançarmos a plenitude e idade de Cristo.