SEGUNDO PRINCÍPIO DEUS QUER SERVIR-SE DE MARIA NA SANTIFICAÇÃO DAS ALMAS Cap. 22 a 36

SEGUNDO PRINCÍPIO DEUS QUER SERVIR-SE DE MARIA NA SANTIFICAÇÃO DAS ALMAS Cap. 22 a 36
22. O procedimento que as três divinas Pessoas usaram na encarnação e no aparecimento de Jesus é o mesmo sempre de modo invisível na Santa Igreja e será o mesmo até à consumação dos séculos, na última vinda de Cristo. 
23. Deus Pai reuniu todas as águas e chamou-lhes mar; reuniu todas as Suas graças e chamou-lhes Maria. Este grande Senhor tem um tesouro e um cofre riquíssimo em que encerrou tudo aquilo que tem de bom, admirável, raro e precioso, incluindo o Seu próprio Filho; este tesouro infinito é Maria, a quem os santos chamaram tesouro do Senhor e da plenitude d´Ele todos os homens são enriquecidos.
24. Deus Filho comunicou a Sua Mãe tudo o que adquiriu pela Sua vida e morte, os Seus méritos infinitos e as Suas virtudes admiráveis, fazendo-a tesoureira de tudo o que o Seu Pai Lhe deu como herança; é por ela que Ele aplica os Seus méritos aos Seus membros, que comunica as Suas virtudes, distribui as Suas graças; é o Seu canal misericordioso, o Seu aqueduto, por onde faz passar doce e abundantemente as Suas misericórdias. 
25. Deus Espírito Santo comunicou a Maria, Sua fiel Esposa, os Seus inefáveis dons e escolheu-a para dispenseira de tudo o que possui: de modo que ela distribui a quem quer, como quer e quando quer todas as graças e dons, e nenhum dom celeste é concedido aos homens que não passe pelas suas mãos virginais. Pois esta é a vontade de Deus, que tenhamos tudo por Maria; assim será enrequecida, exaltada e honrada pelo Altíssimo aquela que se fez pobre, humilhou e escondeu até ao fundo do nada pela sua humildade, durante toda a vida. São estes os sentimentos da Igreja e dos Santos Padres.
26. Se estivesse a falar dos espíritos fortes do nosso tempo podia provar tudo o que acabo de dizer simples e minuciosamente, com textos da Sagrada Escritura e dos Santos Padres, cujos passos em latim citaria e com todas as sólidas razões que se poderão encontrar pormenorizadamente no padre Poiré no seu livro Tríplice Coroa da Santa Virgem. Contudo, como falo de modo particular aos pobres e aos simples que, estando cheios de boa vontade e tendo mais fé do que o comum dos sábios, acreditam mais simplesmente e com mais mérito, contento-me por isso em lhes expor simplesmente a verdade, sem me deter em citar todos os passos latinos que não compreendem, embora não deixe de citar um ou outro sem demasiada preocupação. Continuemos, pois. 
27. Sendo verdade que a graça aperfeiçoa a natureza e a glória aperfeiçoa a graça, é certo que Nosso Senhor continua no Céu a ser tão bom Filho de Maria como foi na Terra, e que, por consequência, conserva em relação a Sua Mãe a submissão e a obediência do mais perfeito dos Filhos pela melhor das Mães. Todavia, é preciso ter cuidado para não conceber nesta dependência qualquer imperfeição ou como sendo deprimente em relação a Jesus Cristo. Pois Maria, estando infinitamente a baixo de seu Filho que é Deus, não Lhe ordena ao modo das mães da Terra, cujos filhos delas dependem. Maria, estando toda transformada em Deus pela graça e pela glória, que transforma os santos n´Ele, não pede, não quer, nem faz nada que seja contrário à eterna e imutável vontade de Deus. Quando lemos nos escritos de São Bernardo e São Benardino de Sena, de São Boaventura, etc., que no Céu e na Terra tudo, até o próprio Deus, se submete à Santíssima Virgem, eles querem apenas dizer que a autoridade que Deus lhe quis dar é tão grande que parece ter ela o mesmo poder de Deus e as suas preces e pedidos são tão poderosos junto de Deus, que são como ordens para a divina Majestade, pois não resiste aos pedidos da Sua querida Mãe, porque ela é sempre humilde e conformada com a divina vontade.
