GÉNERO LITERÁRIO DAS «MEMÓRIAS»

GÉNERO LITERÁRIO DAS «MEMÓRIAS»
Aos escritos que, felizmente, o leitor vai ter nas suas mãos,
chamamos «Memórias» porque, efectivamente, mais se parecem
a este género literário, não obstante a sua aparência de «Cartas»
ou, até, em certos momentos, de «autobiografia».
Evidentemente que a Irmã Lúcia não tinha qualquer pretensão literária ao escrever estes admiráveis documentos. Ela escrevia
porque Iho mandavam. E pode afirmar-se que Lúcia nunca escreveu
nada por vontade própria. Isto não quer dizer que, às vezes, ela
mesma, no decurso da sua obra, não se sinta arrebatada pelos
assuntos que toca, dando impressão de que «faz literatura». Mas
será sempre uma literatura espontânea e clara, em que a elegância
é uma consequência e não uma preocupação.
 
Ora bem: muito menos podia ter uma preocupação do género
literário, e não sabia absolutamente o que podia significar «memória», senão como faculdade de recordar o passado. Ela mesma
nos diz, algures, que, não sabendo como cumprir o mandato recebido de escrever sobre a vida da Jacinta, ocorreu-Ihe fazê-lo com
toda a naturalidade, dirigindo-se ao Sr. Bispo, como quem conta
uma história com as recordações que conserva. Portanto, não há
que tomar estes escritos como «Cartas» embora extensas, que
escreve ao Sr. Bispo de Leiria. Isso foi uma pura ficção, neste caso
«literária», para sair do apuro. Na realidade, o que Lúcia intenta é
escrever as suas «recordações». E a isto se chama, com propriedade, «Memórias», porque, efectivamente, se trata de um género
literário em que o autor pretende comunicar as suas recordações,
referentes a si mesmo (ou a outros), aos seus próprios sucessos
ou aos sucessos acontecidos a outros.
Não obstante, não se trata também falando propriamente –
de «Biografia» ou de «Autobiografia». Lúcia não o pretendeu, nem
podia pretendê-lo, dar-nos uma biografia de Jacinta e de Francisco
e, naturalmente, nunca pretendeu dar-nos uma «auto-biografia».
Trata-se simplesmente de uma ordenação de recordações à
volta dos principais factos da vida de Jacinta e de Francisco, e
isso, seguramente, contra a sua própria vontade.
A biografia e a autobiografia distinguem-se da «Memória»; esta
não pretende comunicar senão «recordações»; enquanto que os
outros géneros literários pretendem algo de mais completo, sistemático; supõem, mais do que a simples recordação, uma investigação de documentos auxiliares.
Mas Lúcia, nestas Memórias, não necessitou mais do que olhar
para o passado e recordá-lo. E que recordação! Porque, ou se tratava
da vida de seus primos e, então, tratava-se da sua própria vida; ou se
tratava de tudo quanto se referia às Aparições da «Senhora» e, então,
tudo era contemplado, mais do que uma simples recordação, como
uma presença gravada a fogo sobre a sua alma. Ela mesma nos
adverte que «essas coisas vão-se gravando tão nitidamente na
nossa alma, que não é fácil esquecê-las.» Por isso, estas
«Memórias» da Irmã Lúcia são, sobretudo, uma «releitura» de
caracteres impressos, para sempre, no mais fundo do espírito da
Autora. Ela, mais do que «recordar», parece que está vivendo; tal
é a facilidade da recordação, que se converte em «leitura interior».
Aos escritos que, felizmente, o leitor vai ter nas suas mãos,
chamamos «Memórias» porque, efectivamente, mais se parecem
a este género literário, não obstante a sua aparência de «Cartas»
ou, até, em certos momentos, de «autobiografia».
Evidentemente que a Irmã Lúcia não tinha qualquer pretensão literária ao escrever estes admiráveis documentos. Ela escrevia
porque Iho mandavam. E pode afirmar-se que Lúcia nunca escreveu
nada por vontade própria. Isto não quer dizer que, às vezes, ela
mesma, no decurso da sua obra, não se sinta arrebatada pelos
assuntos que toca, dando impressão de que «faz literatura». Mas
será sempre uma literatura espontânea e clara, em que a elegância
é uma consequência e não uma preocupação.
 
Ora bem: muito menos podia ter uma preocupação do género
literário, e não sabia absolutamente o que podia significar «memória», senão como faculdade de recordar o passado. Ela mesma
nos diz, algures, que, não sabendo como cumprir o mandato recebido de escrever sobre a vida da Jacinta, ocorreu-Ihe fazê-lo com
toda a naturalidade, dirigindo-se ao Sr. Bispo, como quem conta
uma história com as recordações que conserva. Portanto, não há
que tomar estes escritos como «Cartas» embora extensas, que
escreve ao Sr. Bispo de Leiria. Isso foi uma pura ficção, neste caso
«literária», para sair do apuro. Na realidade, o que Lúcia intenta é
escrever as suas «recordações». E a isto se chama, com propriedade, «Memórias», porque, efectivamente, se trata de um género
literário em que o autor pretende comunicar as suas recordações,
referentes a si mesmo (ou a outros), aos seus próprios sucessos
ou aos sucessos acontecidos a outros.
Não obstante, não se trata também falando propriamente –
de «Biografia» ou de «Autobiografia». Lúcia não o pretendeu, nem
podia pretendê-lo, dar-nos uma biografia de Jacinta e de Francisco
e, naturalmente, nunca pretendeu dar-nos uma «auto-biografia».
Trata-se simplesmente de uma ordenação de recordações à
volta dos principais factos da vida de Jacinta e de Francisco, e
isso, seguramente, contra a sua própria vontade.
A biografia e a autobiografia distinguem-se da «Memória»; esta
não pretende comunicar senão «recordações»; enquanto que os
outros géneros literários pretendem algo de mais completo, sistemático; supõem, mais do que a simples recordação, uma investigação de documentos auxiliares.
Mas Lúcia, nestas Memórias, não necessitou mais do que olhar
para o passado e recordá-lo. E que recordação! Porque, ou se tratava
da vida de seus primos e, então, tratava-se da sua própria vida; ou se
tratava de tudo quanto se referia às Aparições da «Senhora» e, então,
tudo era contemplado, mais do que uma simples recordação, como
uma presença gravada a fogo sobre a sua alma. Ela mesma nos
adverte que «essas coisas vão-se gravando tão nitidamente na
nossa alma, que não é fácil esquecê-las.» Por isso, estas
«Memórias» da Irmã Lúcia são, sobretudo, uma «releitura» de
caracteres impressos, para sempre, no mais fundo do espírito da
Autora. Ela, mais do que «recordar», parece que está vivendo; tal
é a facilidade da recordação, que se converte em «leitura interior».