O TESTEMUNHO DE SANTO AGOSTINHO
O hábito de oferecer sufrágios pelas almas do Purgatório é muito antigo na vasta tradição da Igreja. Já em tempos do Apóstolo Paulo, os cristãos da comunidade de Tessalónica se perguntavam o que acontecia aos seus irmãos defuntos. Esta é uma dúvida permanente para os fiéis, saber o que realmente acontece aos seus defuntos.
Na incerteza, a Igreja Peregrina, entrega-se à oração e a outras práticas típicas da caridade cristã, em sufrágio dos que já partiram. Muitas destas práticas são duvidosas e suscitaram muitas dúvidas, como a que foi feita por Paulino, bispo de Nola, a Santo Agostinho. Pelo ano de 421, Santo Agostinho responde a uma dúvida do seu irmão no episcopado, Paulino de Nola. Esta resposta suscitará outro tipo de reflexão acerca das práticas da piedade a ter com os defuntos.
Tais escritos estão condensados na obra O cuidado devido aos mortos.
A questão central era se havia alguma vantagem para o cristão ao ser supultado junto dos túmulos dos grandes santos e mártires. Na sua resposta, Santo Agostinho, tendo como base o texto de São Paulo aos Coríntios (2Cor 5,10), adverte-nos para o facto de as acções em vida serem muito mais preciosas para o alívio depois da morte.
Ainda assim, o santo, recordando-se de outros textos da Sagrada Escritura e da própria tradição da Igreja, lembra na sua resposta o momento em que o sacerdote junto ao altar dirige as suas orações a Deus, reserva um espaço especial para a encomendação dos defuntos e recorda a venerável tradição de orar pelos que já partiram.
Ainda assim, o sepultamento cristão é acima de tudo um consolo para a Igreja Peregrina ao testemunhar a ternura para com os que já partiram. Assim, os vivos, quando se aproximam da sepultura dos seus defuntos, movidos por uma afeição amorosa, acabam por rezar, recomendando à Igreja Celeste o seu ente querido.
Assim é a oração que verdadeiramente conta, por isso terminará Santo Agostinho a sua obra dizendo:
Aos que amamos não só carnalmente, mas também espiritualmente, aos que estão mortos segundo a carne, não quanto ao espírito, ofereçamos, de modo mais solícito, mais insistente, mais abundante, aqueles bens que, de facto, têm préstimo para os espíritos dos finados: sacrifícios, orações e esmola.
Aprendamos a orar com aqueles que nos procederam na fé, sigamos o exemplo de alguns homens e mulheres que tiveram a intuição da importância de rezar pelas almas do Purgatório.