Se Moisés, pela força da sua oração, suspendeu a cólera de Deus sobre os israelitas, de tal modo que o Altíssimo e misericordiosíssimo Senhor, não podendo resistir-lhe, lhe pedia que O deixasse irar-Se e punir esse povo rebelde, o que deveremos pensar, com mais forte razão, das preces da humilde Virgem Maria, a excelsa Mãe de Deus, cuja intercessão é mais poderosa perante Deus do que as intercessões de todos os anjos e santos do Céu e da Terra?
28. Maria manda no Céu sobre os anjos e os santos. Como recompensa da sua humildade profunda, Deus deu-lhe o poder e o encargo de preencher de santos os tronos vazios que os anjos apóstatas deixaram por orgulho. Esta é a vontade do Altíssimo, que exalta os humildes: que o Céu, a Terra e os infernos, bom ou mau grado, se dobrem ás ordens da humilde Maria, que Ele constituiu soberana do Céu e da Terra, chefe dos Seus exércitos, tesoureira dos Seus bens, dispenseira das Suas graças, obreira dos Seus prodígios, reparadora do género humano, mediadora dos homens, extreminadora dos inimigos de Deus e fiel companheira das Suas grandezas e triunfos. 
29. Deus Pai deseja conseguir os Seus eleitos, os Seus filhos, por intermédio de Maria até ao fim do mundo e diz-lhe estas palavras: In Jacob inhabitat: «reside com Jacob», quer dizer, reside, habita com os Seus filhos e predestinados, figurados por Jacob e não com os reprovados, filhos do Demónio, representados por Esaú.
30. Assim como na geração natural e corporal há um pai e uma mãe, de igual modo na geração sobrenatural e espiritual há um pai, Deus, e uma mãe, Maria. Todos os verdadeiros filhos de Deus e predestinados têm Deus por Pai e Maria por Mãe; aquele que não tem Maria por Mãe, não tem Deus por Pai. Por isso os réprobos, os heréticos e cismáticos, etc., que odeiam ou olham com indiferença para a Santíssima Virgem, não têm a Deus por Pai, embora se gloriem disso, porque não têm Maria por Mãe: pois se a tivessem por Mãe, amá-la-iam e honrariam como os verdadeiros e bons filhos amam e honram naturalmente suas mães, a quem devem a vida. 
O sinal mais infalível e indubitável para conhecer um herético, um homem de má doutrina, um réprobo e um predestinado é este: o herético e o réprobo só têm desprezo e indiferença pela Santíssima Virgem, procurando pela palavra e exemplo diminuir-lhe o culto e o amor, clara ou abertamente e tantas vezes com belos pretextos. Infelizmente, Deus Pai não disse a Maria que habitasse no meio deles, pois são filhos de Esaú.
31. Deus Filho deseja formar e, por assim dizer, encarnar todos os dias, por intermédio de Sua cara Mãe, nos Seus membros e diz-lhe: In Israel hereditare: «Recebe Israel por herança.» Como se dissesse: Deus Pai deu-Me como herança todas as nações da Terra, todos os homens bons e maus, predestinados e réprobos; conduzirei uns com vara de ouro, outros com vara de fogo; serei Pai e advogado de uns, justo vingador dos outros e juiz de todos; mas entrego-vos, querida mãe, como herança e posse os predestinados, representados por Israel; como boa mãe os dareis à luz, alimentareis e criareis; como soberana os governareis, guiareis e defendereis.
32. «Todo o homem lá nasceu»: Homo et homo natus est in ea. Segundo a explicação de alguns padres, o primeiro homem que nasceu de Maria foi o homem Deus, Jesus Cristo; o segundo é um puro homem, filho de Deus e de Maria por adoção. Se Jesus Cristo, o chefe dos homens, nasceu dela, todos os predestinados, membros d´Este chefe, devem nascer igualmente dela, por consequência necessária.
