“São Miguel Arcanjo, oferecei nossas orações ante os olhos do Altíssimo, para conseguir com elas a misericórdia do Senhor; e, derrotando o dragão, a serpente antiga, encerrai-o uma vez mais no abismo, para que não seduza nunca mais as nações. Amém!”
(Fonte: Quaresma de São Miguel Arcanjo 2020 – Ed. Paulus)
É possível passar por este mundo sem pecado? Quando olhamos a nossa volta e para nós mesmos, para nós é impossível passar por este mundo sem cometer um único pecado. E, de fato, para nós isso é impossível! Isso quem disse foi Nosso Senhor, quando os discípulos perguntaram a Ele “Quem, pois, poderá salvar-se?” (Mt 19, 25).
“Olhando bem para eles, Jesus lhes disse: ‘Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível’.” (Mt 19, 26). Não existe meias palavras para o que Jesus diz. Se Ele disse “tudo” é porque é TUDO mesmo. Então, é sim possível o ser humano passar neste mundo sem pecado. Principalmente após uma mudança de vida quando “enterramos o homem velho” e damos vida ao Novo Homem, em Cristo. Mas isso somente com a Graça de Deus, por Deus com Deus e em Deus. Por Cristo, com Cristo e em Cristo.
Sim, é raro, mas existem também aqueles que foram preservados de cometer pecado durante sua vida. São Graças Extraordinárias, para glorificarmos a Deus com cada vez mais intensidade e encher-nos de Esperança. Repare que disse “preservados de cometer pecado”, ou seja, Deus que, por graça, preservou-os. A Virgem Maria é o máximo exemplo de que para Deus é possível que um ser humano possa passar pelo mundo sem cometer pecado. Temos ainda outros santos como Santa Teresa D’Ávila, Santa Teresinha do Menino Jesus e São Padre Pio que nunca cometeram um único pecado mortal, talvez até nunca tenham cometido sequer pecado venial.
Mas… isso são Graças Extraordinárias. E nós? Como disse Jesus, para Deus TUDO é possível. Ele pode sim apagar os nossos pecados de “Sua Memória”. E, no Sangue de Cristo, todos os nossos pecados são perdoados e nossas “vestes” são lavadas, se tornando brancas como a neve. Então, não desanimemos!
O que não falta na história da Igreja são exemplos de pecadores, dos mais vis, que se tornaram grandes santos. São Paulo perseguiu os cristãos e se tornou apóstolo e uma das colunas da Igreja. Santo Agostinho tinha uma vida devassa e extremamente suja e se tornou um dos maiores Doutores da Igreja. São inúmeros , mas trarei apenas 3 exemplos do Evangelho.
O primeiro, é São Mateus (Levi) que de pecador público se tornou apóstolo de Jesus e evangelista.
“Jesus saiu e viu um publicano, chamado Levi, sentado no posto de arrecadação. Disse-lhe: ‘Segue-me’. Ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu. Depois, Levi preparou-lhe um grande banquete em sua casa. Lá estava um grande número de publicanos e de outras pessoas, sentadas à mesa com eles. Os fariseus e seu escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus dizendo: ‘Porque comeis e bebeis com os publicanos e com os pecadores?’. Jesus respondeu: ‘Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes. Não vim chamar os justos, mas pecadores ao arrependimento’.” (Lc 5, 27-32)
A Graça de Deus é tão penetrante que bastou Jesus olhar e dizer “Segue-me!” para Mateus (Levi) deixar tudo e seguir Jesus. Deixou tudo para trás. Mateus era muito rico e, diferente do “Jovem Rico” (que já refletimos aqui), abandonou tudo para seguir Jesus, vendeu suas riquezas, deu aos pobres e seguiu Jesus. E não quis ir sozinho. Fez um banquete e levou muitos com ele. E, para representar a “morte do homem velho” e o “surgir do novo homem” tem seu nome trocado, matando Levi e surgindo Mateus.
Essa passagem das Escrituras é importante para nos mostrar que Jesus não olha para o passado da pessoa quando o assunto é Misericórdia, Salvação. Basta a pessoa querer e se levantar (agir) para sair do pecado que Ele vem e te estende a mão. Jesus deixa claro a razão de ter vindo ao mundo. Mostrou o para que Deus se fez homem e habitou entre nós.
“Não vim chamar os justos, mas pecadores ao arrependimento”, disse aos fariseus. No Evangelho de São Mateus, Jesus é ainda mais enfático: “Ide, pois, aprender o que significa: ‘Misericórdia eu quero, não sacrifícios’. Com efeito, não vim chamar justos, mas pecadores” (Mt 9, 13). Ou seja, Ele não quer sacrificar, perder ninguém. Ele quer salvar e não sacrificar no fogo eterno.
Falando em sacrifício, isto nos lembra a passagem do Evangelho de João (muito famosa e muito usada indevidamente e fora de contexto) da adúltera que os fariseus iam sacrificar, apedrejar, e Jesus apenas mexendo os dedos na terra e falando poucas palavras fez muitos desistirem.