Uma mãe não dá à luz a cabeça ou o chefe sem os membros, nem os membros sem a cabeça; de contrário, teríamos um monstro da natureza; o mesmo se passa na ordem da graça; o chefe e os membros nascem da mesma mãe; se um membro do corpo místico, quer dizer, um predestinado, tivesse nascido de outra mãe diferente da que produziu o chefe, tal não seria predestinado, nem membro de Jesus Cristo, mas um monstro na ordem da graça. 
33. Além disso, sendo Jesus, hoje mais do que nunca, fruto de Maria, como o Céu e a Terra lhe repetem milhões de vezes ao dia: «Bendito o fruto do vosso ventre, Jesus», é certo que Jesus é para cada homem em particular, que O possui, tão verdadeiramente o fruto e a obra de Maria, como para todo o mundo em geral; de modo que qualquer alma fiel a Jesus Cristo, formada no Seu coração, pode dizer ousadamente: «Graças sejam dadas a Maria, pois aquilo que possuo é seu efeito e seu fruto; sem ela não o possuiria.» Podem-se lhe aplicar, com maior verdade, as palavras que São Paulo diz de si: Quos iterum parturio, donec formetur, Christus in vobis: «Meus filhos, sofro novamente como que com dores de parto, até que Cristo esteja formado em vós.» Santo Agostinho, excedendo-se e excedendo tudo o que acabo de dizer, diz que todos os predestinados, para serem conformes à imagem do Filho de Deus, estão neste mundo ocultos no seio da Santíssima Virgem, onde estão defendidos, alimentados e crescem por obra desta boa Mãe, até que ela os dê à luz da glória, depois da morte, que é propriamente o dia do nascimento deles, como a Igreja diz da morte dos justos. Ó mistério de graça desconhecido dos réprobos e pouco conhecido dos predestinados. 
34. Deus Espírito Santo quer formar-se nela e por ela, dizendo-lhe: In electis meis mitte radices. Lança, Minha bem-amada e Minha Esposa, as raízes de todas as virtudes nos Meus eleitos, para que cresçam de virtude em virtude, de graça em graça. Quanta complacência senti, quando vivias sobre a Terra na prática das mais sublimes virtudes, que desejo ainda encontrar-te sobre a Terra, sem deixar o Céu. Reproduz, portanto, nos Meus eleitos essas virtudes: que eu veja nelas, com a mesma complacência, a tua fé invencível, a tua profunda humildade, a tua mortificação mortal, a tua sublime oração, a tua caridade ardente, a tua firme esperança, numa palavra, todas as tuas virtudes. Continuas a ser, como sempre, a Minha Esposa fiél, cada vez mais fecunda: que a tua fé Me dê virgens que se consagrem a Deus, que a tua fecundidade Me dê eleitos e templos. 
35. Quando Maria lança raízes numa alma, produz nela maravilhas da graça, maravilhas que só ela é capaz de produzir, pois ela é a única Virgem fecunda, sem igual em pureza e fecundidade. 
Maria produziu, com o Espírito Santo, a coisa maior que existiu ou existirá, o homem Deus, e produzirá, por consequência, as maiores coisas que existirão nos últimos tempos. A formação e a educação dos grandes santos, que surgirão no fim do mundo, pertencem-lhe; pois ninguém como esta Virgem singular e miraculosa pode produzir, em união com o Espírito Santo, coisas singulares e extraordinárias.
36. Quando o Espírito Santo, Seu esposo, a vê numa alma, acorre imediatamente, entra plenamente e comunica-Se a essa alma abundantemente, tanto quanto ela der lugar à Sua Esposa; uma das razões por que o Espírito Santo não produz agora maravilhas extraordinárias nas almas é porque não as encontra em grande união com a Sua fiel e indissolúvel esposa, pois desde que este amor substancial do Pai e do Filho desposou Maria para produzir Jesus Cristo nos eleitos, nunca a repudiou porque ela foi sempre fiel e fecunda. 
22. O procedimento que as três divinas Pessoas usaram na encarnação e no aparecimento de Jesus é o mesmo sempre de modo invisível na Santa Igreja e será o mesmo até à consumação dos séculos, na última vinda de Cristo. 
 
23. Deus Pai reuniu todas as águas e chamou-lhes mar; reuniu todas as Suas graças e chamou-lhes Maria. Este grande Senhor tem um tesouro e um cofre riquíssimo em que encerrou tudo aquilo que tem de bom, admirável, raro e precioso, incluindo o Seu próprio Filho; este tesouro infinito é Maria, a quem os santos chamaram tesouro do Senhor e da plenitude d´Ele todos os homens são enriquecidos.
 
24. Deus Filho comunicou a Sua Mãe tudo o que adquiriu pela Sua vida e morte, os Seus méritos infinitos e as Suas virtudes admiráveis, fazendo-a tesoureira de tudo o que o Seu Pai Lhe deu como herança; é por ela que Ele aplica os Seus méritos aos Seus membros, que comunica as Suas virtudes, distribui as Suas graças; é o Seu canal misericordioso, o Seu aqueduto, por onde faz passar doce e abundantemente as Suas misericórdias. 
 
25. Deus Espírito Santo comunicou a Maria, Sua fiel Esposa, os Seus inefáveis dons e escolheu-a para dispenseira de tudo o que possui: de modo que ela distribui a quem quer, como quer e quando quer todas as graças e dons, e nenhum dom celeste é concedido aos homens que não passe pelas suas mãos virginais. Pois esta é a vontade de Deus, que tenhamos tudo por Maria; assim será enrequecida, exaltada e honrada pelo Altíssimo aquela que se fez pobre, humilhou e escondeu até ao fundo do nada pela sua humildade, durante toda a vida. São estes os sentimentos da Igreja e dos Santos Padres.
 
26. Se estivesse a falar dos espíritos fortes do nosso tempo podia provar tudo o que acabo de dizer simples e minuciosamente, com textos da Sagrada Escritura e dos Santos Padres, cujos passos em latim citaria e com todas as sólidas razões que se poderão encontrar pormenorizadamente no padre Poiré no seu livro Tríplice Coroa da Santa Virgem. Contudo, como falo de modo particular aos pobres e aos simples que, estando cheios de boa vontade e tendo mais fé do que o comum dos sábios, acreditam mais simplesmente e com mais mérito, contento-me por isso em lhes expor simplesmente a verdade, sem me deter em citar todos os passos latinos que não compreendem, embora não deixe de citar um ou outro sem demasiada preocupação. Continuemos, pois. 
 
27. Sendo verdade que a graça aperfeiçoa a natureza e a glória aperfeiçoa a graça, é certo que Nosso Senhor continua no Céu a ser tão bom Filho de Maria como foi na Terra, e que, por consequência, conserva em relação a Sua Mãe a submissão e a obediência do mais perfeito dos Filhos pela melhor das Mães. Todavia, é preciso ter cuidado para não conceber nesta dependência qualquer imperfeição ou como sendo deprimente em relação a Jesus Cristo. Pois Maria, estando infinitamente a baixo de seu Filho que é Deus, não Lhe ordena ao modo das mães da Terra, cujos filhos delas dependem. Maria, estando toda transformada em Deus pela graça e pela glória, que transforma os santos n´Ele, não pede, não quer, nem faz nada que seja contrário à eterna e imutável vontade de Deus. Quando lemos nos escritos de São Bernardo e São Benardino de Sena, de São Boaventura, etc., que no Céu e na Terra tudo, até o próprio Deus, se submete à Santíssima Virgem, eles querem apenas dizer que a autoridade que Deus lhe quis dar é tão grande que parece ter ela o mesmo poder de Deus e as suas preces e pedidos são tão poderosos junto de Deus, que são como ordens para a divina Majestade, pois não resiste aos pedidos da Sua querida Mãe, porque ela é sempre humilde e conformada com a divina vontade.
Se Moisés, pela força da sua oração, suspendeu a cólera de Deus sobre os israelitas, de tal modo que o Altíssimo e misericordiosíssimo Senhor, não podendo resistir-lhe, lhe pedia que O deixasse irar-Se e punir esse povo rebelde, o que deveremos pensar, com mais forte razão, das preces da humilde Virgem Maria, a excelsa Mãe de Deus, cuja intercessão é mais poderosa perante Deus do que as intercessões de todos os anjos e santos do Céu e da Terra?
 