“Então os escribas e os fariseus trouxeram uma mulher flagrada em adultério. Colocando-a no meio, disseram a Jesus: ‘Mestre, esta mulher foi flagrada em adultério. Moisés, na Lei, nos mandou apedrejar tais mulheres. E tu, que dizes?’. Eles perguntaram isso para pô-lo à prova e ter motivo para acusa-lo. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. Como insistissem em perguntar, Jesus ergueu-se e disse: ‘Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!’; e, inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. Ao ouvirem isso, foram saindo um por um, a começar pelos mais velho. Jesus ficou sozinho com a mulher, que continuava no meio, em pé. Erguendo-se, Jesus lhe disse: ‘Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?’. Ela respondeu: ‘Ninguém, Senhor!’. Jesus, então, lhe disse: ‘Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais’.” (Jo 8, 3-11)
“Eu também não te condeno”, ou seja, o Sumo Juiz absolveu a adúltera, apagou os pecados dela. Mas, tem um trecho muito importante e que muitos “esquecem”: “Vai, e de agora em diante não peques mais”. Ou seja, Cristo nos dá a graça do perdão, nos dá inúmeras graças para nos preservarmos limpos, mas permanecer sem pecado é decisão nossa. “Vai”, você está liberta. Mas, não se escravize novamente, “de agora em diante não peques mais”.
E para aqueles que já perderam as contas de quantos pecados graves já cometeu a ponto de todos saberem quais são seus pecado? O chamado “pecador público”, o pecador descarado (me desculpe a palavra), o pecador que além dos próprios pecados, pode estimular outros a pecarem (ser pedra de tropeço, escândalo), tem jeito?
O terceiro exemplo que trago do Evangelho trata disso:
“Um fariseu convidou Jesus para a refeição. Ele entrou na casa do fariseu e sentou-se à mesa. Havia na cidade uma mulher, que era pecadora. Quando soube que Jesus estava na casa do fariseu, ela trouxe um frasco de alabastro, cheio de perfume. Postou-se atrás, aos pés de Jesus e, chorando, começou a lavá-los com suas lágrimas. Depois, enxugava-os com seus cabelos, beijava-os e os ungia com perfume.
Ao ver isso, o fariseu que o tinha convidado falou consigo mesmo: ‘Se esse homem fosse profeta, saberia quem é a mulher que o toca: é uma pecadora!’. Então Jesus lhe dirigiu a palavra: ‘Simão, tenho algo para te dizer’. Ele respondeu: ‘Fala, Mestre’. ‘Certo credor’, retornou Jesus, ‘tinha dois devedores. Um lhe devia quinhentos denários e outro cinquenta. Como não tivessem com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles o amará mais?’. Simão respondeu: ‘Aquele ao qual perdoou mais’. Jesus lhe disse: ‘Julgaste corretamente’. Voltando-se para a mulher, disse a Simão: ‘Está vendo esta mulher? Quando entrei na tua casa, não me ofereceste água para lavar os pés; ela, porém, lavou meus pés com lagrimas e os enxugou com seus cabelos. Não me destes o beijo; ela, porém, desde que cheguei, não parou de beijar meus pés. Não derramaste óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu os meus pés com perfume. Por isso te digo: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, pois ela mostrou muito amor. Aquele, porém, a quem pouco se perdoa, pouco ama’. Em seguida, disse a mulher: ‘Teus pecados estão perdoados’. Os convidados começaram a comentar entre si: ‘Quem é esse que até perdoa pecados?’. E Jesus disse à mulher: ‘Tua fé te salvou. Vai em paz!’.” (Lc 7, 36-50)
Evangelho longo e belíssimo que retrata a ação abundante daqueles que muito pecaram, se converteram e têm muito remorso por tudo que fez. A consciência pesa muito e a vontade é de reparar tudo de forma abundante. E, quanto mais passamos a amar aquele que outrora ofendemos, maior o nosso remorso e a vontade (diria até, necessidade sente) de reparar.
Mas, o perdão de Nosso Senhor é libertador. E o arrependimento sincero, na fé em Jesus e Sua Infinita Misericórdia, salva. Livra do remorso. Deixa o coração livre, leve, tranquilo. “Vai em paz!” diz Jesus àqueles que têm seus numerosos pecados perdoados. O arrependimento nos obtém a paz e o propósito de nunca mais pecar (ofender). Além de nos livrar do remorso.
Que possamos ter a imensa Graça de um arrependimento sincero e que possamos chorar amargamente os nossos pecados para que as lágrimas sejam como as lágrimas passadas em Jesus que lava todos os nossos pecados, nos fazendo amar muito mais, cada vez mais, Nosso Senhor.
São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate afastando de nós o tentador para que possamos Amar Muito e Muito Ser Perdoado.