28. Maria manda no Céu sobre os anjos e os santos. Como recompensa da sua humildade profunda, Deus deu-lhe o poder e o encargo de preencher de santos os tronos vazios que os anjos apóstatas deixaram por orgulho. Esta é a vontade do Altíssimo, que exalta os humildes: que o Céu, a Terra e os infernos, bom ou mau grado, se dobrem ás ordens da humilde Maria, que Ele constituiu soberana do Céu e da Terra, chefe dos Seus exércitos, tesoureira dos Seus bens, dispenseira das Suas graças, obreira dos Seus prodígios, reparadora do género humano, mediadora dos homens, extreminadora dos inimigos de Deus e fiel companheira das Suas grandezas e triunfos. 
 
29. Deus Pai deseja conseguir os Seus eleitos, os Seus filhos, por intermédio de Maria até ao fim do mundo e diz-lhe estas palavras: In Jacob inhabitat: «reside com Jacob», quer dizer, reside, habita com os Seus filhos e predestinados, figurados por Jacob e não com os reprovados, filhos do Demónio, representados por Esaú.
 
30. Assim como na geração natural e corporal há um pai e uma mãe, de igual modo na geração sobrenatural e espiritual há um pai, Deus, e uma mãe, Maria. Todos os verdadeiros filhos de Deus e predestinados têm Deus por Pai e Maria por Mãe; aquele que não tem Maria por Mãe, não tem Deus por Pai. Por isso os réprobos, os heréticos e cismáticos, etc., que odeiam ou olham com indiferença para a Santíssima Virgem, não têm a Deus por Pai, embora se gloriem disso, porque não têm Maria por Mãe: pois se a tivessem por Mãe, amá-la-iam e honrariam como os verdadeiros e bons filhos amam e honram naturalmente suas mães, a quem devem a vida. 
O sinal mais infalível e indubitável para conhecer um herético, um homem de má doutrina, um réprobo e um predestinado é este: o herético e o réprobo só têm desprezo e indiferença pela Santíssima Virgem, procurando pela palavra e exemplo diminuir-lhe o culto e o amor, clara ou abertamente e tantas vezes com belos pretextos. Infelizmente, Deus Pai não disse a Maria que habitasse no meio deles, pois são filhos de Esaú.
 
31. Deus Filho deseja formar e, por assim dizer, encarnar todos os dias, por intermédio de Sua cara Mãe, nos Seus membros e diz-lhe: In Israel hereditare: «Recebe Israel por herança.» Como se dissesse: Deus Pai deu-Me como herança todas as nações da Terra, todos os homens bons e maus, predestinados e réprobos; conduzirei uns com vara de ouro, outros com vara de fogo; serei Pai e advogado de uns, justo vingador dos outros e juiz de todos; mas entrego-vos, querida mãe, como herança e posse os predestinados, representados por Israel; como boa mãe os dareis à luz, alimentareis e criareis; como soberana os governareis, guiareis e defendereis.
 
32. «Todo o homem lá nasceu»: Homo et homo natus est in ea. Segundo a explicação de alguns padres, o primeiro homem que nasceu de Maria foi o homem Deus, Jesus Cristo; o segundo é um puro homem, filho de Deus e de Maria por adoção. Se Jesus Cristo, o chefe dos homens, nasceu dela, todos os predestinados, membros d´Este chefe, devem nascer igualmente dela, por consequência necessária.
Uma mãe não dá à luz a cabeça ou o chefe sem os membros, nem os membros sem a cabeça; de contrário, teríamos um monstro da natureza; o mesmo se passa na ordem da graça; o chefe e os membros nascem da mesma mãe; se um membro do corpo místico, quer dizer, um predestinado, tivesse nascido de outra mãe diferente da que produziu o chefe, tal não seria predestinado, nem membro de Jesus Cristo, mas um monstro na ordem da graça. 
 
33. Além disso, sendo Jesus, hoje mais do que nunca, fruto de Maria, como o Céu e a Terra lhe repetem milhões de vezes ao dia: «Bendito o fruto do vosso ventre, Jesus», é certo que Jesus é para cada homem em particular, que O possui, tão verdadeiramente o fruto e a obra de Maria, como para todo o mundo em geral; de modo que qualquer alma fiel a Jesus Cristo, formada no Seu coração, pode dizer ousadamente: «Graças sejam dadas a Maria, pois aquilo que possuo é seu efeito e seu fruto; sem ela não o possuiria.» Podem-se lhe aplicar, com maior verdade, as palavras que São Paulo diz de si: Quos iterum parturio, donec formetur, Christus in vobis: «Meus filhos, sofro novamente como que com dores de parto, até que Cristo esteja formado em vós.» Santo Agostinho, excedendo-se e excedendo tudo o que acabo de dizer, diz que todos os predestinados, para serem conformes à imagem do Filho de Deus, estão neste mundo ocultos no seio da Santíssima Virgem, onde estão defendidos, alimentados e crescem por obra desta boa Mãe, até que ela os dê à luz da glória, depois da morte, que é propriamente o dia do nascimento deles, como a Igreja diz da morte dos justos. Ó mistério de graça desconhecido dos réprobos e pouco conhecido dos predestinados. 
 
34. Deus Espírito Santo quer formar-se nela e por ela, dizendo-lhe: In electis meis mitte radices. Lança, Minha bem-amada e Minha Esposa, as raízes de todas as virtudes nos Meus eleitos, para que cresçam de virtude em virtude, de graça em graça. Quanta complacência senti, quando vivias sobre a Terra na prática das mais sublimes virtudes, que desejo ainda encontrar-te sobre a Terra, sem deixar o Céu. Reproduz, portanto, nos Meus eleitos essas virtudes: que eu veja nelas, com a mesma complacência, a tua fé invencível, a tua profunda humildade, a tua mortificação mortal, a tua sublime oração, a tua caridade ardente, a tua firme esperança, numa palavra, todas as tuas virtudes. Continuas a ser, como sempre, a Minha Esposa fiél, cada vez mais fecunda: que a tua fé Me dê virgens que se consagrem a Deus, que a tua fecundidade Me dê eleitos e templos. 
 
35. Quando Maria lança raízes numa alma, produz nela maravilhas da graça, maravilhas que só ela é capaz de produzir, pois ela é a única Virgem fecunda, sem igual em pureza e fecundidade. 
Maria produziu, com o Espírito Santo, a coisa maior que existiu ou existirá, o homem Deus, e produzirá, por consequência, as maiores coisas que existirão nos últimos tempos. A formação e a educação dos grandes santos, que surgirão no fim do mundo, pertencem-lhe; pois ninguém como esta Virgem singular e miraculosa pode produzir, em união com o Espírito Santo, coisas singulares e extraordinárias.
 
36. Quando o Espírito Santo, Seu esposo, a vê numa alma, acorre imediatamente, entra plenamente e comunica-Se a essa alma abundantemente, tanto quanto ela der lugar à Sua Esposa; uma das razões por que o Espírito Santo não produz agora maravilhas extraordinárias nas almas é porque não as encontra em grande união com a Sua fiel e indissolúvel esposa, pois desde que este amor substancial do Pai e do Filho desposou Maria para produzir Jesus Cristo nos eleitos, nunca a repudiou porque ela foi sempre fiel e fecunda.